Mais uma vez, foi no fórum da Fnac de Santa Catarina que tudo começou ou, neste caso, recomeçou, com as atuações de David Pires e de Diego Armés.
Com a guitarra acústica como companhia, o baterista dos Pontos Negros estreou-se em nome próprio por terras nortenhas. Para quem quisesse ouvir, sendo que o acesso não foi restrito aos detentores de bilhete, este curto desfile de boas histórias fez-se um tom mais abaixo, como o próprio nos confessou, para que a voz não lhe saísse forçada. Por entre os males de amor do amigo alemão, que gosta de ler Goethe, até à sátira da televisão por cabo - porque “quanto mais televisão vemos menos temos noções do que é certo ou errado”, - foi-nos apresentado o ep “Aventura do Mundo”, debaixo do olhar do olhar atento da claque composta pelos amigos Capitão Fausto.
De voz doce e letras igualmente encantadoras, Diego Armés trouxe à Fnac “Canções para Senhoras”. O café estava cheio; eram muitos os que passavam para espreitar e acabavam por ficar até ao fim.
Pelo concerto passou Amor e Violência, canção que surgiu, segundo Diego, de uma “inspiração irlandesa”.
Com poemas dissimulados de músicas, “Canções para Senhoras” veio pelos ritmos de um acordeão, um piano, uma viola e um violoncelo.Fado Adicional foi a última do alinhamento.
Diego Armés: uma banda sonora deliciosa para começar bem mais uma tarde de festival.
Também do outro lado da Avenida dos Aliados, no café Guarany, a porta esteve aberta para quem quisesse entrar. Entre uma meia de leite e um croissant, os Lacraus, em mais um momento de desafio à rotina da cidade com o cunho Vodafone Mexefest, quebraram por completo a ambiência sossegada do café.
Reduzidos a um espaço tão pequeno onde os quatro elementos da banda mal couberam, houve que alastrar o punk rock café fora à força da canção. O público ajudou e o Samuel Úria, que se encontrava na assistência, também. Ao chamá-lo, o vocalista Tiago Cavaco remeteu para os filmes norte-americanos, e para aquele momento de conluio não combinado entre a banda e o protagonista, em que este assume o controlo do microfone. Um imaginário demasiado fácil de conceber, graças à banda sonora onde até um copo de vidro faz punk, e às fatiotas e penteados dignos de figuração em “American Graffiti”.
Mas as surpresas não se ficaram por ali. Para a despedida, mais um convidado. Do videoclip de Um Peito em Forma de Bala para o “palco”, Miguel Ângelo, sim, esse mesmo, dos Delfins!
Mais tarde os Lacraus voltaram à carga, desta vez na Sala Super Bock Super Rock, no Maus Hábitos.
Exatamente ao mesmo tempo e com igual tempo de atuação previsto, o dilema que se seguiu para os festivaleiros consistiu em saber, mais uma vez, pelo que optar. A abrir o apetite para o jantar, de um lado da rua de Santa Catarina, o jazz de Elisa Rodrigues. Do outro lado, no fórum da Fnac, o rock revivalista dos aveirenses The Underdogs.
Jantar? Fica para depois...
Os Norton disseram que oito e um quarto não era uma boa hora para um concerto.
Agradecerem por não ter sido trocados por um bitoque. Com jantar ou sem jantar, a verdade é que o Ateneu estava cheio para os ver.
Elogiaram o Porto – “Esta cidade é linda!” – e o Ateneu – “A primeira ou a segunda sala de que mais gostamos”.
Trouxeram ao Porto a sua pop fresca, leve e o seu rock dançante.
Tocaram êxitos como Two Points e ainda aquele que foi um dos melhores momentos de interação com o público: na versão de Pump Up The Jam, o vocalista veio para o meio do público e foi mesmo a audiência que cantou o refrão vezes sem conta.
Um bom prenúncio do que a noite viria a ser.
Do auditório do Ateneu as escolhas dividiram-se, rua acima. Pelo caminho, e à disposição, chocolate quente, pipocas e algodão doce.
