O momento e as circunstâncias são para descobrir no filme, mas o momento subliminar está a ser muito comentado na comunicação social: Will Smith leva mais do que uma bofetada numa cena de "Bad Boys: Tudo ou Nada" e é impossível que desconhecesse as suas implicações.

'Isso pode salvar a sua carreira', diz a revista Variety num artigo em que explica o contexto em que o quarto filme da popular saga de ação iniciada em 1995 chega ao grande ecrã esta semana.

De facto, é caso para dizer que o título "Tudo ou Nada" é apropriado: Hollywood encara este como o grande teste à popularidade do ator nas bilheteiras após ter dado uma bofetada ao comediante Chris Rock na cerimónia dos Óscares a 27 de março de 2022.

Os espectadores nunca viram algo desta dimensão numa cerimónia deste género em direto e o momento foi dissecado até à náusea: Smith demitiu-se da Academia cinco dias depois de ganhar a estatueta de Melhor Ator por "King Richard", foi suspenso de todos os seus eventos durante dez anos e pediu desculpa publicamente a Rock, que usou o que aconteceu para o seu especial de comédia na Netflix quase um ano depois.

O episódio entrou para a cultura popular, ficando conhecido na cultura anglo-saxónica como "The Slap" [A Bofetada] ou "The Incident" [O incidente] e ainda está presente no imaginário coletivo, mas não na campanha de promoção das últimas semanas, onde Smith se desdobrou em entrevistas em vários programas seguros 'amigos das estrelas', muitas vezes ao lado do parceiro Martin Lawrence.

A Variety diz que 'os jornalistas não foram instruídos abertamente a não perguntar sobre o incidente dos Óscares, mas foram geralmente aconselhados a não trazer à tona histórias antigas e instados a manter as suas perguntas sobre o filme'.

Daí que as bofetadas no novo "Bad Boys" sejam a primeira vez que Smith aborda subliminarmente o "The Slap" desde a emotiva entrevista a Trevor Noah no programa Daily Show em novembro de 2022, quando regressou à ribalta para promover "Emancipação", o épico sobre o esclavagismo da Apple TV+, que não estreou nos cinemas e os Óscares ignoraram completamente.

Como é que será recebida a cena? O crítico da Variety diz que 'funciona como uma espécie de exorcismo pop', uma forma de "‘punir’ Smith, gozar cruelmente da sua transgressão e, talvez, no processo, permitir que ele consiga sair do peso dessa imagem".

Já o Daily Beast caracterizou a piada como “de mau gosto”, escrevendo que o 'piscar de olho prova ser uma inversão auto-engrandecedora do colapso dos Óscares de Smith”, como parte da necessidade da reabilitação da sua imagem.

Promoção: Martin Lawrence e Will Smith a 4 de junho

Segundo a Variety, a cena 'meta' parece surtir o efeito pretendido pela equipa: com conhecimento de causa, o público riu tanto no visionamento de imprensa como na antestreia mundial em Los Angeles a 30 de maio, onde Smith abordou indiretamente o contexto ao elogiar Lawrence e destacar o apoio da equipa da Sony, citando especificamente o executivo Tom Rothman como alguém que já o colocava no seu lugar na altura em que parecia intocável.

Muitos dos seus fãs já sinalizaram nas redes sociais que o perdoaram há muito tempo, mas os resultados de bilheteira do primeiro fim de semana serão o derradeiro teste para saber se o grande público em geral apoia ou não o 'regresso'.

Em agosto de 2022, no estudo do Q Score, um influente índice americano que mede a fama e o impacto das celebridades e é usado como referência no mundo da publicidade, marketing, relações públicas e comunicação social, a reputação de Smith caiu de 39 pontos positivos para 24 (ou seja, 24% das pessoas sondadas indicam-no como uma das suas celebridades preferidas). Em janeiro de 2024, o índice desceu para 19 (o próximo estudo será conhecido em julho).

O estúdio Sony prevê uma estreia de 30 milhões de dólares de 3850 salas na América do Norte, os rivais acreditam que chegará aos 45 ou 50, mas meios independentes esfriaram as expectativas, baixando para os 40, numa altura em que as desilusões comerciais se repetem nas salas semana após semana.

Por comparação, num mundo muito diferente, "Bad Boys Para Sempre" arrancou acima das expectativas em janeiro de 2020, com 62 milhões, tornado-se o maior sucesso das bilheteiras desse ano em que os cinemas fecharam pouco depois por causa da pandemia.

Smith não tem mais nenhum projeto em vias de avançar. Segundo várias fontes ouvidas pela revista The Hollywood Reporter, os seus agentes entraram em contacto com os estúdios nas últimas três ou quatro semanas pela primeira vez desde "The Slap" para saber que têm projetos que sejam apropriados 'e até fizeram uma ou duas sugestões'.

'A esperança é que o próximo filme possa ser anunciado de forma relativamente rápida, caso 'Bad Boys 4' funcione. E pelo menos um grande estúdio de Hollywood está a pensar no ator para um projeto de alto nível com propriedade intelectual de marca se o filme tiver sucesso', disse uma fonte.

'Bastaria um grande anúncio de casting para mudar o seu ímpeto como ator. Ainda assim, a menos que 'Bad Boys 4' acerte em cheio, outros estúdios podem precisar de mais provas antes de apostarem nele", acrescenta a revista.

"Irá abrir a porta, mas será o próximo filme que permitirá passar por ela", disse um executivo.