O filme em espanhol "Todos lo saben", do iraniano Asghar Farhadi, protagonizado por Javier Bardem, Penélope Cruz e Ricardo Darín, inaugurou esta terça-feira (8) o Festival de Cannes, o primeiro pós-HarveyWeinstein, com um júri comprometido com a luta feminista e presidido por Cate Blanchett.
Na cerimónia de inauguração, o veterano cineasta americano Martin Scorsese juntou-se à atriz australiana para declarar aberta a 71ª edição do festival de cinema mais importante do mundo.
Pouco antes, o casal mais explosivo do cinema espanhol, Javier Bardem e Penélope Cruz, ao lado do argentino Ricardo Darín, desfilaram na passadeira vermelha, junto com Farhadi.
Na competição pela Palma de Ouro, o filme conta o regresso de Laura (Cruz), estabelecida em Buenos Aires com o seu marido (Darín) e seus filhos, à sua terra natal da Espanha para uma festa de família. Lá encontrará o seu ex-namorado Paco (Bardem).
Um acontecimento imprevisto sacudirá a sua vida: o desaparecimento de sua filha.
Na passadeira vermelha, a atriz, com um elegante vestido preto com detalhes em tule, disse que Cannes a faz "pensar sempre em [Pedro] Almodóvar", com cujo filme "Volver" ganhou o prémio de melhor interpretação em 2006 juntamente com as outras atrizes.
Sobre o seu papel dramático em "Todos lo saben", Cruz disse recentemente que "foi o papel mais difícil" que fez "até agora".
O filme, o primeiro não falado em inglês nem francês que abre o Festival desde 2004, compete com outros 20 filmes na seleção oficial, até 19 de maio. Entre eles estão "BlacKKKlansman", o último de Spike Lee e "Le livre d'image", da lenda do cinema francês Jean-Luc Godard.
Só três mulheres estão na competição: a francesa Eva Husson, a libanesa Nadine Labaki e a italiana Alice Rohrwacher.
"Mais mulheres cineastas na competição"
No primeiro festival após o caso Weinstein, que sacudiu o mundo do cinema nos últimos meses, o júri será maioritariamente feminino e a sua presidente, Cate Blanchett, é uma feminista de destaque.
"A mudança não vai acontecer da noite para o dia [...] Claro que gostaria de ver mais mulheres cineastas competindo", disse eesta terça-feira à imprensa Blanchett, em referência à batalha feminina para ganhar mais peso na indústria do cinema, paralela à luta contra o assédio sexual.
A atriz australiana defendeu, entretanto, que o júri avalia os filmes de acordo com a sua qualidade e que não se trata de "um iraniano, uma mulher ou um transgénero".
Na sequência do movimento #MeToo, o festival comprometeu-se a lutar contra o assédio sexual: todos os participantes receberão um panfleto lembrando que em Cannes será "exigido um comportamento correto", com menção de um número de telefone para qualquer vítima ou testemunha de assédio sexual.
Além disso, no sábado a tradicional subida da escadaria será 100% feminina, com uma centena de mulheres do cinema, anunciou o diretor-geral do festival, Thierry Frémaux.
Na direção oposta desta tendência, o cineasta franco-polaco Roman Polanski qualificou o #MeToo de "histeria coletiva" e de "hipocrisia" numa entrevista na edição polaca da Newsweek desta semana.
As afirmações foram feitas antes da Academia americana que entrega os Óscares expulsá-lo, a 3 de maio, por uma relação sexual ilegal com uma menor de 13 anos em 1977.
Na Croisette, desde as primeiras horas do dia, em frente ao Palácio dos Festivais, foram-se reunindo fãs que esperavam ver os seus atores favoritos. E embora o festival tenha proibido as "selfies" com as estrelas na passadeira vermelha, muitas desafiaram esta medida e tiraram fotos com seus aparelhos.
Comentários