Bruce Springsteen, que vai também atuar a 3 de junho, é a maior influência musical para o líder carismático dos James, que diz não querer perder o seu concerto. Tim Booth confessa ainda ao SAPO que a banda britânica está a produzir um novo disco e tece críticas duras ao estado atual da música.

SAPO: Os James vão estar no Rock in Rio-Lisboa pela primeira vez. Quais são as vossas expetativas para o concerto?

Tim Booth: Espero algo mais brasileiro, como ver umas bailarinas a dançar a rumba. Não, estou a brincar. Não sei bem o que esperar, porque vou atuar no mesmo dia que Bruce Springsteen.

SAPO: Bruce Springsteen é uma lenda da música. O que pensa do seu trabalho?

Tim Booth: O primeiro contato aconteceu aos 18 anos e ele sempre foi uma inspiração, assim como a E Street Band. Eu chorei bastante quando soube da morte do saxofonista Clarence Clemons [membro da E Street Band].

SAPO: E em relação à vossa estreia no Rock in Rio-Lisboa, estão ansiosos?

Tim Booth: Sei que é um grande evento e que é algo muito intenso. Estaremos lá para celebrar e, por causa da presença de Bruce Springsteen, creio que vai ser o nosso maior concerto alguma vez dado em Portugal. É um dia especial por essa razão.

Quando Bruce Springsteen reformulou a E Street Band, esperei para os ver em concerto, em Inglaterra. Confesso que, até esse momento, não concordava com reformulações em bandas. Via-as como algo que não funcionava. Mas o concerto em Inglaterra foi um dos melhores que já vi na minha vida e fez-me pensar de forma diferente. Seis meses depois, o Jim Glennie [baixista dos James] e o Larry Gott [guitarrista e teclista dos James] ligaram-me, porque queriam voltar a trabalhar comigo e, por sua vez, reformular os James. Definitivamente, o concerto de Bruce Springsteen & The E Street Band abriu a minha mente e posso afirmar que Bruce Springsteen teve um grande impacto neste aspeto em particular. Não posso perder o concerto deles no Rock in Rio-Lisboa.

SAPO: Os James estão agora a celebrar 30 anos de carreira. Têm algo preparado para comemorar esta efeméride?

Tim Booth: (risos) Não. Sei apenas que os nossos fãs estão a encorajar as pessoas para se sentarem quando interpretarmos, justamente, o tema “Sit Down”, mas nós não temos nada a ver com isso. É uma coisa deles. Os nossos fãs estão a fazer um vídeo e estão a tentar fazer com que as pessoas fiquem sentadas durante aquele momento do concerto, algo que, por acaso, seria muito engraçado. Nós, enquanto banda, não planeamos coisas deste tipo.

SAPO: Neste sentido, podemos esperar um concerto espontâneo e sem elementos pré-definidos?

Tim Booth: Isso mesmo. Nós próprios somos espontâneos e não temos nada preparado.

Vou contar um episódio que aconteceu na última vez que atuámos no Porto, perto da praia. Faltava uma hora para começar o espetáculo, olhei à volta e vi um barco. Pensei que seria uma boa ideia começar o concerto no barco. O nosso ‘manager’ local falou com um pescador e conseguiu pôr a ideia em prática. Mal soube, o público começou a nadar na nossa direção. É daquelas coisas que te lembras de fazer à última hora e torna-se realmente espontâneo. É isto que procuramos, apesar de em festivais ser algo mais complexo.

SAPO: Já tocaram no nosso país várias vezes. Que recordações guardam do público português?

Tim Booth: Temos uma longa e estável relação com Portugal. Estou apenas preocupado com o facto de vocês poderem ficar cansados dos James, porque tocamos aí muitas vezes (risos). Alguns dos meus concertos favoritos foram em Portugal. Vocês são fantásticos. Adoro voltar a Portugal. O desafio passa agora por saber a forma como apresentar coisas frescas a pessoas que já nos viram várias vezes. É isso que vamos tentar fazer no Rock in Rio-Lisboa.

SAPO: Ainda em relação à celebração dos 30 anos de carreira, em fevereiro lançaram a coleção “The Gathering Sound”. É uma forma de comemorar a data?

Tim Booth: Sim, esta compilação inclui muitos conteúdos, até alguns que não tinham visto a luz do dia.

SAPO: Sentem que, ao longo destes 30 anos, a vossa música sofreu grandes alterações?

Tim Booth: Sempre tivemos um som característico, mas sempre explorámos géneros musicais que não seriam conotados com os James. Os nossos êxitos fazem parte de uma específica área musical, mas quando se ouvem os álbuns na íntegra denotam-se algumas experimentações.

SAPO: E enquanto músicos, sentem que evoluíram?

Tim Booth: Espero que sim. Penso que passámos por várias fases e tornamo-nos músicos mais maduros e a reformulação da banda foi um ponto essencial. O nosso crescimento enquanto músicos também se tem notado nos concertos.

SAPO: Na página oficial dos James, quem se juntar à ‘mailing list’ pode fazer o ‘download’ em mp3 da canção “Not So Strong”, que ainda não foi editada. Esta é a forma de se adaptarem à realidade e a um negócio em que cada vez mais o disco físico deixa de ser apelativo?

Tim Booth: Sim, é. Creio que as necessidades do consumidor são claras. Começámos a editar EP’s, porque sentíamos que eram mais adequados para o público. O público, sobretudo o mais jovem, não pretende agora ouvir um álbum na totalidade.

SAPO: Acha que os James evoluíram e se adaptaram da melhor forma às novas formas de consumo da música?

Tim Booth: Não, não o fizemos e acho que foram poucas as bandas que o conseguiram. Nós sobrevivemos. Temos estado a fazer música, mas ela não chega às pessoas da maneira que pretendíamos e em diferentes países. Ainda não foram encontradas soluções.

Depois há aquela música fabricada e que aparece em programas de televisão. Isso é prejudicial para o meio. Trata-se de música manipulada, vive durante um ano e as pessoas ficam fartas. Isso é superficial e manipulador. Estes são os músicos bem-sucedido hoje em dia.Para aquilo que somos, os James estão a fazer as coisas bem e continuamos no nosso caminho. Mesmo passados 30 anos ainda adoramos o que fazemos.

@Daniel Pinto Lopes