Em março, o saxofonista sofreu um colapso ao regressar de atuações em Varsóvia e Londres, que implicou reanimação e cuidados intensivos, o que o afastou dos palcos nesse momento, de acordo com uma publicação na rede social Facebook.
O músico passou por Portugal múltiplas vezes nas últimas décadas, tendo chegado a gravar um disco com os portugueses Black Bombaim, em 2016.
A discografia de Brötzmann é tão extensa como a lista de músicos com quem tocou, indo de Evan Parker a Anthony Braxton, Keiji Haino ou Ronald Shannon Jackson, Sonny Sharock e Bill Laswell, com quem formou o grupo Last Exit, para além do filho, o também músico Caspar Brötzmann.
Brötzmann nasceu em 1941 em Remscheid, onde cresceu, estudou pintura em Wuppertal e trabalhou como assistente de Nam June Paik, um dos maiores nomes do grupo de arte Fluxus, mas desencantou-se com o mundo da arte visual, como indicam várias biografias do músico.
“No entanto, não abandonou a sua formação artística. Brötzmann desenhou a maioria das capas dos seus discos. Aprendeu sozinho a tocar vários clarinetes e, mais tarde, saxofones”, pode ler-se num texto da rádio WKCR, da universidade nova-iorquina de Colúmbia, aquando da publicação de uma entrevista conjunta com Hamid Drake.
Ainda no liceu em Remscheid, onde havia uma banda de ‘swing’, Brötzmann começou a experimentar o clarinete, como contou numa entrevista-palestra de 2018 na Red Bull Academy, em Berlim: “Estava a dar com os meus pais e vizinhos em malucos. Mas tudo começou em Remscheid porque tínhamos a banda de ‘swing’/bebop já com alguns estudantes avançados da escola Folkwang, em Essen. Então juntava-me a eles de quando em quando com o meu clarinete, e não me mandaram para casa. Comecei em digressão com eles e, depois, claro, um dia disseram: ‘OK, Brötzmann, precisas de um saxofone’”.
Nessa conversa, Brötzmann destaca a importância de Nam June Paik na sua vida, partindo daí para o conhecimento de artistas como Joseph Beuys, enquanto o compositor Karlheinz Stockhausen estava a estabelecer-se em Colónia.
Na década de 1960, em que lançou o marcante “Machine Gun”, ainda hoje classificado como um dos mais relevantes discos do género, Brötzmann tinha noção de que “ninguém gostava da [sua] música, só uma mão cheia de amigos”, mas havia pessoas como Paik que o encorajavam: “Brötzmann, vai em frente. Faz o que conseguires fazer”.
“Aprendi cedo a não querer saber das regras, a fazer as minhas próprias regras, e é o que ainda estou a tentar fazer”, afirmou, em 2018, num eco de declarações que vinha a repetir ao longo das décadas.
Nascido em plena Segunda Guerra Mundial, Brötzmann lembrava que a sua geração era filha de pais que não queriam falar dos acontecimentos que viveram: “O trauma da minha geração foi o que os nossos pais fizeram ao resto do mundo. Então dissemos ‘nunca mais’. E esse foi o principal ímpeto da minha vida, e ainda é. Olhando para 60 anos de fazer música e ver, neste momento, a fonte castanha nacionalista e o envenenamento da água por todo o mundo é muito triste, devo dizer”.
Muito criticado, desde então até hoje, como outros músicos do free jazz, Peter Brötzmann teve 'lembretes' ocasionais da perspetiva do ‘mainstream’ sobre a sua música, como quando, em 2021, o humorista norte-americano Jimmy Fallon escolheu o seu disco “Nipples” (1969) para enxovalhar numa rubrica intitulada “Lista para não tocar” (um trocadilho com ‘playlist’, em inglês).
Brötzmann riu-se perante o sucedido e, numa resposta à Rolling Stone, disse: “Ambos sabemos que o mundo está cheio de ignorantes e estúpidos, um mais ou menos, quem é que quer saber”.
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