
A política voltou ao primeiro plano no Festival de Cannes, que sempre teve as portas abertas às reivindicações da comunidade cinematográfica.`
O evento inaugurou a sua 78.ª edição na terça-feira e incluiu uma homenagem comovente a uma fotojornalista palestiniana morta em Gaza, protagonista de um documentário que estreará na tradicional mostra de cinema francesa.
A presidente do júri, a atriz francesa Juliette Binoche, prestou homenagem a Fatima Hassouna, que morreu num ataque israelita.
"Fatima deveria estar aqui, entre nós. A arte permanece. Ela é o testemunho poderoso dos nossos sonhos. E nós, os espectadores, acolhemos isso", disse Binoche na cerimónia de gala de abertura.
Hassouna morreu um dia depois de o documentário "Put Your Soul on Your Hand and Walk" ("Ponha a alma na mão e caminhe", em tradução livre), dirigido pela iraniana Sepideh Farsi, que ela protagoniza, ser selecionado para a ACID, secção paralela da mostra francesa.
Boa parte da sua família morreu com ela.
"O vento da dor é tão violento hoje que leva embora os mais frágeis", disse Binoche, que também lembrou "os reféns de 7 de outubro e todos os reféns, os prisioneiros".
A 7 de outubro de 2023, milicianos islamistas do Hamas mataram 1.218 pessoas em Israel, a maioria civis, de acordo com uma contagem da France-Presse baseada em dados oficiais.
Também sequestraram 251 pessoas, das quais 57 permanecem em cativeiro em Gaza, incluindo 34 que o exército israelita declarou mortas.
A ofensiva de Israel em represália matou mais de 52 mil pessoas no território palestiniano, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados fiáveis pela ONU.
A poucas horas da cerimónia de gala em Cannes, mais de 380 personalidades da indústria cinematográfica publicaram uma carta aberta de denúncia à guerra.
Assinada por Pedro Almodóvar, Susan Sarandon, Richard Gere, Alfonso Cuarón, Javier Bardem e Costa-Gavras, entre outros, a carta recorda a tragédia de Hassouna e questiona-se: "De que serve o nosso ofício se não é para aprender com a História (...), se não estamos presentes para proteger as vozes oprimidas?".
"O festival é político quando os artistas o são", tinha dito em conferência de imprensa Thierry Frémaux, o delegado-geral de Cannes.
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