Palco Principal - “Caminho”, lançado no passado mês de Setembro, é o primeiro álbum dos Fonzie gravado na íntegra em português. Porquê esta mudança linguística, após 14 anos de carreira?
Fonzie – A mudança teve a ver com um conjunto de situações, das quais se destacam o feedback dos fãs depois da gravação da música A tua Imagem; o desafio que a banda teria pela frente ao provar a si mesma que conseguiria, ou não, gravar 14 ou 15 temas em português; o estímulo para a banda em não fazer mais do mesmo, após 14 anos a escrever em inglês; o aparecer com alguma novidade em destaque… Enfim, foram várias as situações que acabaram por tornar esta mudança natural para os Fonzie.
PP - As músicas cantadas em português são, na vossa opinião, mais eficazes, quando se trata de conquistar o público nacional?
F – Sem dúvida. Sentimos isso desde que tocámos, pela primeira vez ao vivo, o tema A tua Imagem, em Aveiro, onde as oito mil pessoas que estavam no concerto cantaram em uníssono, desde o primeiro ao último verso. A diferença é abismal: vê-se na cara das pessoas que estão a sentir o que cantam. Até porque, por mais que se entenda inglês, o português é a nossa língua. E não é só no público que se nota isso. O mesmo acontece connosco.
PP - Tencionam regressar ao inglês em futuras edições ou o português «veio para ficar»?
F – Os Fonzie sempre viveram o presente e o presente é, para os Fonzie, cantar em português. Além disso, não me parece que fizesse muito sentido daqui a dois ou três anos não dar continuidade a esta mudança, lançando um álbum em inglês. Para já, o português veio mesmo para ficar. Resta-nos conciliar, nos alinhamentos dos concertos, as músicas antigas com as novas.
PP - É vosso objectivo introduzir o novo disco, à semelhança dos anteriores, no mercado internacional?
F – Vamos apenas lançá-lo no Brasil. De resto, não faz muito sentido, apesar de já termos recebido algumas propostas nesse sentido, de alguns países da Europa.
PP – Em tempos afirmaram que “manter a banda só em Portugal” seria complicado. O que mudou entretanto?
F – Neste momento, temos mais 14 anos em cima, outras responsabilidades, família, filhos, etc. Tudo tem que ser muito bem gerido. Não estamos preparados para ficar longe dos nossos filhos mais de um mês seguido, voltar por cinco ou seis dias, e partir mais um mês em digressão. Continuaremos a tocar lá fora, mas faremos aparições mais pontuais.
PP - Qual a história por trás da escolha do título do novo disco?
F – O disco foi buscar o título à música que abre o álbum, que, logo nas primeiras linhas da sua letra, define por completo os Fonzie e o seu momento actual: “…não foi em vão que o tempo me fez chegar aqui e com razão, se o fim é certo, o destino é incerto, seguimos um traçado, um caminho que nos leva em frente…”
PP - Decidiram, aquando do seu lançamento, oferecer o single A Tua Imagem. É obrigatória, hoje em dia, tendo em vista a promoção do trabalho da banda, esta atitude?
F – Não é obrigatória. A música A tua Imagem foi gravada com o intuito de ouvirmos como soava uma música nossa em português. Não fazia, sequer, parte das músicas que tencionávamos incorporar no álbum. Por isso, em vez de a deixarmos na gaveta, achámos por bem oferecê-la para download gratuito.
PP - O videoclip do single A Tua Imagem conta com a participação de quatro figuras muito importantes do panorama musical português: Kalu, dos Xutos & Pontapés; Jay Jay, dos Da Weasel; Tó Trips, dos Dead Combo; e João Pedro Almendra, dos Peste & Sida. O que motivou estas escolhas?
F – Sendo a nossa primeira música em português, quisemos convidar pessoal que nos lembrasse o espírito vivido no antigo Johnny Guitar, onde, todas as semanas, músicos se reuniam a tocar. Estes eram algum deles. Quisemos, então, que apadrinhassem esta nossa nova experiência, em português.
PP - Contrariando as escolhas assumidas nos primeiros álbuns, em “Caminho” optaram por produção da própria banda. Optaram, também, por gravá-lo entre portas, nomeadamente em Lisboa. Porquê?
F – Todos os álbuns dos Fonzie foram produzidos pela própria banda. Mas, até à data, sempre contámos com a experiência de um co-produtor. Mas jamais algum alterou as nossas ideias. Apenas gravavam e asseguravam uma mistura com boa qualidade. No que respeita a gravação: se, há 14 anos, não existia nenhum álbum rock com o qual nos identificássemos no que à qualidade sonora diz respeito – principalmente bateria e guitarras com distorção -, em 2010 fizemos uma nova procura e encontrámos alguém que se identificava com o que queríamos. Fizemos a tal experiência com o tema A tua Imagem e resultou. Daí termos avançado, o que se revelou bom para as duas partes: os Fonzie ficaram com um bom som e o Ricardo Espinha conseguiu sair do anonimato (tanto que, depois do nosso álbum sair, ele foi recrutado para os estúdios Valentim de Carvalho, para trabalhar com o Nelson Carvalho – um dos mais conceituados produtores do panorama nacional).
PP - Em “Caminho” optaram, igualmente, por uma edição de autor. O que vos levou a rescindir o contrato com a editora que vos representava e apostar numa edição de autor?
F – Um dos segredos da longevidade e do sucesso dos Fonzie foi sempre termos tudo sob nosso controlo e nunca termos passado a «pasta» a mais ninguém. Sempre fizemos os nossos vídeos, sempre tratamos do nosso merchandising, dos nossos websites, artworks, produções, posters, autocolantes, etc. O mesmo acontecia com os álbuns: gravávamos e íamos licenciando os discos por várias editoras pelo mundo fora. Só que chegou uma altura em que as digressões eram demasiadas e, como tal, tivemos que dividir um pouco o trabalho, optando por assinar contracto com uma editora. Cumprido o contracto, estamos novamente livres – o que é óptimo, pois voltámos a ter 100% de controlo sobre tudo.
PP - Não ponderaram, à semelhança do que aconteceu nos primeiros álbuns dos Fonzie (com os vocalistas dos No Fun At All e dos Millencolin), convidar vocalistas exteriores ao grupo para participarem no disco? Porquê?
F – Surgiram algumas ideias, mas optámos por deixá-las de lado no álbum. Não queríamos mais do mesmo, era essencial mostrar uma nova faceta dos Fonzie. Mas avançaremos com essas ideias daqui a uns tempos, numas «brincadeiras» que temos em mente. Vamos fazer umas experiências. Se correrem bem, sairão cá para fora…
PP - Como tem funcionado a transposição no novo álbum para os palcos?
F – Tem superado todas as expectativas.
PP - Perante o rumo que a música portuguesa tem tomado nestes últimos anos, que futuro vislumbram para os Fonzie? Continuará a haver público para este tipo de sonoridades?
F – Felizmente, se há alguma coisa que nunca vai acabar, é a música e os seus vários géneros. Há espaço para todos. E é bom que cada vez apareçam mais e melhores bandas, sendo que quantidade não é sinónimo de qualidade. O tempo, naturalmente, fará o filtro, fazendo permanecer o que é bom e deixando ir o que é mau. Em 14 anos já vimos nascer e morrer centenas de bandas, novas promessas disto e daquilo, e os Fonzie continuaram sempre o seu caminho, tranquilos, a fazer aquilo que gostam, aumentando, dia após dias, a sua base de fãs. Como costumamos dizer, em cada dez que saem, entram mil novos.
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