Um pouco antes das nove da noite chegava a vez de subir ao palco da Garagem Vodafone FM dos portugueses Glockenwise.
São considerados das melhores surpresas de 2011 e já muito bom crítico os vê como uma das bandas com melhor álbum de estreia nos últimos anos em Portugal.
Os Glockenwise mostraram um rock cheio de power e de garra num dos poucos concertos com direito a moche e crowdsurfing. Com uma média de idade em palco inferior à do público, os Glockenwise vieram apresentar “Building Waves”, um disco cheio de batidas potentes e enérgicas.
Uma garantia ao rock português: os Glockenwise chegaram e têm energia para dar e vender.
Depois do gasto de energia e concentração de rock na Garagem com Glockenwise, Dillon apresentava um novo mundo no Cinema Passos Manuel. Com lotação esgotadíssima, Dillon apresentou ao Porto um mundo paralelo: de música calma, ambiente sossegado.
De túnica preta e olhar neurótica tocou o seu som eletrónico e alternativo.
O hermano honorário Josh Rouse
Aí estava uma das mais esperadas atuações no Vodafone Mexefest no Porto. Josh Rouse subia ao palco do Teatro Sá da Bandeira ainda a meio gás quando passavam poucos minutos das nove e meia da noite.
Numa receita que junta ingredientes como folk, pop, letras encantadoras, melodias que são uma delícia, influências culturais de vários pontos dos Estados Unidos, banjo e assobios, Josh Rouse é um dos cantautores mais acarinhados no nosso país.
Em perto de 10 minutos a sala ficou cheia. Ao longo de, aproximadamente, uma hora de concerto, apresentou temas dos 15 anos de carreira com que já conta, e dos mais de dez álbuns gravados.
De chapéu – sempre – brincou com a notoriedade que tem por cá: “Até passei na televisão! Deve ser do chapéu…”.
De uma sensibilidade musical absorvente, Josh Rouse tocou ritmos frescos, divertido, a fazer lembrar o Hawai, a praia, o sol e o Verão.
Ainda brincou com a possibilidade de trocar Espanha, onde reside no momento, por Portugal.
O público garantiu-lhe que seria bem recebido.
O multifacetado Fink
Fink é Fin Greenall. Fink é cantor, compositor, guitarrista, produtor, dj, entre muitas outras coisas. Fink também é blues, folk, dub e indie.
O inglês que já trabalhou com John Legend e Amy Winehouse encheu o Ateneu. Nem concorrências como Josh Rouse – durante perto de 10 minutos – e The Dø – a tocar no Coliseu – demoveram o público.
Num ambiente muito chillout, sossegado, Fink cantou e encantou com uma voz grave e intimista. De barba preta e boina cinzenta fazia pensar no que poderá vir a ser o português Frankie Chavez daqui a uns anos.
Fink veio com “Perfect Darkness” na bagagem e conversou muito com o público. Confessou o gosto pelo nosso país: “Portugal cheira a Portugal. Uma coisa estúpida de dizer, eu sei, mas é verdade!”
Fink é uma lufada de ar fresco para o panorama musical contemporâneo.
Neste jogo das cadeiras só perde quem fica sentado...
Dan Levy, Olivia Merilahti e os colegas de palco, que se dividiram entre instrumentos convencionais e secções de metais compostas por travessas e utensílios de cozinha, foram recebidos timidamente, com o público algo reticente em deixar as cadeiras do Coliseu para trás. Panorama completamente distante música e meia depois, com o ar divertido de quem se deixou manter em pé, nos corredores, a incitar a que ninguém ficasse sentado. Mas a culpa veio, obviamente, de cima do palco, e o dedo terá de ser apontado a Olivia, imparável, a concentrar e a magnetizar as atenções, com danças ritualistas, tiques de marioneta e uma imensa energia.
Há uma preocupação performativa que se expande para além da música, ainda que de forma orgânica e ajustada. Resulta da simbiose entre um francês e uma finlandesa que começaram por compor, precisamente, para cinema e bailado, o que acaba por se refletir nas canções.
