Até hoje, todos que o conheciam lhe gabavam o talento mas tinham alguma dificuldade em decorar-lhe o nome. A partir de hoje, tudo vai mudar:
Andrew Garfield é o protagonista de
«O Fantástico Homem-Aranha», o filme que estreia esta semana em tudo o mundo e que recua às origens do mais mítico super-herói da Marvel. Garfield já fora muito elogiado por películas como
«Peões em Jogo»,
«A Rede Social»,
«Nunca me Deixes»,
«Rapaz A» ou
«Parnassus - O Homem que Queria Enganar o Diabo» mas esta nova fita promete lançá-lo num novo patamar de popularidade.
Dois anos com o Homem-Aranha
Fui escolhido há pouco mais de dois anos para ser o Homem-Aranha, e tem sido um longo processo, e bastante complicado. Basicamente, foi pensar no Homem-Aranha todos os dias, de muitas formas diferentes. E é uma loucura pensar que dedicamos dois anos da nossa vida a uma coisa assim. Mas acho que funcionou porque eu adoro a personagem, sempre adorei, o Homem-Aranha sempre foi o meu herói preferido. E isto é mesmo verdade, não digo isto para vender o filme: interpretar o Homem-Aranha foi um sonho tornado realidade.
O mito do Homem-Aranha
Há razões que explicam o facto da persoonagem ser tão popular, tão identificável universalmente e tão acessível a todos. O Peter Parker é humano e complexo, como qualquer um de nós, está cheio de dúvidas e angústias. E toda a gente se relaciona com isso. Ir à Comic-Con de San Diego apresentar o filme foi uma das experiências mais maravilhosas da minha vida, foi a coisa mais unificadora que já senti, é maravilhoso fazer parte de uma comunidade assim. Os fãs são apaixonados pelo Homem-Aranha e por isso eu sinto-me tremendamente responsável, e quero fazer justiça ao herói. E ser aberto aos fãs, poder ouvir e aceitar o que eles dizem. O Homem-Aranha é um símbolo, que cria uma comunidade de amor em seu redor, e eu quero manter isso vivo.
Usar o uniforme
Claro que, em termos práticos, o uniforme do Homem-Aranha nunca é muito fácil de usar. Eu conseguia ver e ouvir mas tinha alguma dificuldade em respirar através da máscara. Mas não foi mau, eu sobrevivi. Houve um dia em que fiz um disparate, numa cena que envolvia água, e como eu pensei, de forma algo idiota, «eu sou um actor, compete-me fazer estas coisas todas em nome da arte», coloquei a cabeça debaixo de água com a máscara. Claro que ia morrendo asfixiado, até porque o fato leva muito tempo a sair e durante um minuto vi a coisa mal parada.
O amor à arte
A arte é uma coisa maravilhosa. É maravilhoso reconhecer conscientemente a importância da arte. Alguém me falava noutro dia sobre o [Rainer Maria] Rilke e eu adoro o Rilke, é isso que é ser um artista, ele era um poeta jovem, alguém que queria criar. O «Catcher in the Rye» também foi muito importante para mim. O [protagonista] Holden Caulfield tem muitas coisas em comum com o Peter Parker. Mas devo dizer que os meus «guilty pleasures» são filmes dos anos 80, alguns bons e alguns maus, como o
«Big», que é um bom filme, o
«Lobijovem» que não é um bom filme mas que eu adoro na mesma, o
«Regresso ao Futuro», o
«Aventura Fora de Horas»,
«Os Goonies», todos esses filmes significam muito para mim.
Origens de ator
Eu comecei a atuar aos 16 anos mas não levei a coisa muito a sério. Não é que não quisesse ser ator, eu só não achava possível, não achava que fosse uma opção viavel. Só que tive um professor muito importante no liceu que viu uma peça que eu fiz e foi muito encorajador, e disse que eu devia seguir a interpretação. Eu estava desesperado por encorajamento, por me encaixar em algum lado, e depois a coisa foi crescendo, entrei em Artes Dramáticas na Universidade de Londres, e fui por aí fora.
O peso do Homem-Aranha
Todos os dias eu sentia o peso de ser apenas um jovem ator com a responsabilidade de interpretar o Homem-Aranha, num «blockbuster» que é esperado por milhões de pessoas em todo o mundo. Eu sou só um ator, um tipo a quem foi dada a oportunidade de uma vida. Claro que trabalhei imenso e fiz tudo o que pude para que as coisas corressem bem, mas tive imensas dúvidas ao longo do processo. Mas isso é uma das coisas mais surpreendentes sobre esta personagem: o Peter Parker também está cheio de dúvidas porque é humano, comete erros, vai abaixo e volta a levantar-se. Acabei por sentir que esses receios eram uma outra forma de entrar na personagem. Mas todos os dias eu tinha essa dúvida, e depois uma vez por mês tinha um minuto de confiança.
Desafios de rodagem
O meu primeiro dia no «set» foi com uma cena muito simples mas que eu compliquei imenso, como é meu habito. Era uma verdadeira oportunidade de apresentar a fisicalidade da personagem, que eu estava tão nervoso em tentar porque tinha receio que fosse muito exagerada. Não havia diálogo, eu aterrava num sítio muito duro e descobria o que os meus novos poderes permitiam. E queria que os meus movimentos fossem como os de uma aranha e pensava «será que isto vai resultar ou que toda a gente se vai rir?». Mas felizmente todos gostaram e seguimos em frente. Foi difícil porque eu queria que tudo fosse sempre perfeito. Os melhores dias foram aqueles em que a
Emma Stone estava no «set», e descobrimos rapidamente que ela tinha em mim o mesmo efeito que a Gwen Stacy tem no Peter. Ela alivia-o, diverte-o, tira-lhe o peso da responsabilidade.
Sair do uniforme do Homem-Aranha
Foi difícil terminar o filme, porque este processo de interpretar o Homem-Aranha foi muito imersivo. Todos os dias eu vivia, bebia, comia e dormia Homem-Aranha, pensava nele todo o dia e toda a noite durante dois anos, foi muito intenso para mim. Logo a seguir, tive algum tempo de folga, o que me permitiu relaxar antes de mergulhar noutro trabalho muito intenso, a minha estreia na Broadway com a «Morte de Um Caixeiro Viajante», encenado pelo
Mike Nichols. Que foi uma experiência muito diferente, claro. E ainda bem, porque me deu o espaço de que precisava para voltar a entrar no processo do Homem-Aranha para a fazer a promoção do filme.
Veja aqui as entrevistas do SAPO a Emma Stone,
Rhys Ifans e ao
realizador Marc Webb e produtores Avi Arad e Matt Tolmach.
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