As exibidoras de cinema em Portugal pediram hoje (27) ao Governo medidas específicas que compensem o encerramento temporário das salas, porque “há custos altíssimos e incomportáveis” com pagamento de rendas e salários.
“As empresas estão preocupadíssimas com a situação, porque a única fonte de receita é a exibição, a publicidade e, eventualmente, a ajuda de outros serviços, como é o caso das pipocas e refrigerantes”, afirmou à agência Lusa Lima de Carvalho, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC), que representa a maioria da rede de exibição comercial.
A APEC divulgou hoje uma carta aberta, dirigida ao Ministério da Cultura e ao Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), apelando a “medidas que evitem a progressiva fragilização económica das empresas ou até mesmo o incumprimento das suas obrigações sociais, patrimoniais e fiscais”.
Questionado pela Lusa sobre medidas específicas para as exibidoras, Lima de Carvalho não entrou em pormenores: “O que se pede é apoio. Não sabemos quais as disponibilidades quer do Ministério da Cultura quer do ICA para poder apoiar. Neste momento é uma solicitação genérica e um alerta para a situação das salas de cinema nesta emergência”.
Segundo o secretário-geral da APEC, neste momento não estão em risco nem os postos de trabalho nem os salários dos cerca de dois mil trabalhadores que laboram nos recintos de cinema, “mas tudo dependerá da evolução” do estado de emergência.
“Com o encerramento, os cinemas não têm qualquer fonte de onde lhes provenha qualquer tipo de receita para enfrentar esta situação”, disse.
Na carta aberta, a associação afirma que “os operadores continuam com custos altíssimos e incomportáveis”, estimados em três milhões de euros, para, mais à frente, especificar que esse valor é gasto em pagamento de rendas e salários.
“Após a proibição administrativa de encerramento das salas, como é que vai ser recuperado o público e em que condições é que as salas podem ser reabertas? Não se sabe, tudo depende do tempo de encerramento e de eventuais apoios que neste momento não existem”, afirmou o secretário-geral.
A APEC representa a maioria das exibidoras em Portugal, com cerca de 450 das 583 salas de cinema. Entre as empresas representadas por esta associação estão as empresas NOS Cinemas, UCI, Cineplace, Cinema City e Socorama.
De acordo com o ICA, em 2019 a exibição comercial de cinema gerou 83,1 milhões de euros de receita de bilheteira, dos quais 50,9 milhões de euros (61,3%) foram registados nas 219 salas exploradas pela NOS Cinemas.
Desse total das receitas, a exibidora UCI (45 salas) obteve 9,3 milhões de euros, a Cineplace (85 salas) 9,1 milhões de euros, a Cinema City (46 salas) 6,1 milhões de euros e a Socorama (31 salas) 3,8 milhões de euros.
Este mês, as exibidoras foram encerrando as salas de cinema ao público, depois de o Governo ter declarado o estado de alerta, e decretado depois o estado de emergência, para conter a propagação da doença Covid-19.
Além das medidas extraordinárias, gerais para as empresas e trabalhadores, uma das específicas para o setor do cinema abrange as exibidoras.
Por decisão do ICA, os exibidores deixam, temporariamente, de reter 7,5% do preço de venda ao público dos bilhetes de cinema, porque a rede de exibição comercial está praticamente paralisada.
Para a APEC, esta é “uma medida inútil, porque não havendo receita não há nada a reter”.
Segundo Lima de Carvalho, uma das atividades da APEC, a Festa do Cinema, com três dias de exibição de cinema a preços reduzidos, deverá ser adiada de maio para outubro, em data a confirmar.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 540 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil.
Em Portugal, registaram-se 76 mortes, mais 16 do que na véspera (+26,7%), e 4.268 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 724 novos casos em relação a quinta-feira (+20,4%).
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