Após alguns meses, nasce o EP "Birth of a Robot", com a chancela da discográfica PAD,que vem encantar osouvidos dos portugueses, qual soap opera e melodrama de bolso, cantado num pop duro, frugal e minimalista.

Graciela Coelho e André Simão dividem as vozes e partilham alguns instrumentos com Paulo Araújo e Pedro Oliveira. Providence é a segunda canção do EPa ser divulgada ejátem direito a videoclip, que já circula nas televisões e na internet. Depois de várias paragens por este país fora, Lisboa prepara-se para receber novamente os Dear Telephone no dia 21 de Outubro, no festival Jameson Urban Route, a decorrerno Musicbox. O Palco Principal esteve à conversa com o grupo, não por telefone, mas sim por e-mail.

Palco Principal - Como surgem os Dear Telephone?

Dear Telephone - Através do processo mais comum: pessoas que partilham muitas afinidades musicais, com vontades semelhantes no que respeita um possível rumo estético, que experimentam a sintonia e verificam que ela, de facto, existe. Depois, numa sucessão de acontecimentos particularmente rápida, compusemos, gravámos et voilá.

PP - Cada elemento da banda já experimentou outras aventuras musicais, pré-Dear Telephone. De que forma essas experiências influenciam o projeto?

DT - Essas experiências contaminam, naturalmente,o universo dos Dear Telephone, mas de um modo mais subliminar que intencional. Antes de arrancarmos parao processo de composição, discutimos o que faríamos deste projeto. Não queríamos ser redundantes com os projetos a que já pertencíamos. Felizmente, o rumo estético escolhido tem pouco a ver com as bandas de que derivámos. E a abordagem é bastante diferente: desde o modo como compomos, à relação que estabelecemos com os intrumentos, à linguagem musical.

PP - Porquê otítulo “Birth of Robot” para o EP e a escolha da canção Providence para o primeiro teledisco?

DT - O nome Dear Telephone inspira-se diretamente numa curta-metragem do Peter Greenaway, chamada "Dear Phone". "Birth of a Robot" também é nome de filme - uma curta experimental do Len Lye. Quisemos que o nome representasse o olhar cínico e clínico sobre o quotidiano que as letras destilam e que expressasse uma abordagem bastante minimal à música. Ao mesmo tempo, gera ironia e contra-senso, já que robots, naturalmente, não nascem. Providence foi a canção que escolhemos para o videoclip por ter alguns ingredientes, lírica e musicalmente, que apeteciam ilustrar com imagens: a ideia de anti-climax, de fuga à realidade, de solidão e decadência interrompidas por um momento fugaz, que nunca se chega bem a perceber se é de lucidez ou de delírio histriónico.

PP - O EP é composto por seis canções, sendo que todas elas partilham um diálogo, como se de uma conversa telefónica se tratasse. Como surgiu essa ideia? Foi fácil conjugarem as duas vozes?

DT - A ideia do diálogo surgiu muito naturalmente, bem como a conjugação das vozes. Pareceu-nos a tradução direta de algumas das nossas influências (sitcoms e telefilmes, literatura de bolso...) a convergirem com a música. Há um lado teatral e cor-de-rosa que entra em confronto com as vozes lacónicas, negras, muitas vezes em uníssono mecânico. E ainda a ideia de duas personagens ativas, que a momentos se fundem, para darem origem a um narrador inexpressivo, e vice-versa.

PP - Ainda assim, a simplicidade mantém-se...

DT - Queremos ser esqueléticos e áridos em termos de arranjos e estruturas, explorando ao máximo as possibilidades dos instrumentos de cada um, em modo plug&play, com o mínimo de artifícios, dando espaço à mensagem literária e ao teatro que as vozes vão montando.

PP - Como tem reagido o público às vossas atuações ao vivo? Que feedback têm recebido?

DT - Temos recebido um feedback óptimo. E é interessante sentir que, desde o primeiro concerto, há seis meses, a banda continua a descobrir novas faces ao vivo, que entretanto abriram a porta a novas canções e abordagens.

PP - Como foi partilhar o palco comJay Jay Johanson e, maisrecentemente, com Anna Calvi, atuais referências da música indie pop?

DT - Este tipo de concertos tem a vantagem fundamental de dar visibilidade à banda, de provocar a atenção de um público potencial. De resto, é de referir que tanto o Jay Jay Johanson como a Anna Calvi usam perfumes elegantíssimos.

PP - Regressam, na próxima sexta,aos palcosde Lisboa, paraa edição 2011 doJameson Urban Route. O que podemos esperar deste concerto?

DT - Podem esperarversões mais soltas e «no arame» dos temas do EP, e temas novos que compusemos entretanto. Ao vivo revelamos uma face mais improvisada, mais dura e expressiva, que queremos continuar a explorar.

PP - Qual é o próximo objetivo dos Dear Telephone?

DT - Apesar de ainda estarmos na fase de promoção do EP, já começamos a pensar na edição de um álbum. É o passo mais óbvio, a médio prazo.

Ana Cláudia Silva