O português Rui Carvalho, ou Filho da Mãe, foi o primeiro a tocar. Na bagagem, trouxe o seu mais recente disco, "Palácio".Conhecido de bandas como If Lucy Fell, o guitarrista deu a cada uma das músicas instrumentais uma intensidade que surpreendeu, ao mesmo tempo que clarificou a relação entre os diversos projetos.
Àprimeira audição, o som da guitarra acústica isolada pode recordar Carlos Paredes e é clara a sua influência em músicas mais tradicionais como “Sobretudo”. No entanto, as diferenças revelam-se rapidamente através da expressividade crua que Filho da Mãe retira, por vezes, da guitarra. Castiga o instrumento de seis cordas, não só com o dedilhar rápido, como através de pancadas no corpo da guitarra que repete e amplifica. “Helena Aquática” é o melhor exemplo do lado mais violento de Filho da Mãe e a última a ser toca por Rui Carvalho.
Porém, o lado mais tradicional e o lado mais experimental da sua música não são conflituosos. “Eusébio no Deserto”, uma das primeiras músicas a ser tocada, é um exemplo da capacidade de unir, através da música, naturezas totalmente distintas. Como o nome indica, esta composição exibe características muito americanas, típicas de um western, sem perder com isso o que de mais distintamente nacional existe em Filho da Mãe.
Glenn Jones apresentou-se à audiência de forma cândida e loquaz. Cada composição trouxe consigo uma introdução e cedo o concerto se tornou uma espécie de aula de história musical autobiográfica, com Jones a focar-se, frequentemente, mais nas suas influências do que em si próprio. No entanto, assim que as músicas começavam, era através da guitarra (ou do banjo) que a audiência acompanhava Jones.
Quem o segue, esperava não uma lição, mas uma viagem através de paisagens americanas. Os títulos de cada composição são muitas vezes referências aos cenários que constrói. Foram tocadas músicas sobre florestas ou sobreos oceanos Atlântico e Pacifico, mas também sobre cenários menos bucólicos, como Portland Ciment Factory - uma versão de John Fahey, uma das maiores influências de Jones.
Jones iniciou o concerto com uma versão de “Redwood Ramble”, de Robbie Basho. E a história por detrás desta versão “misremembered” presente no disco "Barbecue Bob in Fishtown" revela muito sobre Jones enquanto guitarrista. Um dia, enquanto brincava com uma nova afinação para a guitarra, começou a tocar algo que lhe recordava um pedaço desta música de Basho. Em vez de ir ouvir o disco do outro guitarrista, decidiu tentar rescrever a canção sem o fazer. Naturalmente, quando terminou, a sua versão era, em muitos aspetos, diferente da original.
Jones não tem problemas em referir, discutir e tocar quem o marcou e influenciou. No entanto, como a história demonstra, existe no guitarrista americano um lado experimentalista presente na procura constante de novas afinações e no esforço para se apropriar do todos os instrumentos, seja a guitarra ou o banjo.
No final, Jones impressionou tanto pela sua biografia -viu dois concertos de Jimmy Hendrix, dois concertos dos The Doors, e ainda encontrou o Elvis no cinema -como pela como pela sua proficiência como guitarrista.
Texto: Henrique Mourão
Fotografias: Joanica Cardoso
Comentários