O cineasta iraniano Jafar Panahi foi recebido como um herói em seu regresso a Teerão na segunda-feira pelos seus apoiantes depois de vencer o prémio máximo do Festival de Cinema de Cannes, segundo imagens publicadas nas redes sociais.

Após ser proibido de sair do Irão durante 15 anos e forçado a fazer filmes clandestinamente e a passar períodos na prisão, Jafar Panahi compareceu pessoalmente no festival francês e, de forma sensacional, conquistou no sábado a Palma de Ouro por "It Was Just an Accident" (“Um Simples Acidente”, em tradução livre), um filme crítico do regime dos aiatolas.

Com alguns fãs preocupados com a possibilidade enfrentar problemas no seu regresso ao Irão, ele chegou sem incidentes ao principal aeroporto internacional de Teerão, batizado em homenagem ao fundador da Revolução Islâmica de 1979, o aiatola Khomeini, na madrugada de segunda-feira.

Foi imediatamente aplaudido por apoiantes que o aguardavam na zona pública enquanto descia as escadas rolantes da área do controlo de passaportes para a retirada de bagagens, segundo imagens publicadas nas redes sociais pelo observador de direitos humanos Dadban.

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Podia ouvir-se uma pessoa a gritar "Mulher. Vida. Liberdade!", o slogan do movimento de protesto de 2022-2023 que abalou as autoridades iranianas.

Ao sair, Jafar Panahi foi recebido por cerca de uma dúzia de apoiantes que não foram dormir para recebê-lo, de acordo com imagens partilhadas nas redes sociais pelo realizador iraniano Mehdi Naderi e transmitidas pelo Canal Internacional do Irão, sediado fora do país.

Com um largo sorriso e a acenar, foi aplaudido, abraçado e recebido com flores.

"Sangue fresco nas veias do cinema independente iraniano", escreveu Naderi.

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Gesto de resistência

A calorosa receção dos fãs no aeroporto contrastou com a reação morna da imprensa estatal iraniana e de autoridades à primeira vez que um cineasta iraniano recebeu a Palma de Ouro desde "Sabor de Cereja", do falecido Abbas Kiarostami, em 1997.

Embora evocado por meios da impresa estatal como a agência de notícias IRNA, o triunfo de Jafar Panahi recebeu pouca cobertura dentro do Irão e também desencadeou uma tempestade diplomática com a França.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noel Barrot, chamou à vitória "um gesto de resistência contra a opressão do regime iraniano" numa publicação na rede social X (antigo Twitter), levando Teerão a convocar o encarregado de negócios da França para protestar contra os comentários "insultuosos".

"Não sou especialista em arte, mas acreditamos que eventos artísticos e a arte em geral não devem ser explorados para fins políticos", disse Esmaeil Baqaei, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão.

"It Was Just an Accident" (“Um Simples Acidente”, em tradução livre) tem uma carga política, mostrando cinco iranianos a confrontar um homem que acreditam que os tornurou na prisão, uma história inspirada na própria experiência de Jafar Panahi na prisão, onde ouviu histórias de outros detidos.

Após ganhar a Palma de Ouro, o cineasta também fez um forte apelo à liberdade no Irão.

"Vamos deixar de lado todos os problemas, todas as diferenças. O que é mais importante agora é o nosso país e a liberdade do nosso país."