Já há dois álbuns a comprová-lo. “A Mouthful” (2008) e “Both Ways Open Jaws” (2011) são registos coesos, assentes numa base pop rock onde de misturam texturas completamente díspares, e foram apresentados alternadamente, ontem à noite, pela primeira vez em Portugal.
À meia noite não soaram as doze badaladas, nem estava previsto que as Cinderelas rumassem a casa. Qual quê... Ainda noite era uma criança e a programação do Mexefest estava longe de ficar por ali. Porém, o horário não deixou de ter uma correspondência simbólica interessante ou não fosse a vez de George Lewis Jr., ou seja, Twin Shadow, entrar em cena.
Desta ver não houve lugar para vergonhas, e ao primeiro acorde de Shooting Holes já tudo se encontrava de pé e à procura de lugar o mais à frente possível, para cantar, dançar e, inadvertidamente, dificultar a tarefa aos fotógrafos. Convenhamos que, tendo em conta os nomes que lhe foram destinados, não remover os lugares sentados da plateia do Coliseu não terá sido boa ideia. Graças à teimosia do público e ao incentivo dos próprios artistas é que se proporcionaram momentos tão memoráveis como as descidas para a plateia de St. Vincent e de Twin Shadow.
Durante pouco mais de uma hora houve tempo para quase tudo. Para o aclamadíssimo “Forget” e para um tema do disco sucessor, previsto para Julho. Para Slow, Forget, Castles in the Snow, disfarçada, e balões amarelos de um lado para o outro mesmo antes de Yellow Balloon. Para um brinde a cidade e a quem o acolheu tão bem, para um convite para o Plano B, para muita euforia e muita descontração e um regresso ao palco.
Garagem cheia para Khatib
Desde do primeiro dia que o nome Hanni El Khatib vinha a ser muito ouvido, entre as subidas e descidas de rua e os encontros casuais entre conhecidos, às portas das salas de espetáculo. A curiosidade de uns e a devoção de outros levou à saturação do espaço Garagem Vodafone FM, pouco passavam das 23 horas. Quem conseguiu conseguiu entrar por certo não terá ficado defraudado com o rock n' roll poderoso do músico de Los Angeles, que se fez acompanhar na bateria por Nicky Fleming-Yaryan.
Noite fora
Em formato DJ Set, os Foals apresentaram-se na Sala Super Bock Super Rock. Foram muitos os que subiram as escadas até ao Maus Hábitos, picaram o ponto, tiraram a pinta aos rapazes e voltaram a descer.
À uma e dez, os recém-formados Ladrões do Tempo estrearam-se nas actuações ao vivo. Mais uma vez, a sala do Passos Manuel revelou-se demasiado pequena para albergar quem quis marcar presença neste primeiro concerto do projecto que roubou elementos aos Xutos e Pontapés, Dead Combo, a A Naifa e DaPunkSportif.
Nuno Calado e Rui Estevão (Antena 3), Rita Zukt e Cristiana Pranto, Freshkitos, Makam, Rui Trintaeum, Tiger & Woods, Nuno Forte e Beatbombers asseguraram a festa, noite fora, divididos pelo Passos Manuel, Maus Hábitos e Pitch Club.
Até à próxima?
No rescaldo deste Mexefest não será difícil de adivinhar que as chatices... foram as do costume. Algumas salas revelaram-se demasiado pequenas para alguns dos nomes que receberam e para quem ficou privado de os ver, e a simultaneidade das atuações promoveu uma ou outra debandada mais desagradável aos olhos dos artistas.
O saldo terá sido, porém, francamente positivo, com o Porto a agradecer mais uma injeção de dinamismo, assim como os lojistas das redondezas que decidiram manter os estabelecimentos abertos.
Da nossa parte foi um prazer, Mexefest. Vemo-nos por aí!
Texto: Ariana Ferreira e Inês Espojeira
Fotografias: Filipa Oliveira e Carolina Prata
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