Atenda que acolhia opalco Super Bock já estava suficientemente composta quando os norte-americanos Crocodiles entraram em cena. Cheio de estilo ecom umvisual retro, o grupo de Charles Rowell e Brandon Welchez é, no mínimo, antitético: maneja os seus instrumentos de forma clássica, enquanto reinventava a música de maneira psicadélica. O público recebeu-o com entusiasmo, com as músicas Summer of Hate e Sleep Forever a ajudar mais à festa.
Na tenda ao lado, no palcoOptimus Clubbing, um som electrónico salpicadocom funk saía, estridente, pelas colunas. A lisboeta Da Chick fazia a festa,acompanhada por um DJ e um baterista. As canções saíam-lhe de rajada, quase sem lhe dar oportunidade para respirar. O público, atónito, inventava coreografias desconcertantes.
De regresso ao palco Super Bock. Vestidoscom macacões monocromáticos, os Everything Everything inauguraram a actuação com o tema Qwerty Finger, prosseguindo com mais temas do álbum "Man Alive". O grupo de Manchester apresentou-se em palco com guitarras potentes e um baixo comprometedor. Entre saudações várias - "Somos os Everything Everything e vimos de Inglaterra" era a mais repetida -, o quarteto ainda apresentou os singles Final Form e Schoolin. O público mostrou-se receptivo a mais uma aposta ganha da Everything is New para o final da tarde.
À hora marcada, os norte-americanos Jimmy Eat World abriram as hostilidades no palco Optimus. Jim Adkins, o líder da banda (que muitos acham parecidocom oactor Jim Carrey), apresentou duas músicas novas, embora, ao longo do concerto, tenha repescado os êxitos de "Bleed American" - um trabalho bastante aclamado pela crítica, com grande saída no mercado discográfico.
Os anos parecem nãoter alterado em nada o estilo musical do grupo. A sonoridade mantém-se e a ideia de que são uma banda criadora de hits de filmes para adolescentes também. Foi curioso ouviras pessoas a cantarolarem algumas músicas, mas foi, de facto, o êxito The Middle que mais furor criou entre a assistência.
Teletransportámo-nos para o palco Super Bock, paratestemunharmos aquela que viria ser uma das melhoresperformances do segundo dia do certame: Seasick Steve, com aspecto de avô motard em plena Route 66, com tatuagens arrojadas que lhe dão ar de brigão, estava em palco, acompanhado por um baterista, que mais parecia ser o seu irmão gémeo.
O público aplaudia e divertia-se com este contador de histórias e cantor de canções graciosas. Em cima do palco, garrafas de vinho para matar a sede. Os instrumentos? Pareciam ter vindo directamente da guerra: a guitarra cheia de fita isoladora e outros tantos instrumentos improvisados com caricas, plástico, arames e pregos.
Definitivamente, este homem não privilegia o glamour do rock. Tudo o que faz é puro, genuíno. Entre canções, relata que um dia descobriu que o seu avô era açoriano e que, desde então, se enamorou pela língua portuguesa. Bastante comunicativo e com forte sentido de humor, transmite a musicalidade do blues e esta penetra a alma dos presentes, que depressa abarrotaram a lotação da tenda.
No palco Optimus os gritos dos adolescentes ouviam-se a quilómetros de distância – sinal de que Gerard Way e os restantes elementos da banda My Chemical Romance estavam a entrar em cena. De cabelo vermelho e camisa verde (semelhança às cores da bandeira portuguesa é pura coincidência) o vocalista torna-se o maestro deste espectáculo, que puxa mais pelo estilo punk rock emo. Mais contido, sema teatralidade do costume, Gerard Way canta Na Na Na, To The End e pede ao público para dançar e cantar.
Depois das saudações habituais,houve ainda tempo e disposição para elogiaras vistas para o rio, bem como o tempo fantástico que se fazia sentir.Seguiram-se osgrandes sucessos, como Destroya e Teenagers, que colocaram o público em enorme frenesim. Em Welcome To The Black Parade, o vocalista enrolou a bandeira nacional ao microfone e, em coro o público, cantouemocionado. Antes de se despedir, abanda afirmou aindater algumas saudades de tocar ao ar livre – nomeadamente em festivais –, agradecendoa atenção de todos. O público retribuiu, claramente.
