Palco Principal - Porquê tanto tempo de espera para o lançamento do segundo álbum?
João Eleutério - Foi o tempo necessário. Durante estes sete anos estivemos a fazer muita coisa, estivemos noutros projetos, com o Rodrigo Leão, o JP Simões... O Pedro fez um disco a solo que ainda está para sair... Houve muita coisa a acontecer. Curiosamente, e não tem nada a ver com o nosso regresso, o primeiro single que lançámos – não o single do disco, mas uma música de Natal que fizemos por brincadeira – comemora dez anos em dezembro. Foi a primeira coisa editada de Cindy Kat.
PP - Presumo que todos esses projetos e vivências tenham tido a sua influência neste disco...
João Eleutério - Muita. Por exemplo, este trabalho é menos electrónico e mais orgânico que o primeiro. Mas é uma mudança que já vem de trás. Apesar do nosso primeiro disco ter sido feito à base de máquinas, quando entrámos em digressão, percebemos que o projeto podia ser mais humano e assumir uma estrutura de banda (na altura, já tocávamos ao vivo com o Tiago Dias dos Amor Electro, na bateria, e com o Vasco Duarte – irmão do Jel – na guitarra). No nosso primeiro álbum havia muitas participações a nível vocal; neste temos o Pedro Oliveira como voz principal e as participações do Samuel Úria e do Gomo... Voltámos a trabalhar com o Tiago, que gravou as baterias todas, e temos ainda o Rui Rechena a fazer alguns baixos, e a Marisa Liz a fazer coros...
PP - E como é que surgiram estas participações todas?
Paulo Abelho - A partir do momento em que tens um estúdio de porta aberta a receber pessoas, em que algumas delas, para além de serem clientes, são também amigas, acabas por beneficiar da presença delas, da boa vontade e da disponibilidade para fazerem algumas coisas no teu disco.
João Eleutério - Até temos participações de pessoas que nem sequer têm nenhuma ligação direta com a música, como por exemplo o Diogo Borges, cuja área é o vídeo, que nos veio visitar e acabou a fazer coros.
PP - Neste disco não deram tanto espaço aos temas instrumentais. Porquê?
Paulo Abelho - O primeiro álbum tem essa característica, muito devido à sua própria génese. Era uma matriz muito eletrónica. Recordo-me que eu e o João [Eleutério] chegámos a fazer autênticas batalhas ao vivo, cada um no seu sintetizador a curtir e a fazer pura e simplesmente ruído.
João Eleutério - O processo aqui foi mais de banda, houve uma maturação ao vivo que nos levou a fazer esta mudança. O Pedro [Oliveira] no primeiro álbum não se queria assumir como vocalista fixo, queria ser visto como um convidado. Aqui começámos já a construir canções a pensar que temos mesmo um vocalista – fazemos a música a pensar que vai ter uma voz e que essa voz é o Pedro, independentemente dos convidados que possam mais tarde surgir.
PP - Samuel, neste álbum há três músicas escritas por ti. Cantas, inclusive, numa delas. Como é que foi trabalhar com os Cindy Kat?
Samuel Úria - É difícil identificar isto como trabalho... Eu sei que parece um bocado mau não assumir o lado profissional desta colaboração, mas foi um pedido que foi feito pelo João, um amigo que eu já conheço há muitos anos e que está completamente associado à minha história musical, visto ter estado presente nas minhas primeiras gravações mais amadoras e nas primeiras que eu fiz a nível profissional. E é através desta relação que venho a conhecer o Paulo Abelho. Quando me foi feito o convite, pensei que ia fazer canções para amigos e não houve esse peso de estar a trabalhar com deadline. Também não houve restrições em termos de temática, houve até alguma liberdade para tentar recriar a parte cantada dentro das próprias canções que me foram sugeridas. Então acabou por ser um pedido que foi correspondido com a amabilidade natural de quem faz coisas com gosto para os amigos. Sem esquecer o lado profissional, claro.
PP - Falavas agora de deadlines... Quanto tempo é que demorou todo este processo? Vocês já tinham temas compostos anteriormente?
