A caminho dos
Óscares 2023
Pré-nomeado aos Óscares em 2023, o filme marroquino "Le Bleu du Caftan" ("Túnica Turquesa", em tradução livre) "pode contribuir para a criação de um debate saudável e necessário sobre a homossexualidade", declarou a sua realizadora em entrevista à France-Presse (AFP).
Na sua segunda longa-metragem (depois de "Adam", de 2019), Maryam Touzani conta a história de Halim e Mina, um casal unido e sem conflitos que vive com um grande segredo: a homossexualidade de Halim.
Escolhido para a candidatura aos Óscares por Marrocos, a produção foi incluída na lista de 15 finalistas para a categoria de Melhor Filme Internacional dos prémios americanos.
"É uma grande honra poder representar Marrocos e carregar as cores do país nesta fase da competição", conta Touzani.
"O facto do meu filme representar Marrocos é um avanço. O simbolismo é belo e forte. Expressa um desejo de abertura e diálogo", expressa a realizadora.
A prova disso, de acordo com Touzani, é que o filme foi escolhido por uma comissão oficial composta por profissionais do cinema para representar o país nos Óscares..
Foi uma escolha ousada num país conservador, onde a homossexualidade é um tema tabu que divide a opinião pública e continua a ser punida com três anos de prisão.
Sem julgar
"Magoa-me e dói-me ver as pessoas (LGBTQIA+) a viverem escondidas, com medo, e que a expressão do seu amor seja sufocada, negada e julgada", lamenta a cineasta de 42 anos.
A história passa-se na Medina de Salé, vizinha da capital Rabat. A vida de Mina e Halim, interpretados pela atriz belga Lubna Azabal e o ator palestino Saleh Bakri, vira de cabeça para baixo com a chegada de um jovem aprendiz ao seu atelier de kaftan, uma túnica tradicional de Marrocos.
A aproximação entre Youssef, interpretado pelo marroquino Ayoub Missioui, e o seu mestre alfaiate fá-los embarcar numa nova e plural experiência de amor, junto de Mina.
"Muitas vezes tendemos a rotular histórias de amor, mas o meu desejo mais profundo era contá-la sem julgá-la", explicou Touzani, que ganhou o prémio da crítica internacional com este filme no Festival de Cinema de Cannes.
Tanto nos contos de fadas como na amarga realidade, a realizadora considera que "as mentalidades precisam mudar".
"Liberdade de amar"
Embora relativamente menos reprimida do que noutros países da região, a homossexualidade em Marrocos ainda recebe punição, mesmo que a perseguição não seja sistemática.
"A liberdade de amar pertence-nos", destacava a realizadora à AFP em novembro durante o Festival de Marrakech, onde "Le Bleu du Caftan" recebeu o prémio do júri.
A longa-metragem também valoriza a confeção artesanal do kaftan, peça tradicionalmente usada em ocasiões especiais em Marrocos.
"O filme também explora o amor por uma profissão, a de maalem [mestre alfaiate, em árabe marroquino], que tende a desaparecer. A evolução da história ocorre paralelamente à confeção do kaftan", examinou Touzani.
"Le Bleu du Caftan" é a segunda obra marroquina da história a ser pré-nomeada ao Óscar, depois de "Omar m'a tuer" ("Omar Matou-me" em tradução livre), de 2011, do franco-marroquino Roschdy Zem.
A lista final de filmes nomeados será divulgada a 24 de janeiro.
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