Se há coisa que não falhou ontem à noite no Campo Pequeno, em Lisboa, foi a pontualidade. Os Ciganos d’ Ouro, responsáveis por animar as hostes para o grupo francês mais internacional dos anos 80 e 90, subiram ao palco às 21h30 em ponto e, durante 45 minutos, e com alguma conversa pelo meio, debitaram os temas mais marcantes da sua já longa carreira – já lá vão 15 anos desde a sua primeira aventura discográfica, “La Casa” - dedicando especial atenção às brincadeiras do seu último disco, “Fado Flamengo” (2011), que insiste na atrevida fusão do Flamengo com o Fado de Amália e outros que tais. Uma hora depois, pisavam o palco os outros ciganos, cuja prestação se ficou - digamos - pelo bronze.

Pouco assíduos nos palcos de Portugal, eram aguardados com grande excitação e nostalgia por aqueles que, garantidamente, ainda guardam as velhas cassetes do coletivo em local estratégico, para quando a vontade de dar um pezinho de dança aperta. Temas como Bamboleo, Volare, Djobi Djoba, Baila Me ou Bem Bem Bem Maria eram entoados à desgarrada por todos os presentes, que acreditavam solenemente irem reviver, em noite chuvosa, os dias mais solarengos da sua juventude. Mas não foi bem assim.

Num alinhamento que se aproximou das duas dezenas de canções, apenas quatro –Djobi Djoba, Un Amor, Volare e Bamboleo - fizeram viajar os fãs do grupo até tempos menos austeros e mais dançantes. A primeira, servida a meio gás ao segundo tempo, logo após Rumba Tec, tocada em jeito de introdução. As duas últimas, a rematar a atuação (e a salvar a noite, com um reboliço de braços no ar e ancas a abanar, em jeito de desforra), num momento em que a maioria dos presentes já desesperava, questionando o porquê de ter gasto as suas economias num concerto falido de grandes hits. Un Amor chegou a meio da performance, entre a instrumental Tampa, de “Roots” (2004), e lânguida Sol y Luna, do mais recente álbum da banda, “Pasajero” (2006), numa tentativa frustrada de equilibrar a coisa.

A performance da banda foi, de resto, preenchida por temas menos conhecidos do grupo, eximiamente tocados, ainda assim, arrancados ali e acolá, algures entre os álbuns “Allegria”, de 1982, representado por Pena Penita, e um novo registo de originais, ainda por editar, passando duplamente por “Terra Gitana”, de 1996, ao qual foram resgatar Ati Ati e A tu Vera. De Bem Bem Bem Maria, Baila Me, Tu Quieres Volver, A Mi Maneira ou Caminando Por La Calle, nem sinal. De interação entre público e banda… também não!

Deparando-se com o descontentamento da plateia, que não hesitou em assobiar impiedosamente o coletivo enquanto este exibia, sem grande fulgor e já perto do final, os dotes artísticos de cada músico, Nicolas Reyes – o comandante da comitiva, responsável por grande parte das vocais – ainda arriscou desculpar-se com a idade, que já ultrapassa meio século – “já são 53 anos, não é fácil…” – mas a justificação não convenceu. Ficou, ainda assim, a intenção.

Texto: Sara Novais

Fotografias: Miguel Pereira