O filme foi selecionado para a competição de curtas-metragens, a mesma secção onde, nos últimos sete anos, o cinema português foi premiado por três vezes, com filmes de João Salaviza, Leonor Teles e Diogo Costa Amarante.
"Past Perfect" deriva da peça de teatro "Antes", de Pedro Penim, na qual Jorge Jácome tinha trabalhado a componente visual. O realizador reescreveu o texto original, adaptando-o às suas interrogações pessoais e ao contexto cinematográfico.
"O texto original é uma conversa entre um dinossauro e um psicanalista. Neste filme removi isso, para ficar uma coisa mais dúbia, de onde é que vem esta conversa. O texto vai recuando na história, para tentar perceber o mal-estar do presente. Para saber de onde vem a origem da melancolia", explicou.
Apesar de ter feito vários trabalhos durante o tempo em que estudou na Escola Superior de Teatro e Cinema, Jorge Jácome considera-se realizador a partir de "Plutão", curta-metragem de 2013. Depois desse fez as curtas "A guest + a host = a Ghost" (2015), "Fieste Forever" (2017) e "Flores" (2017).
Jorge Jácome apresenta, então, "Past Perfect" como "um balanço e um ponto de situação" sobre o que faz e para onde quer seguir no cinema, tendo como base essa perceção da origem da melancolia.
"A melancolia, para mim, é uma coisa muito mais individual e pessoal, por isso é tão difícil de explicar. E este ‘Past Perpect’ está constantemente a dizer que é difícil de explicar, de traduzir, de passar para imagens e para texto o que é este sentimento", contou.
O festival de cinema de Berlim começa no dia 07 e Jorge Jácome apresentará o filme no dia 12.
O realizador, que soma já alguns prémios, em particular com "Flores", admite surpresa por "Past Perfect" ter sido selecionado para Berlim: "Não é um filme que seja muito clássico em termos cinematográficos, não é uma ficção, não é um documentário, também não é experimental, não tem atores, não tem uma conversa que se ouça, não tem uma luz que costumo desenvolver nos meus outros trabalhos".
Jorge Jácome fala de uma especificidade do cinema português, mas não consegue atribuir-lhe uma razão.
"Portugal tem um cinema muito específico que é muito difícil de comparar com uma escola americana ou mesmo francesa. A realidade do cinema português é outra. É uma coisa mais artesanal, livre, com várias possibilidades, com vários pontos de olhar, não há assim tantas ligações entre realizadores portugueses. Faz com que o cinema feito em Portugal, de realizadores portugueses, seja tão diverso", considerou.
O realizador recorda que, durante dois anos, integrou um trabalho de investigação, em contexto de universidade, sobre os últimos 20 anos do cinema português. "Não cheguei a conclusão nenhuma. Não há uma conclusão por que é que o cinema português é tão diversificado e tão respeitado lá fora".
Nascido em Viana do Castelo em 1988, cresceu em Macau, até à transferência administrativa do território para a China em 1999. De regresso a Portugal, estudou na Escola Superior de Teatro e Cinema, sem ter ideias certas de que queria seguir cinema.
"O que foi entusiasmante foi que na escola aprendi pela primeira vez a ver cinema e a ver filmes aos quais não tinha acesso. Aprendi mesmo tudo do zero. Não era cinéfilo antes de entrar para a escola", recordou.
Depois rumou a França, para uma pós-graduação na Le Fesnoy, onde aprendeu a desconstruir os ensinamentos anteriores.
Enquanto prepara a estreia de "Past Perfect" em Berlim, no começo de um percurso internacional do filme, Jorge Jácome está a trabalhar numa curta-metragem de ficção e numa longa documental, para as quais procura financiamento. Entretanto, começou a dar aulas de realização.
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