A afluência aos cinemas portugueses caiu a pique após o Natal, quando passou a ser exigido o comprovativo de teste à COVID-19 ou a realização de autoteste para se ter acesso.
Os 10 filmes mais vistos nos cinemas entre 27 a 29 de dezembro (segunda e quarta-feira) tiveram 34.546 espectadores, em contraste com os 164.145 que foram ao cinema entre 20 e 22 de dezembro, os mesmos dias da semana anterior. A quebra de afluência foi de 78,96%.
Os números entre 20 e 22 de dezembro estão inflacionados pela semana de estreia de "Homem-Aranha: Sem Volta a Casa", que representou 112.124 dos 164.145 bilhetes vendidos para os dez filmes mais vistos.
Com menor impacto, o filme também liderou as preferências dos que foram ao cinema entre 27 e 29 de dezembro: 12.494 dos 34.546 bilhetes do Top 10.
Retirando esses bilhetes, a quebra de espectadores para os outros nove filmes nesses dias desce para 57,17%.
O cálculo de quantos bilhetes foram vendidos entre segunda a quarta-feira é possível graças aos dois rankings divulgados pelo Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA): às segunda-feiras é lançado o Top 40 dos filmes mais vistos entre quinta-feira (o dia habitual das estreias) e domingo; e às quintas-feiras o Top 20 dos mais vistos da semana de cinema que termina às quartas-feiras.
Os cinemas portugueses estiveram fechados no sábado (25) e não existem dados públicos sobre a afluência no domingo, o primeiro dia em que se tinha de apresentar o comprovativo de teste à COVIDd-19 ou o teste negativo da realização de autoteste, mas em declarações nesse dia à CNN Portugal, António Paulo Santos, da FEVIP - Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais, antecipava que podia nem chegar aos mil espectadores.
Esta quarta-feira, os exibidores portugueses de cinema consideraram “uma trapalhada” e “um desnorte total” a divulgação das normas da Direção-Geral de Saúde (DGS) para aceder a eventos culturais.
“Trapalhada é algo que se adequa. Estas alterações implicam um esforço imenso das empresas, é preciso passar a informação a centenas de trabalhadores e isto é feito com uma leveza que, sinceramente, me custa a entender”, afirmou à Lusa o exibidor Paulo Aguiar, da exibidora UCI Cinemas.
Para Paulo Aguiar, da direção da Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC), é incompreensível o nível de restrições imposto aos cinemas, tendo em conta que Portugal tem uma elevada taxa de vacinação.
“As exibidoras estão a fazer os ajustes necessários para cumprir, mas por vezes parece que, num setor que movimenta mais de 15 milhões de pessoas [espectadores, nas estatísticas pré-pandemia], estamos a tratar como a mercearia da esquina, que tem cinco ou seis pessoas”, lamentou Paulo Aguiar.
Ontem, a DGS admitiu um “lapso” na divulgação das orientações sobre realização de eventos culturais – que abrangem as exibições de cinema -, esclarecendo que até ao dia 2 de janeiro se mantém a exigência de comprovativo de teste à COVID-19 ou a realização de autoteste.
Na terça-feira, a norma da DGS indicava que o acesso a eventos culturais poderia ser feito com teste negativo ou com certificado digital de vacinação.
A DGS retificou dizendo que, “entre os dias 25 de dezembro e 2 de janeiro, o acesso a eventos de natureza cultural implica a apresentação de um comprovativo de realização laboratorial de teste ou a realização de teste rápido de antigénio na modalidade de autoteste (colheita nasal)”.
“O que aconteceu ontem revela um desnorte total. Aquilo não é lapso. Alguém decidiu uma coisa e depois decidiu fazer diferente”, criticou, à Lusa, o exibidor António Costa, da Medeia Filmes, que explora o cinema Nimas, em Lisboa.
Com o aumento recente de casos de infeção no país, Paulo Aguiar espera que as exibidoras não sejam obrigadas novamente a fechar portas.
“Era assumir uma falha total. As exibidoras têm feito um esforço de manter as salas abertas e cumprir o que lhes é exigido”, disse.
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