“Gostaria muito que acontecesse”, disse a artista em entrevista à agência Lusa, em Los Angeles. “Acho que seria uma coisa muito importante para a comunidade de criadores e de músicos de Portugal”.
A nomeação distingue o trabalho em parceria com John Beasley na versão ao vivo da canção “Com que Voz” (poema de Luís de Camões), do álbum “Saudade, Colour of Love”, que foi gravado com o acompanhamento da Metropole Orkest.
“É uma música portuguesa, que não é a coisa mais popular numa língua universal, num estilo muito próprio, muito meu, sem fronteiras”, descreveu a cantora, que cruza jazz com fado.
“Se chamarem o ‘Com que Voz’ vai ser uma emoção”, disse. “Porque é a língua portuguesa que é chamada, é o poeta de que estamos a celebrar 500 anos, e é o propósito de que a música é universal e celebrada dentro de todas as estéticas, que não é só o que é popular que ganha”.
“Com que Voz”, cujo original Alain Oulman compôs para Amália Rodrigues em 1969, é uma de cinco nomeadas numa categoria que recebeu mais de 1360 candidaturas de todos os estilos musicais. Maria Mendes já tinha sido nomeada pelo mesmo trabalho nos Grammy Latinos, que foram entregues em novembro de 2023 em Sevilha.
“Este disco tem uma energia estonteante, é fogo, e eu estou muito grata e orgulhosa de toda a equipa”, afirmou a cantora. “Acho que o trabalho está muito bem conseguido e é isso que também potenciou esta atenção e boa receção a nível internacional da crítica do jazz”, considerou, “e das pessoas realmente sentirem que estão perante algo incomum e à flor da pele”.
Durante a semana dos Grammy, que serão entregues no domingo, 04 de fevereiro, na Crypto.com Arena, Maria Mendes esteve em Los Angeles a participar em vários eventos. Isso incluiu uma receção aos nomeados, onde recebeu uma medalha, fazer um retrato oficial e um evento para as mulheres na indústria, Women in the Mix.
“É importante termos a perceção de que há muitas mulheres num circuito ainda altamente masculino”, salientou a artista. “Tenho muito orgulho de este ano não ser a única mulher nomeada, porque geralmente os arranjadores e compositores são quase todos masculinos”.
É a segunda vez que Maria Mendes recebe uma nomeação da Academia de Gravação Norte-americana para um Grammy, depois de ter sido indicada em 2021 pelo tema “Asas Fechadas”, que também competiu nos Grammy Latinos.
A artista, membro votante da Academia de Gravação, gostaria de ver mais músicos portugueses na organização e mais artistas nacionais a serem reconhecidos com nomeações.
“Quem é músico e quer ser uma voz ativa da sua música deve pertencer pelo menos à Academia Latina de Gravação”, sublinhou. “É necessário, porque nós, para cada vez mais termos uma voz ativa no circuito e no léxico mundial a nível musical, temos que crescer em massa”.
Uma potencial vitória nos Grammy abriria ainda mais portas que a nomeação, que já é um reconhecimento importante, embora também considere que "o expoente nem é ganhar, mas é a nomeação, esta celebração da diversidade do que é português”.
Maria Mendes, radicada nos Países Baixos há vários anos, é uma artista independente e está já a preparar o seu quinto álbum, que vai ser dedicado às mulheres.
“Quero que seja com a feliz ambição de ser uma celebração daquilo que somos na nossa pura essência”, afirmou, revelando que serão maioritariamente temas autorais. A gravação deverá ser feita este ano com lançamento em 2025.
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