Pierre Aderne está de volta ao panorama musical com um novo álbum de originais – “Água Doce” - que vem juntar-seaos anteriores “Casa de Praia” e “Alto Mar”, concluindo assim a “Trilogia das águas”.

Foi no âmbito do Festival Cooljazzfest, onde Pierre Aderne deu um concerto recentemente, que o Palco Principal conversou com o artista.

Palco Principal - Como foi regressar a Portugal, onde tinha estado, pela última vez, no ano passado, no âmbito do Douro Film Harvest Festival?

Pierre Aderne -Foi como entrar,novamente, dentro de um dos livros que mais gosto.

PP - É filho de pais com diferentes nacionalidades e, apesar de ter nascido num país europeu, vive, actualmente, no Brasil. Como é que esta multiculturalidade o influencia na composição das suas músicas?

PA - Carrego comigo um pedacinho de cada lugar em que já estive, cada ritmo, cada pulsação, cada cor. Todos estes pedacinhos acabaram por me formar enquanto artista. A minha música acaba por ser o resultado dessa mistura.

PP - Contas, nos teus trabalhos, com a colaboração de diversos artistas de diferentes países, tais como o percussionista japonês Satoshi Takeishi, a francesa Madeleine Peyroux, o saxofonista americano Andrew Sterman, entre outros. Como é conviver e trabalhar com artistas tão distintos musicalmente?

PA - Os artistas com quem colaboro, apesar de serem de paíes diferentes, pertencem a uma mesma tribo - uma tribo que se comunica sem problemas. Além disso, a diversidade é justamente o que me interessa na música.

PP - Quais são as suas grandes referências artísticas?

PA - João Gilberto, Tom e Vinícius são as minhas principais referências artísticas, sem dúvida.

PP - Como pretende marcar a diferença no panorama musical brasileiro? O que tenciona trazer de novo para a música brasileira?

PA - Ser igual é um crime! Por isso pretendo trazer uma música que tenha o meu olhar do mundo, das coisas e das pessoas. Nem pior, nem melhor, apenas diferente.

PP - Como explica o seu grande sucesso no Japão, onde vende milhares de discos?

PA - O povo japonês é um povo que escuta mais do que fala, é um povo que vai ao fundo do conteúdo. Talvez por isso acabe por se interessar por uma música que não é mais do mesmo.

PP - Como surgiu a ideia da composição da "Triologia das Águas"?

PA - A "Triologia das Águas" foi surgindo no meio da viagem dos álbuns. Quando me dei conta, já estava a contruir "Água Doce" - um processo pouco programado.

PP - Comotêm reagido os seus fãsao álbum "Água Doce", após os seus trabalhos anteriores terem conquistado críticas tão favoráveis?

PA - Têm-se mostrado bastante curiosos, até porque é um álbum que teve bastante exposição.

PP - Neste seu último álbum, restringiu as colaborações a vozes femininas. O que motivou essa opção?

PA - Acima de tudo por se tratar de um disco bastante feminino, frágil até.

PP - Como surgiu o tema Fado do Barco, em colaboração com Cuca Roseta? O Fado inquieta-o?

PA - O Fado é, para mim, sexo com amor. E a Cuca é uma das melhores cantoras do mundo. O tema Fado dos Barcos fala de amores que vêm e vão, faz-me lembrar a Nazaré, os mares da minha adolescência.

PP - Tem pisado os palcos de inúmeros países. Qual a sua opinião sobre o público português?

PA - É um público atento, espontâneo, bastante sincero.

PP - Quer deixar algumas palavras para os seus fãs de Portugal?

PA - Entrem na minha caravela e, se tiverem sede, bebam a minha água.

Ana Cláudia Silva