Ainda o Futebol Clube do Porto se debatia com o Barcelona para a Supertaça Europeia de futebol, quando as poucas pessoas que ocupavam os recantos junto ao Palco 1, cujos ecrãs laterais transmitiam o jogo, foram convidadas a deslocarem-se para o Palco Ritual, onde os Dan Riverman, apresentados como uma "banda indie com elementos do Porto e de Santo Tirso", deram a primeira atuação da noite.

O público foi-se aglomerando em frente à Concha Acústica (assim chamada a estrutura que tem vindo a servir de palco secundário ao evento), à medida que se desenrolou o concerto, onde se destacaram a balada Sea and the Breeze e uma versão de I Just Called To Say I Love You, de Stevie Wonder. Dan Alves, vocalista, com um registo a fazer lembrar Liam MacKahey (Cousteau) ou Scott Walker, admitiu cumprir uma vontade antiga ao integrar o cartaz do festival que sempre frequentou.

Com Dá-me a Tua Melhor Faca, André Henriques (guitarra), Cláudia Guerreiro (baixo), Hélio Morais (bateria) e Pedro Geraldes (guitarra) inauguraram o palco principal. Também de "Olhos de Mongol" (2006), pôde escutar-se Cronófago e O Amor é Não Haver Polícia, uma frase que, curiosamente, se encontra grafitada não muito longe do recinto, ao cimo da Rua da Torrinha.

Descargas rock pontuadas por letras de uma sinceridade crua e desarmante, repetidas corajosamente pelo público, marcaram a atuação dos Linda Martini. Amor Combate, doEP homónimo (2005), por exemplo, foi entoado do início ao fim. Do álbum "Casa Ocupada" (2009) tocaram Nós os Outros, Juventude Sónica, Belarmino e Cem Metros Sereia.

Os dois últimos temas foram dedicados ao road manager , na última noite de trabalho com os Linda Martini, que acabou por subir ao palco e cantar com a banda. Este momento especial partilhado com a assistência fechou a atuação, demasiado curta, principalmente tendo em conta as já habituais filas à entrada que impedem que muitos cheguem a tempo dos primeiros concertos.

We Trust, projeto do realizador André Tentúgal, que se faz acompanhar ao vivo por Rui Maia e Nuno Sarafa (X-Wife), Gil Amado (Long Way To Alaska), João André (Bandemónio) e Sérgio Freitas (Zany Dislexic Band), atraiu muitos curiosos até ao Palco Ritual. Time (Better Not Stop), single de álbum ainda por lançar, bastante difundido por algumas rádios nacionais, terá sido o grande responsável pela afluência. Apesar de ter sido o momento que terá deixado o público mais entusiasmado, o concerto manteve-se num registo similar, dançável e animado.

FInalizada a atuação, Rui Maia (teclas) e Nuno Sarafa (bateria) não tiveram oportunidade para grande descanso. Ao lado de João Vieira (voz e guitarra) e Fernando Sousa (baixo) seguiu-se, no Palco 1, a actuação dos X-Wife. "Infectious Affectional" (2011), o novo álbum assumidamente inspirado no disco dos anos 70 e nas incursões pelo estilo feitas por bandas como os Blondie ou os Talking Heads, fazia antever uma prestação eletrizante.

Foi precisamente com este disco que optaram por abrir e fechar o espetáculo. Entre I Live Abroad e That's Right ouviram-se Long Distance, Wonderman - "música sobre um empregado de escritório" - e ainda a transição de uma tema onde se repete a palavra "dance" (Little Love) para outro que incita a dançar (Keep On Dancing), como ressalvou o próprio João Viera. O rock nem por isso foi posto de parte, tendo sido repescados aos trabalhos anteriores Eno, Ping Pong, Realize, Heart of the World, Fireworks e On The Radio, onde o rock toma lugar, embora ainda que com uma componente eletrónica bastante definida.

A estreia em língua portuguesa na Concha Acústica dos Jardins do Palácio de Cristal deu-se com os Guta Naki, que apresentaram o álbum com o mesmo nome, editado pela Meifumado. Bases pop frecas onde se misturam jogos de palavras e conceitos, como em Novo Mundo e Margarida, pareceram cativar o público, agradavelmente surpreendido com este trio e com a presença contagiante de Cátia Pereira.

Os Zen, recentemente reunidos para uma série de concertos após um interregno de vários anos, foram a grande aposta da primeira noite do festival. Mesmo antes da hora prevista, a área circundante do Palco 1 já se encontrava bem preenchida. Gerações distintas asseguraram lugar para a quarta atuação dos "renovados" Zen, banda funck rock da cidade do Porto, autora do emblemático "The Priviledge Of Making The Wrong Choice" (1998), um dos discos nacionais mais relevantes do final da década de 90. 11:AM, o tema mais aguardado, que ficou quase para o fim, foi antecipado Redogs, Trouble Man, Mass, Time Cross Flow, Step On e Not Gona Give Up.

Desde a entrada em cena que ficou bem clara, por parte da banda, uma vontade imensa em estar em palco, com o vocalista em constante comunicação com o público. Rui Sillva manteve a energia ao longo da atuação, apesar de um primeiro crowd surfing mal concretizado que, devido à falta de seguranças no fosso entre o palco e o público, resultou numa queda aparatosa. Rui Silva nem assim se deixou demover, repetindo a proeza no final da performance.

Anunciada como a grande novidade da 20ª edição das Noites Ritual, a iniciativa "Ritual Late Night Dj's" deu a oportunidade aos festivaleiros de permanecerem até de manhã no Pavilhão Rosa Mota. A animação desta noite esteve a cargo de Beatbender e Dj Kitten.

Fora de palco

A programação do festival não se ficou, mais uma vez, pelas atuações em palco.
No âmbito da performance, para além do espetáculo multimédia "Sinergias", decorrido na Capela Carlos Alberto, circulava no recinto o triciclo adaptado que transporta Miss E@sy, banda cómica e teatral.

Paralelamente, a Sala Vip do Pavilhão Rosa Mora acolheu este ano a exposição comemorativa dos 25 anos de carreira de António Melão, fotógrafo oficial do evento, mais conhecido por "Cameraman Metálico"

Na Avenida das Tílias, teve lugar a já habitual "feira alternativa", com a venda de merchandising, artesanato urbano e artigos vintage.

Texto: Ariana Ferreira

Fotografias: Filipa Oliveira