Os Melech Mechaya regressaram, finalmente, a Lisboa, onde os aguardava, sábado à noite,um São Jorge ávido das sonoridades, da vivacidade e do divertimento da banda Klezmer, que agrega também influênciasciganas, árabes, balcânicas, do Fado e do Tango nas suas músicas.

Entrando na sala de espetáculos,deparávamos-nos com um palco muito bemornamentado. Desde malas de viagem a cabides, passando por casacos, matrículas de carros, uma toalha de mesa e vários chapéus - tudo servia de cenário à apresentação do mais recente álbum da banda, “Aqui em baixo tudo é simples”.

O concerto começou de uma maneira bem singular, com a música Spider Pig, tema do filme “The Simpsons”, a despoletar sorrisos instantâneos em toda a plateia. Seguiu-se Freylach de Varsóvia, primeira faixa do novo disco, que, não fosse o concerto com lugares sentados, teria posto o público inteiro a dançar aos primeiros acordes. Ficámo-nos pelos movimentos de cabeça, mas com muitas palmas à mistura.

Ouve-se, finalmente, Miguel Veríssimo, clarinete e voz dos Melech, cumprimentar a plateia. ”É uma enorme alegria estar aqui de novo. Esperamos que tenham uma noite agradável e que se divirtam connosco!”, diz, antes de ordenar a explosão conjunta do violino, do clarinete, da guitarra, do contra-baixo, da percussão e da dança desenfreada pelo palco.

Antes de avançar com Los Bentos, explica aos mais desatentos: “É um sucesso enorme, um caso de exportação bem-sucedido. É o número um nas tabelas de uns sítios muito específicos na Ásia. Vamos mostrar para verem o que se faz lá fora”. Risota geral na plateia, perante o discurso.

É então que Mísia entra em palco para uma colaboração muito bem conseguida. Com um vestido tradicionalmente português, a senhora da noite acompanha os Melech Mechaya com a sua experiente voz de fadista. Segue-se um magnífico solo de clarinete e a recapitulação das músicas já por ali tocadas, com destaque especial para Jahfotes, Gare no Oriente, Doina e Sirba + Di Grine Kusine, cujos títulos, invulgares, não conseguiram evitar o riso descontrolado da audiência.

A festa continuou, ao som deDança do Desprazer - "um grande hit, nos anos 80", brinca Veríssimo, de sorriso aberto. "Esta música canta-se, grita-se, muito provavelmente dança-se e ainda mais provavelmente enxovalha-se", completam os músicos, dando o mote para um jogo de imitações ao ritmo de "Na na na na na Oi", cantado em alto e bom som pela sala, já de braços no ar.

Para a música seguinte, a banda fez um pedido: “Precisamos de três pessoas para virem cá baixo, para os outros se rirem delas”. Voluntários não faltaram, claro está.

O tema que se seguiu foi Chapéu Preto, o mais recente single dos Melech Mechaya. Com o contra-baixo, João Sovina, na voz, o São Jorge foi repetindo e acompanhando, afinado: "Ai que lindo chapéu preto".

Entre várias outras, surge, a dada altura, Chinelo Aquático - "uma nova modalidade olímpica que estamos a tentar incutir". Envolve um chinelo e... água", explica o vocalista, sempre de gargalhada pronta. Seguiu-se Mazel Tov, também do novo álbum, muito bem recebida pelo S. Jorge, entretanto transformado num autêntico casamento judaico, com as cadeiras vazias, e com o público a dançar, a saltar e a bater palmas, imparável.

Budja Ba voltou a evidenciar a sintonia entre banda e público que, a pedido dos Melech Mechaya, pronunciava, ordenadamente,as palavras "Budja Ba": "primeiro os homens, depois as mulheres, agora os descomprometidos....".

A música responsável pela despedida foi o clássico dos anos 70 Daddy Cool, para o qual foram requisitados todos os corpos dançantes ao palco. "Shake it, shake it, like a polaroid picture", gritavam João Sovina e Miguel Veríssimo, extasiados, em jeito de adeus.

Confere o alinhamento completo:

(Spider Pig)
Freylach de Varsóvia
Aqui em Baixo
Bulgar de Almada
Los Bentos
Jahfotes
Gare no Oriente
Doina
Sirba + Di Grine Kuzine
Dança do Desprazer
Chapéu Preto
Chinelo Aquático
Nigun 7
Caleidoscópio
Fado Tantz
Mazel Tov
Budja Ba
Encore
Bulgar de Odessa
Daddy Cool

Sara Bandeira Costa