O modelo é novo mas pode vir a fazer escola na poupança de custos que se avizinha para os orçamentos internacionais do cinema. Em vez de juntar jornalistas de vários países num mesmo local em conversa com as estrelas, já se começa a experimentar fazer a conversa por «streaming» sem que ninguém saia do seu país. O SAPO Cinema juntou-se a um conjunto de jornalistas da Grécia, Índia, Israel, México, Polónia e África do Sul em conversa com
Matt Damon e
Neill Blomkamp, com câmaras que permitiam que todos se vissem entre si, como se estivessem na mesma sala.
Cada jornalista teve poucos minutos para colocar as suas questões podendo ouvir as respostas às dos outros colegas, para não haver repetições. Nesse sentido reproduzimos na íntegra as feitas por Portugal, as penúltimas a serem colocadas.
A história de
«Elysium» é muito invulgar: na Terra do ano 2159, há dois tipos de pessoas: os muito ricos, que vivem numa estação espacial chamada Elysium, e os muito pobres, que sobrevivem no planeta, arruinado e superpovoado. Damon é um deste últimos, mas quando contrai uma doença mortal num acidente de trabalho, percebe que a sua única hipótese de sobrevivência é ir contra todas as leis e tentar chegar ao Elysium.
Matt, é verdade que a razão porque quis fazer «Elysium» foi simplesmente a de querer trabalhar com Neill Blomkamp, depois de ter visto «Distrito 9»?
MD: Sim, quando vi o «Distrito 9» ele subiu logo para o topo da minha lista, por várias razões. O filme era completamente original, era inacreditavelmente empolgante e tinha temas que ecoavam em mim a vários níveis. E tinha uma interpretação no centro de tudo que era, verdadeiramente, uma das melhores que eu vi na última década, em qualquer filme de qualquer país, e que eu acho que não foi devidamente apreciada.
Repare, as pessoas que viram o filme adoram o
Sharlto [Copley] e o que ele fez, mas aquilo, do ponto de visto de quem tem a mesma profissão há muito tempo, é uma interpretação excepcionalmente inventiva e maravilhosa. E percebe-se quando estamos a ver algo em que o realizador está por trás de tudo, que cada decisão passou pelo realizador, que os atores se colocaram nas mãos dele para crar um ambinte onde aquela interpretação pudesse acontecer. Por isso, sim, o Neill estava no topo da minha lista, imdiatamente depois de ter visto o «Distrito 9»
Neill, este filme passa-se em dois mundos, um mundo muito pobre e outro aparentemente perfeito e cheio de alta tecnologia. Ao ler a sua biografia questionei-me se a chave para ter criado este filme terá sido o facto de ter nascido na África do Sul e ter ido depois viver para o Canadá, ou seja, de ter saltado também do Terceiro Mundo para o primeiro.
NB: Acho que sim, acho que isso é verdade. Sabe, o que se passa com a África do Sul é complexo. Eu cresci em Joanesburgo e nos subúrbios do norte que, na verdade, não são muito diferentes de...
MD: ... do Elysium.
NB: ... de Los Angeles. Sim, aquilo é basicamente como Beverly Hills. Quer dizer eu estou a ir um pouco ao contrário daquilo que sugeriu, mas quando se sai para fora de qualquer uma dessas áreas de Joanesburgo, entra-se muito rapidamente naquele tipo de pobreza, e isso teve definitivamente um efeito enorme na minha educação. Havia duas classes distintas, havia praticamente duas economias. E eu, desde que me lembro, sempre tive interesse nessa situação. Por isso, acaba por ser um pouco diferente de vir de um sítio onde só existe pobreza.
E o que eu descobri no Canadá é que muito poucas pessoas alguma vez estiveram num ambiente assim. Elas não percebem o que aquilo é. Eu continuo a dizer que não estou a tentar fazer um documentário, não estou a tentar mudar o mundo. Mas gosto muito da ideia de pegar nesses tópicos e elementos importantes e apresentá-los numa embalagem cultural e de entretenimento.
Mas eu acho que as coisas vão ficar cada vez mais extremadas. Eu sou um pouco pessimista em relação à forma como as coisas vão evoluir. Por isso, Joanesburgo serviu-me de modelo ao Elysium: comunidades fechadas de riqueza, rodeadas por pobreza absoluta.
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