A partir daqui, o público dividiu-se entre Xutos& Pontapés e Primal Scream. Os primeiros contaram com o regresso de Zé Pedro na guitarra, depois de este ter sido submetido a uma operação ao fígado. De boa aparência, este agradeceu todo o apoio que todos lhe têm dado e realçou queas saudades de pisar um palco eram "mais que muitas". Bastante alegres e com um público do mais fiel que há, a banda de Tim, Kalú e Zé Cabeleira mostrou de que garra é feita o rock português. Não faltaram, claro, os êxitos Não Sou o Único, À Minha Maneira e a Casinha.
Do outro lado do recinto, os Primal Scream não desiludiram ninguém ao reviverem o grande álbum "Screamadelica", que permanece imortal na memória de todos. Nos ecrãs apenas apareciam manchas de cor, como se de tinta a escorrer se tratasse. Em palco, a simplicidade dos músicosmarcou o grande concerto, que fez muitos baloiçarem os seus corposcom movimentospsicadélicos.
Bobby Gillespie, de camisa prateada e com uma agilidade de meter inveja, interpretou os clássicos Higher Than The Sun, Loaded eCome Together, consagrando-se perante osgrandes «rivais» da noite, Iggy e Foo Fighters.Para surpresa de todos, anunciou ainda que a banda está a trabalhar num novo álbum de originais, que, de certeza, fará sucesso entre os apreciadores do género.
Carisma e atitude é coisa que não falta aos Primal Scream e a idade parece nãopassar por eles.
No palco Optimus, os nomes sonantes do cartaz estavam prestes a chegar. Primeiro de todos – Iggy (que de Pop não tem nada) acompanhadopelos The Stooges. Com o seu estilo incontornável, de calças pretas e tronco nu (onde a pele mostra os sinais do tempo), Iggy explode de energia e contagia todos os presentes.
Oespectáculo resume-se a frases de revolta: "fucking commercial bands", "pop bullshit","security is a lie", fuck festival shit", enfim, "fuck everything" -o que arrancou gargalhadas e aplausos constantes.Ao palco, Iggy faz subir alguns elementos da plateia, para desespero dos seguranças, que tentavam por tudo manter a ordem. Felizes e contentes em cima do palco, essas poucas pessoas aproveitaram para tirar fotos com o cantor, enquanto esteentoava os primeiros acordes deRiot. Mesmo a calhar, não?
Ao longo de1h20 de concerto, a vitalidade de Iggy contagiou todos: ele rastejou, mordeu fios de microfone, evidenciando, sempre que possível, a sua postura de bad boy. Search and Destroy e I Wanna Be Your Dog foram outros hits cantados por ele e pela plateia, rendida. Foi um bom (e mais que bom) aquecimento para o que estava para vir.
Quem já lá estava, permaneceu no mesmo sítio; os que não estavam, corriam em busca de um lugar privilegiado onde pudessem assistir ao concerto da banda norte-americana, cabeça de cartaz. Os Foo Fighters encantaram ao longo de duas horas e meia de concerto, mas o público queria ainda mais e mais.
De pastilha na boca e discurso desarticulado, Dave Grohl cantou Bridges Burning(single do seu último álbum, "Wasting Times") e Rope. Seguiu-se Pretender e, com o tema, corpos aos pulos, dançando freneticamente. Em palco, duas bandeiras: a portuguesa e outra, com cores idênticas, com as iniciais do colectivo.
Dave Grohl anuncia que a noite vai ser longa, criando logo empatia com os presentes. Gritos de satisfação ecoam por todo o recinto. Seguem-se White Limo e Arlandria, cantadas em uníssono.
Dave Grohl relembra os presentes que todo este último álbum foi gravado na sua garagem, transformada, para o efeito, num super estúdio. Como eles há, portanto, poucos: uma autêntica banda de garagem. Na memória de todos ficará também a voz de Grohl a cantar Best of You, All My Life e Times Like These - esta última em versão semi-acússtica. Todos êxitos estrondosos com videoclips que enchem o olho.
Fãs ou não fãs de Foo Fighters, todos saíram dali de alma cheia, numa madrugada inesquecível, que muitos quererão repetir o mais depressa possível.
Simultaneamente, no palco Super Bock, passaram os portugueses Teratron,com Luxúria Canibal também presente.
A noite podia estar fria, mas todos fomos para casa com o coração bastante quente.Venha o terceiro dia!
Texto: Ana Cláudia Silva
Fotografias: Filipa Oliveira
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