Ao décimo filme, Bond encontrou um porto de abrigo. Treze anos depois de
«Goldfinger», o franchise deu um pontapé no azar e abraçou a sorte de fazer um filme que recolocaria o agente no trilho certo. Sem desprimor para os restantes ilustres 21,
«O Espião Irresistível» consegue atingir uma posição de destaque, assumindo-se como um título crucial na cronografia de James. Mas, a conceção esteve longe de ser um mar de rosas.
Primeiro, o afastamento do produtor Harry Saltzman, que na altura atravessava graves constrangimentos financeiros, forçado a vender a sua parte do franchise em 1975 por 20 milhões de libras. Apesar de o produtor ter abandonado o barco, foi a cadeira de realizador que se revelou mais difícil de preencher. No entanto, a redação do argumento é que viria a revelar-se o maior de todos os berbicachos.
Ian Fleming autorizou a utilização do título do seu romance, «The Spy Who Loved Me», e nada mais. E, assim foi. Escrito, rescrito e escrito novamente mil e uma vezes, o guião deu voltas na gaveta até mais não. Mas, que abençoadas voltas. Gilbert acabou por realizar um filme onde a maioria dos elementos funciona, e os ingredientes que fazem a diferença estão presentes.
É certo que a história não revoluciona, e está longe de ser uma pedrada no charco. Submarinos britânicos e russos com material nuclear desaparecem, e Bond é chamado a resolver o mistério ao lado de uma agente do KGB cujo amante ele matou. Sem complexos nem complexidades acessórias, este foi logo meio caminho andado para a química palpável entre James Bond e Anya Amasova.
No geral, o filme destaca-se por ser uma brilhante combinação entre efeitos especiais avançados para a época, e um esforço pela humanização das principais personagens. O que nem sempre é fácil, dado que orçamentos exorbitantes não poucas vezes resvalam para areia colorida para os olhos de conteúdo duvidoso. Não foi o caso. «O Agente Irresistível» teve o condão de dar primazia a uma história simples, e revesti-la de bons acompanhamentos.
O vilão Jaws, o gigante de dentes afiados, é dos mais icónicos de sempre. A partitura de Marvin Hamlisch é a todos os níveis memorável.
Roger Moore dá-nos aqui a sua melhor interpretação num filme da saga. O restante elenco não lhe fica atrás. Visualmente impressionante, a obra acaba por apresentar um admirável equilíbrio entre um romance de espionagem e um título de puro combate.
O título da música principal do filme, cantada por Carly Simon, «Nobody Does it Better», é apenas um dos muitos indicadores da obra que nos comprova, efetivamente, que Bond é o melhor dos melhores.
Bruno Ramos
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