Referência incontornável da música moderna brasileira, Milton Nascimento atua sexta-feira e sábado em Lisboa, com a portuguesa Carminho, jovem fadista com quem tem feito diversas colaborações no último ano, em Portugal e no Brasil.

"Agora tem uma porta aberta no coração das pessoas, para outros tipos de música. Graças a Deus faço parte disso também", disse, na entrevista à Lusa.

Sobre os músicos portugueses que acompanha, além de Carminho, prefere não os nomear, para não "esquecer alguém", mas garante que há "muita gente boa" com quem quer trabalhar, e "não só de Portugal".

A colaboração com a jovem fadista Carminho começou no ano passado, quando Milton veio a Lisboa para um concerto com uma orquestra e três cantores. Carminho, que até então desconhecia, surpreendeu-o com a interpretação do seu tema "Encontros e Despedidas", que só tinha sido gravado por brasileiros. "Deixou o meu coração quase aos pedaços, de tanta beleza que botou na interpretação dela", disse o músico brasileiro, que completou 70 anos em 2012.

Após o encontro, convidou Carminho para uma digressão por várias cidades brasileiras, comemorando os seus 50 anos de carreira, e gravou um dueto ("Cais") para o novo álbum de Carminho ("Alma"), lançado no final de 2012.

A propósito do Ano do Brasil em Portugal, os já esgotados concertos do próximo fim de semana, com a banda de Milton e músicos de Carminho, consistirão de alguns temas que já cantaram juntos no ano passado, outros novos, e o brasileiro"vai certamente com muita sabedoria entrar no mundo do fado", afirmou a fadista, que descreve com entusiasmo a "aprendizagem imensa" deste "encontro".

"Cada momento que se está ao pé deste senhor, deste grande génio da música do mundo, o quanto se aprende a cada coisa que ele diz, cada canção que nos mostra. Nunca é igual, nunca canta da mesma maneira e isso faz com que me identifique também muito com ele", disse a fadista. "Tou saindo ganhando", disse Carminho a Milton, com sotaque brasileiro, entre risos.

Para Carminho, a forma como referências desta geração, como Seu Jorge, Marisa Monte ou Roberta Sá, têm sabido inovar debaixo do "peso" da anterior, da qual faz parte Milton, Chico Buarque, Caetano Veloso ou João Gilberto, é um exemplo para os jovens fadistas. "Quando existe uma geração muito forte, que produziu muito, a geração que vem a seguir vê-se em alguns trabalhos e acho que realmente eles estão a ser muito felizes nos seus percursos, são muito inspiradores", afirmou.

Depois de ter gravado duetos também com Chico Buarque e Nana Caymmi, e de ter apresentado o seu disco no Brasil, a fadista mostra-se rendida ao "carinho e apoio de pessoas admiradas na música" do outro lado do Atlântico. "Há uma recetividade que sinto que está a começar a haver cada vez mais da parte dos brasileiros na nossa cultura. Não senti qualquer resistência e só tenho boas notícias, boas experiências", disse à Lusa.

O regresso ao Brasil está marcado para 4 e 5 de fevereiro, seguindo-se um concerto na abertura do Carnaval do Recife, ao lado de Naná Vasconcelos. "Sabia? Sabia que eu ia fazer isso?", perguntou a fadista a Milton, novamente com sotaque brasileiro. "Não. Sabia que vou também?", respondeu o músico brasileiro. "Se calhar vai dar para a gente fazer qualquer coisa", exclamou Carminho.

@SAPO/Lusa