“Este ano o tema do festival é a Liberdade porque se celebram os 50 anos da Revolução dos Cravos, do 25 de abril. O festival quis fazer esta homenagem para mostrar a relação entre o Fado e a Liberdade ao longo da história. Já tínhamos o tema definido antes de mudarem o nome do espaço [das apresentações]. Portanto, foi uma coincidência”, explicou à Lusa o organizador do festival, Frederico Carmo.
Coincidentemente, no mês passado, o Presidente argentino, Javier Milei, alterou para Palácio Liberdade o nome do antigo Correio Central, imponente monumento histórico argentino, transformado em centro cultural em 2015, quando foi batizado pela antiga presidente Cristina Kirchner (2007-2015) como Centro Cultural Kirchner, em homenagem ao falecido marido e antigo chefe de Estado Néstor Kirchner (2003-2007).
O produtor do Festival, Frederico Carmo, lembrou que o fado começa como uma canção dos excluídos, cantada nos antros do porto de Lisboa. Nesse sentido, tem um paralelismo com o tango argentino.
Curiosamente, assim como o fado e o tango foram, um dia, música “outsider”, o Presidente Javier Milei é um “outsider” da política que prega a Liberdade como lema de Governo, prometendo conduzir o país a um caminho de prosperidade, sem quaisquer intervenções do Estado nos campo económico, político e pessoal.
Porém, se o fado era cantado pelos excluídos da nova ordem liberal, o Presidente Javier Milei propõe o liberalismo libertário como forma de combater a exclusão.
A relação entre o fado e a liberdade será motivo de uma conferência no domingo, antes da apresentação da fadista Raquel Tavares. Hoje, na inauguração, estará no palco António Zambujo.
Se o fado nasceu no porto, o Festival de Fado toca o seu porto seguro em Buenos Aires. A capital argentina é considerada a cidade latino-americana na qual o género mais eco encontra, mesmo não sendo lusófona.
“A Argentina é especial por várias razões: o fado e o tango são património da humanidade e irmanados pela origem ‘portenha’, tanto no porto de Lisboa como no de Buenos Aires; a ligação histórica entre os dois países está desde quando Portugal foi o primeiro a reconhecer a independência da Argentina (1821); e o público argentino é aquele que mais avidez por cultura tem, sendo Buenos Aires uma das cidades com mais teatros no mundo”, apontou Frederico Carmo.
É esse último ponto aquele que faz de Buenos Aires a única cidade à qual o Festival nunca deixou de vir, desde a primeira vez, em 2014, completando agora a 11ª edição na Argentina. Mesmo quando, em 2020, a pandemia impediu viagens e apresentações presenciais, a edição ‘portenha’ do Festival aconteceu por ‘streaming’.
“É o sítio onde, nas conferências e nos concertos, costumamos ter mais pessoas. Há uma adoração muito grande pela cena musical do fado na Argentina e, portanto, é um país com o qual nos identificamos bastante e onde gostamos muito de estar”, indicou o organizador.
Enquanto o Festival ainda está a criar público nas demais cidades latino-americanas pelas quais passa, em Buenos Aires, esse público é consolidado. Cada edição do festival convoca entre quatro e cinco mil pessoas, sendo cerca de duas mil por noite, além do público que participa das conferências e das exposições.
“Temos muito gosto de que a comunidade portuguesa esteja presente e queremos que esteja sempre, mas queremos oferecer este género musical a quem não o conhece porque o Festival visa exportar a nossa portugalidade. Este é o maior evento cultural português fora de Portugal, o que mais notícias gera e o que mais público convoca”, sublinhou Frederico Carmo.
Das 17 cidades por onde o Festival passa, 10 estão em sete países da América Latina. As apresentações já passaram pelas capitais de México, Panamá, Colômbia, Peru, Chile. Seguem pelo Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, respetivamente) e depois Uruguai. O cume acontece neste final de semana na Argentina.
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