"Sempre tive uma relação um bocado estranha com os Smashing Pumpkins. O meu grupo de amigos sempre foi bastante interessado em música nova, tínhamos uma grande sede de saber o que se passava lá fora... uma curiosidade mais forte, se calhar, do que a de grande parte dos miúdos da altura. Consumíamos muito rock de Seattle e, apesar de os Smashing Pumpkins serem de Chicago, é claro que também os ouvíamos", conta-nos Rui Pité, ou DJ Riot, um dos elementos do núcleo duro dos Buraka Som Sistema.

Embora a banda de "Bullet With Buttterfly Wings" tenha sido das mais ouvidas pelo músico em inícios dos anos 90, o primeiro embate não foi o melhor: "Conheci Smashing Pumpkins muito cedo mas lembro-me de que não gostei nada deles da primeira vez que os ouvi. Soou-me um bocado esquisito, não estava habituado ao timbre do Billy Corgan. Mas dou sempre duas ou três oportunidades a um disco e passou-se o mesmo com o «Siamese Dream». Quando o ouvi melhor, passei a gostar, gostei muito e depois quis descobrir o «Gish»".

"Siamese Dream", um disco para o top 10 pessoal

"Gish" (1991) e "Siamese Dream" (1993), os dois primeiros álbuns dos Smashing Pumpkins,foram alvo de reedições recentes, em versões remasterizadas com extras e raridades. O segundo, em particular, guarda um lugar especial na memória melómana de DJ Riot: "Respeito e gosto muito do «Siamese Dream», está com certeza no meu top 10 dos anos 90, até da minha vida. É um dos poucos discos onde é cada tiro, cada melro: há lá melodias de que nunca te esqueces, lembras-te de cada solo de guitarra, de cada break de bateria, de cada refrão, e não há muitos discos de que possas dizer isso... Os grandes músicos, as bandas geniais, não fazem mais de cinco discos assim".

DJ Riot salienta ainda que um disco como "Siamese Dream" resulta de uma banda em que ninguém está a mais nem a menos e todos têm o seu papel: "Para mim esse foi o período áureo deles, não só pelos discos mas mesmo pela composição da banda. Os elementos funcionavam muito bem em conjunto, não era só a voz «linda» do Billy, que ou se ama ou se odeia, e de que não gostei mas depois aderi: funcionava por causa da guitarra do James Iha, o Jimmy Chamberlin era um grande baterista e a D'arcy era baixista numa altura em que não havia muitas mulheres nessa função dentro do rock".

Um concerto imperdível, outros nem por isso

Se em 1996, quando os Smashing Pumpkins atuaram em Cascais, perder o concerto foi um desgosto considerável ("quando consegui juntar dinheiro suficiente e tentei comprar o bilhete à entrada, já estava esgotado"), o regresso da banda a Lisboa, esta semana, está longe de gerar o mesmo entusiasmo em DJ Riot. Sobretudo porque considera que já há pouco de Smashing Pumpkins na formação atual, que da original só mantém o vocalista: "O «Machina» já era muito só o Billy e desde aí ainda mais, embora já nem os acompanhe com atenção. Mesmo assim, da mesma época, acho que os Pearl Jam ou os Alice in Chains conseguem ser, hoje em dia, um bocadinho mais interessantes. Acho que o Billy Corgan devia assumir uma carreira a solo. Há coisas que não fazem sentido com a banda, é perfeitamente natural que ele queira fazer coisas diferentes, por isso acho que devia fazer como o Eddie Vedder. Ao menos esse faz a cena dele, os discos que precisa de fazer sozinho com o ukulele, que detesto mas respeito", desabafa.

Quem, ao contrário do elemento dos Buraka Som Sistema, quiser confirmar a forma atual dos Smashing Pumpkins, pode encontrar a banda hoje e amanhã, na Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa. As portas abrem às 19h e a primeira parte, assegurada pelos também norte-americanos Ringo Deathstarr, arranca às 20h.

@Gonçalo Sá