Voz, piano e guitarra. Para Howe Gelb, é basicamente isto que pode esperar-se do seu concerto no Centro Cultural Olga Cadaval. «Vou tocar canções numa guitarra muito velha e num piano muito grande», conta ao SAPO Música, ao telefone, num tom onde parece caber toda a calma do mundo. E um ambiente de calmaria é mesmo o que deverá marcar presença na sua atuação. «Sou um fã do minimalismo, gosto da sensação de ter muito espaço nas canções quando toco a solo. Com a banda é diferente, agrada-me precisamente o oposto: soltar-me, perder o controlo. Quando estou sozinho, não posso surpreender a banda, por isso o espetáculo é logo diferente», explica o cantor, compositor e criador dos Giant Sand, uma das referências da country alternativa desde inícios dos anos 1980.
O homem dos mil e um projetos (e discos)
Além de discos dos Giant Sand, Gelb deixou o nome em álbuns dos Arizona Amp and Alternator (projeto que o juntou a M. Ward, Scout Niblett ou membros dos Grandaddy e Arcade Fire), The Band of Blacky Ranchette, A Band of Gypsies ou OP8 (aqui ao lado de Lisa Germano e dois elementos dos Calexico).
O concerto do Sintra Misty, contudo, deverá concentrar-se no seu percurso a solo, sobretudo no seu novo álbum, «Snarl Some Piano», que descreve como «um disco perfeito para ouvir na hora de ponta». E fala por experiência própria, já que foi nesse contexto que o testou logo após a gravação e conseguiu abstrair-se da confusão à sua volta. «Quando o disco chegou ao fim, o trânsito tinha acabado», relembra.
A sua longa e aplaudida discografia, que entre registos a solo e colaborações soma mais de quarenta álbuns editados (nem o próprio sabe ao certo quantos já gravou) faz dele uma das figuras mais respeitadas do universo que alia o rock à folk e à country lo-fi. Nada em que Gelb pense muito... «Os elogios e epítetos divertem-me, mas só isso. Tento não os levar muito a sério porque na música é sempre tudo muito instável, sobretudo as opiniões. Mas como hoje temos acesso a tantas bandas, já é uma sorte ser chamado de alguma coisa», brinca.
O que foi não volta a ser
Embora não se guie por rótulos, Gelb identifica um elemento comum nas suas canções. «Chamaria ao que faço rock erosivo. É música que muda todos os dias. As canções são sempre um pouco diferentes de cada vez que as toco. Quando editas um disco, é como se tirasses uma fotografia à música, ficas com uma imagem congelada do que aconteceu nesse momento. E nunca achei que devesse repetir essa imagem até à exaustão. Acho que a música é mutável, ou pelo menos deve ser. O jazz é a prova disso, a evolução faz parte da sua matriz. Os artistas tocavam sempre nos mesmos clubes todas as noites, mas a música ia para direções diferentes. A música pop tem uma evolução muito mais lenta, os artistas tocam as mesmas canções da mesma forma durante anos, décadas», compara.
No seu regresso a palcos nacionais, Gelb espera reencontrar um cenário que considera habitual por cá: os sorrisos dos portugueses. «Lembro-me de como os sorrisos eram maravilhosos, nunca consegui perceber porquê. É a primeira coisa que me vem à cabeça quando penso em Portugal», revela.
Uma impressão a confirmar, então, a 21 de outubro a partir das 21h30, num concerto com primeira parte a cargo de Sean Riley & The Slowriders.
Howe Gelb & A Band Of Gypsies - "Uneven Light Of Day":
Giant Sand - "Shiver":
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