Ao sexto álbum, a cantautora aborda a vida de Ana Márcia, nome que nunca utilizou porque achava “foleiro”, mas também porque a mãe se chamava Ana e, por isso, toda a gente acabou por chamar-lhe sempre Márcia.
“Com o passar dos anos fui percebendo que também faz parte da vida assumir as coisas que não são ‘cool’, mas fazem parte de nós. Todo o álbum vai à volta disso. Assumir essa parte também menos glamorosa das fotografias ou do passado ou daquilo que somos é um bocado a ideia do disco. É por isso que se chama Ana Márcia, porque é um bocado sair do armário”, partilhou com a Lusa.
O álbum inclui canções que Márcia escreveu há alguns anos, como “Quem cá está”, escrita em 2007/2008, mas que nunca tinha editado, porque a achava “muito dura”. Mas agora, “como a Ana, vem cá para fora”, mostrando que “toda a ideia de não assumir uma série de coisas está também nas canções”.
“A aceitação daquilo que passou e que ‘não foi famoso’ e torná-lo ‘famoso’. Passares a ter orgulho das tuas origens e daquilo que te definiu até hoje”, referiu.
A cantautora dividiu “Ana Márcia” em três capítulos, cada um referente a uma fase diferente da vida.
O primeiro, composto pelos quatro primeiros temas, fala de “pertença, de onde é que se vem, de luto, de perda”. Neste capítulo estão presentes “a parte triste e a parte boa” e “a parte de vontade de evasão”.
O segundo capítulo, com quatro músicas, é referente ao “encontro”. “É onde há o amor e o desamor, o abandono, o enamoramento, com a música com a Sérgio Godinho, e muito esta coisa de nos passarem a perna, quando há uma relação amorosa”, disse.
É neste capítulo que entram dois dos convidados de “Ana Márcia”. Sérgio Godinho participa numa versão do seu “Às vezes o amor”, tema que Márcia já tinha gravado em 2013 para a compilação “Voz e Guitarra 2”, e Catarina Salinas entra em “Quem cá está”.
No terceiro capítulo, com cinco músicas, Ana Márcia “é jovem adulta, torna-se mãe e através dos filhos vai visitar a sua própria infância”.
“A alegria da infância, a pureza da infância. E vai procurar os sonhos que teve, o que a motivava. Aí há muitas frases de conselhos de vida, de coisas que ela foi aprendendo, foi transmitindo, e volta também à sua criança interior. Ela, a Ana Márcia”, contou.
É neste capítulo que está “Um passo ao lado”, com a participação de Jorge Palma, para quem Márcia escreveu o tema, ao qual se refere como “uma canção muito ‘Palmiana’”.
A música que fecha o disco esconde um ‘mimo’, só para quem ouvir a edição física. Uma faixa com a voz do filho da cantora, “para dar a sensação de casa”.
Embora as letras sejam muito autobiográficas, como é habitual no trabalho da cantautora, acabam por não revelar episódios específicos.
“Apesar de ser uma narrativa muito autobiográfica, é sobre a emoção”, o que leva a que quem ouve as canções consigam identificar-se com elas, como comprovam as muitas mensagens que já recebeu a dar conta disso mesmo.
“Ana Márcia” está disponível em CD e vinil, e traz um livrete “para ser visto como um livro de memórias”, com fotografias antigas e outras mais recentes e ilustrações da autoria de Márcia, através do qual se consegue acompanhar as músicas com o universo que a cantautora desenhou para elas.
Em digital, estão já disponíveis “Manhã bela” e “Sei lá”. As restantes canções serão reveladas uma a uma, a partir de 14 de fevereiro. “A família e a música precisam de tempo, as relações precisam de tempo. Como proponho uma relação com a minha música isso requer tempo. Vou contar a história de cada canção, com tempo, partilhar”, explicou.
Márcia apresenta “Ana Márcia” ao vivo em 10 de fevereiro no Teatro Maria Matos, em Lisboa, um espetáculo já esgotado, e em 31 de maio no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.
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