Rodeado pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa, a figura esvoaçante de Antony, vestido de negro, surge em palco e entoa um "Boa noite, Cascais" - palavras que arrepiaram, desde logo, os mais sensíveis ao encanto da suavoz singular. Abrindo o espetáculo com Rapture, seguiu-se Cripple and Starfish, ambas faixas do primeiro álbum de Antony and the Johnsons.E assim se deu início ao desfile dos mais belos temas do artista.

For Today I am a Boy foi recebida calorosamente e num momento de pura harmonia, coma Orquestraa abraçara voz de Antony e de um público que cantava em uníssono. De destacaro fantástico trabalho do maestro Anthony Weeden na reinvenção das canções e a humildade de Antony perante a Orquestra Sinfonietta de Lisboa que, por diversas vezes, foi adorada pelo próprio, de joelhos, em forma de agradecimento.

Crazy in Love, cover que faz, habitualmente, parte do seu repertório ao vivo, surge com uma densidade estonteante. Antony oferece à música de Beyoncé uma totalmente nova carga emocional. Já Salt Silver Oxigen teve direito a um prólogo, transformando-se no grande momento de interacção com a reverente plateia que encheu o Hipódromo.

De uma sensibilidade única em relação à humanidade e ao ambiente, Antony mune-se da sua voz para convidar todos a ter esperança e a reinventar algo de maravilhoso: "This is what hope looks like". E ele é a perfeita personificação dessa mesma esperança.

Já perto do final, ainda fomos embalados por temas como You Are My Sister, The Crying Light e Twilight.

A colmatar esta maravilhosa noite, Antony regressa ao palco e deixa-nos ir para casa esperançosos como o mítico tema Hope There's Someone, tocado pelo próprio ao piano. Ghost, "música que cantamos ao nosso espírito quando morremos", encerra o espetáculo único de uma das mais peculiares e fascinantes figuras da música de hoje, Antony Hegarty.

Texto: Joanica Cardoso

Fotografias: Luis Martins