Mais uma vez Jane regressa a Serge, seu mentor e companheiro durante mais de uma década, mas desta vez um tsunami e um desastre nuclear meteram-se pelo meio. A cantora e atriz, que se tem dedicado a causas humanitárias, ficou muito tocada com a tragédia que abalou o Japão no ano passado e decidiu ir até Tóquio para fazer um concerto com músicos japoneses.

Este “pequeno” concerto acabou por se transformar numa “homenagem” a Gainsbourg, 20 anos depois da sua morte, explicou Jane Birkin aos jornalistas nesta terça-feira, na Casa da Música (ver vídeo). Os músicos japoneses continuam a acompanhá-la e o pianista Nobuyuki Nakajima orquestrou de novo antigos temas, celebrizados por Serge Gainsbourg e Jane Birkin nos anos 60 e 70.

Primeira homenagem

A primeira homenagem que Jane Birkin fez ao artista que marcou a música francesa foi um ano depois da sua morte. Mas não foi muito bem recebida pela crítica. Quando Jane apresentou o concerto a jornalistas ingleses ouviu reações pouco agradáveis: “Vais fazer outro filme sórdido?”, “Mostra-nos a perna” ou “O Serge continua a beber?”.

“Então eu percebi que eles não sabiam nada sobre o Serge Gainsbourg, pensavam que ele era um bêbedo estúpido que aparecia na televisão”, lamentou Jane Birkin.

“Voltei a França, não chorei, e pedi ao presidente Mitterrand, a Jaques Chirac, Claudia Cardinale, Brigitte Bardot, Yves Saint Laurent, Jean-Luc Godard para escreverem em duas linhas o que Gainsbourg significava para eles”. Esta foi a primeira homenagem, “depois desta, tem sido mais fácil”, disse Jane Birkin.

A sorte de ter gravado “Je t´aime, moi non plus”

Jane Birkin não se considera um “ícone”. Para este posto, elege pessoas como “Marilyn Monroe, Audrey Hepburn ou Gary Cooper”.

Mas acredita que qualquer um pode contribuir para mudar o mundo. Dá voz a causas como a do povo birmanês, a luta contra SIDA, a Amnistia Internacional ou a defesa dos gorilas da Indonésia. “Às vezes por seres famosa consegues chegar mais rapidamente aos locais”, reconheceu.

Jane Birkin considera que teve “sorte” por ter gravado o sucesso “Je t´aime, moi non plus”, que lhe deu um reconhecimento mundial. “Depois de Je t'aime, moi non plus, começámos a encher salas de concertos na Austrália, em Jacarta, na América do Norte e do Sul”, recordou.

O facto de a música ter sido proibida pelo Vaticano “foi a melhor publicidade que poderíamos ter”, disse. Também em Portugal a música foi censurada durante a ditadura, o que lhe deu um cariz “libertador”, o que foi “o melhor que podia acontecer”, afirmou Jane Birkin.

Com os seus amigos e músicos japoneses aprendeu a dar valor a cada segundo e a não ficar presa ao passado. “Cada segundo importa, talvez não tenha amanhã ou até os próximos cinco minutos. Por isso, é preciso aproveitar a vida e fazer as pessoas felizes”, concluiu a cantora e atriz que prometeu estar no seu melhor para o concerto de hoje à noite na Casa da Música.

@Alice Barcellos