
É uma das atrizes americanas mais francófilas e francófonas, mas Jodie Foster esperou até os 62 anos para fazer o seu primeiro "grande papel em francês" em "Vie Privée", apresentado fora da competição no Festival de Cannes.
Estava "com medo" e procurava atrás das câmaras "alguém que me apoiasse", disse a lendária atriz de "Taxi Driver" e "O Silêncio dos Inocentes" à France-Presse (AFP) no seu francês perfeito durante uma conferência de imprensa na quarta-feira.
Foster aprendeu o idioma quando era adolescente, numa escola francesa em Los Angeles. Neste drama psicológico de Rebecca Zlotowski, um produto puro do cinema francês, interpreta uma psiquiatra que perde o controlo ao investigar a morte súbita de uma das suas pacientes.
A atriz, que já atuou ao lado de Robert De Niro, Mel Gibson e Anthony Hopkins, agora contracena com estrelas francesas: Daniel Auteuil, que interpreta o seu ex, Virginie Efira, e Mathieu Amalric, respetivamente no papel da paciente e do seu marido, e Vincent Lacoste, no do seu filho.
O filme será lançado nos cinemas franceses a 26 de novembro.

Mudança radical? "Sim e não", responde Jodie Foster.
Em Paris ou em Hollywood, "são sempre sets de rodagem, são sempre pessoas a queixar-se às 3 da manhã porque o café não está quente... pessoas que contam umas às outras todas as suas histórias, as suas confissões, e depois talvez nunca mais se vejam. Faz parte da cultura do cinema."
"Mas há coisas que são diferentes", enfatiza. "Vocês (os franceses) têm equipas muito pequenas. Mesmo quando fazemos filmes independentes, elas não são tão pequenas (nos EUA) como aqui." E o papel do "autor" tem muito menos afirmação do outro lado do Atlântico, em benefício do produtor.
Jodie Foster já atuara em francês em 2004, num papel secundário em "Um Longo Domingo de Noivado", de Jean-Pierre Jeunet. Desde então, recebeu propostas, muitas vezes para primeiros filmes, que recusou.
"Um verdadeiro filme francês"

"Procurava um verdadeiro filme francês. Não queria que fosse uma espécie de coprodução franco-americana, com um orçamento enorme, sobre espiões, com vestidos lindos e o resto... Isso não me interessa! Queria que fosse um verdadeiro filme de autor, com um verdadeiro realizador", explica.
A grande e sortuda vencedora foi Rebecca Zlotowski, de 45 anos , que foi vista a dirigir Tahar Rahim e Léa Seydoux em "Grand Central" (2013), depois a ex-acompanhante Zahia Dehar (e o português Nuno Lopes) em "Uma Rapariga Fácil" (2019) e Virginie Efira, já em "Os Filhos dos Outros" (2022).
Uma realizadora de quem Jodie Foster nunca tinha ouvido falar, mas que não hesita em comparar a... David Fincher ("Seven", "Clube de Combate"), que a dirigiu em "Sala de Pânico" (2002).
Assim como ele, "todas as escolhas são feitas por (Rebecca Zlotowski), tudo já está pensado antes de começarmos a filmar, (...) é a sua visão total, para o bem ou para o mal. O que dá um filme que tem verdadeiramente uma assinatura."
Americana apaixonada pela França, Jodie Foster evitar as questões políticas que se impuseram em Cannes após o discurso anti-Trump de Robert De Niro na abertura do festival. Ela conhece-o bem, tendo começado a sua carreira ainda adolescente ao seu lado em "Taxi Driver" (1976).
"Todos têm o direito de fazer o que quiserem, cada um tem a sua forma de lidar com a tragédia em que estamos agora. Ele é um tipo de Nova Iorque", a cidade natal de Trump, respondeu quando questionada sobre aquela tomada de posição. Ela própria prefere não se exprimir sobre "algo em que não é especialista".
A mesma evasiva surge quando se fala em Mel Gibson, outro amigo próximo que se tornou um assumido ultraconservador e que Trump designou em janeiro para ser um dos seus "embaixadores" simbólicos em Hollywood.
"Trump usar artistas para seu benefício não é nenhuma novidade", evita.
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