Quando o Clubbing do mês de maio nos oferece, de bandeja, Alice Russell e Quantic como atração principal, as expetativas são, certamente, elevadas.

Aexcitação moderada vivida à porta do edifício, minutos antes de ter início o concerto, dá lugar à concentração, já dentro da sala Suggia, que se apresenta lotada. Por entre risos e comentários aleatórios, Alice entra em palco. Com a sua voz inconfundível, interage de imediato com a plateia, pedindo, indiferenteàdisposiçãodo espaço,aos presentes para se levantarem, de forma a sentirem a música "do início ao fim, sem hesitãções ou medos".

O público, entusiasmado, acede imediatamente ao pedido, correndo para a frente do palco.Haverá melhor local para assistir à entrega únicade Alice e à fusão harmoniosaentre esta eos restanteselementos que com elaco-habitam em palco- DJ Quantic e Combo Bárbaro?

E eis que asoul, o blues, o gospel eo folk tomam conta da sala Suggia, num swing desigual. As luzes acompanham fielmente o ritmo das canções, que invocam vozes ausentes e geram aplausos compulsivos por parte dos que acompanham a atuação.

Alice Russellmostra-se uma performer como poucas. É súbtil, delicada com o público, mas também poderosa, cativante. Agarraa assistênciacom a sua simpatia, iludindo-a num ambiente intimista, numa felicidade incomparável, numa energia inesgotável. O concerto não é, definitivamente,feito do palco para a plateia. Decorre numa linha paralela.

"Look Around The Corner" é apresentado detalhadamente, mas o público parece já conhecê-lo de cór, com as letras bem estudadas e as melodias na ponta da língua. A entrega é total.

A certa altura, os músicos já se passeiam pela plateia. A devoção é recíproca. A entrega, a partilha são inegáveis. A sala continua lotada, mas, acima de tudo, preenchida.

Isabel Fernandes