João Eleutério - Há um ou dois temas deste disco que estiveram para entrar no primeiro (risos)... Inclusive, como não tinham letra, chegámos a tocar um deles ao vivo com uma letra inventada na altura. Portanto, há temas que ainda são desses tempos, e outros que ainda estavam em estado muito embrionário, acabando, por isso, por não fazer parte do primeiro álbum. Este processo tem sete anos, mas o trabalho mesmo a sério começou em 2010: foi nessa altura que começámos a organizar-nos e a ver o que tínhamos de material para avançar com a construção do álbum.
PP - Calculo que, sendo o nome do primeiro disco "Vol.1", este seja o "Vol.2", correto?
João Eleutério - Não, é só e apenas "Cindy Kat". Aliás, o primeiro disco também era para ser homónimo, mas havia uma componente gráfica com um botão de volume, e então ficou "Vol.1".
PP - Mas há alguma razão em especial para não terem dado nome ao álbum?
João Eleutério - Tem a ver com o facto deste álbum ser, ao fim de sete anos, o renascimento dos Cindy Kat. Não que estejamos a renegar o passado, mas porque musicalmente acaba por ser algo novo.
PP - O vosso single “Ema” já se encontra em rotação. Como é que tem sido o feedback das pessoas em relação ao vosso regresso? Reparei que tem havido alguma agitação na vossa página do Facebook...
João Eleutério - Nós criámos a nossa página em 2010. Desde então, tem andado meia adormecida... Nos últimos tempos, derivado à publicação e publicitação do nosso single, reparámos que o número de likes tem começado a aumentar...
Paulo Abelho - Nós fizemos todo este processo ao contrário do normal. Começámos a publicar coisas antigas, para analisar a reação das pessoas e ver se a malta ainda se lembrava das nossas músicas, e só depois é que começámos a colocar coisas novas. No entanto, acho que as reações propriamente ditas só as vamos ter quando tocarmos ao vivo, no dia 4 de novembro. Só aí é que vamos ter o verdadeiro feedback. As pessoas, neste momento, só conhecem o "Ema".
PP - Atuaram recentemente no programa "Cinco Para a Meia Noite", foi a vossa primeira apresentação ao vivo depois desta longa pausa. Como é que foi regressar aos palcos?
Paulo Abelho - Foi normal. Sinto que houve uma satisfação grande em estarmos em palco e em vermos as coisas a acontecer.
PP - Falem-me um pouco daquilo que vai acontecer no Misty Fest...
Samuel Úria - No meu caso, como já toquei no S. Jorge há relativamente pouco tempo, vou tentar alterar um pouco as estruturas das próprias canções, para não estar a repetir o mesmo formato e a mesma sonoridade, até porque, originalmente, quando surgiu esta ideia de fazer o concerto em conjunto, tinham-me pedido para apresentar algo diferente. E eu fiquei logo com a ideia de introduzir alguns elementos que não costumo utilizar - mas que aprecio - a nível electrónico, até para haver uma maior aproximação dos dois concertos. Depois deixou de ser necessária essa novidade... Mas, ainda assim, houve coisas que ficaram na ideia quando surgiu este convite, que eu vou querer manter.
João Eleutério - Vão ser dois concertos separados. O Samuel irá participar na nossa atuação, e depois logo se vê o resto... Estamos na fase da preparação ainda...
PP - O que vos reserva o futuro?
João Eleutério - As coisas têm que acontecer naturalmente. Como é óbvio, não vamos lançar este disco e acabar. A ideia é continuar, até porque já há ideias para um próximo trabalho. É preciso é tempo para fazer as coisas, mas, possivelmente, não serão sete anos de espera (risos)... Como nós vivemos de outras coisas que não exclusivamente a banda, não temos essa pressão de lançar discos, nem de fazer concertos.
Samuel Úria - Eu tenho algumas canções em mente, só ainda não sei o que fazer com elas. Não estou a planear fazer, para já, um álbum de longa-duração, mas como eu tenho sempre muitas ideias e consigo escoá-las de uma forma simples, seja pela internet, seja a fazer edições caseiras, se calhar ainda sou capaz de avançar com alguma coisa até ao final deste ano.
Manuel Rodrigues
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