No dia em que estiveram perto de 48 mil pessoas, foi David Guetta que saiu vitorioso face à chuva que foi caindo durante toda a noite.
Terceiro dia de festival e os rostos dos jovens que permanecem acampados não apresentavam sinais de cansaço. A fila para apanhar o autocarro que faz a correspondência entre o recinto e a praia da Zambujeira do Mar era enorme, outros preferem desafiar a sorte de que alguém seja simpático lhes dê boleia.
Num processo deambulatório pelo recinto, constatamos que havia mais pessoas nas filas para receber brindes nos diversos spots publicitários do que a assistir ao primeiro concerto o dia no palco dos Jogos Santa Casa. Os colombianos Choc Quib Town que não tinham mais do que 60 espectadores, deram um espectáculo carregado de sonoridade hip-hop e ska onde os três vocalistas coreografavam o pequeno grupo que dançava energicamente. O colectivo pode não ter atraído a atenção merecida, mas foi um verdadeiro aquecimento para o que grupo que actuou de seguida.
Os King Khan & The Shrines subiram ao palco quando o céu do Alentejo ameaçava desabar sobre as nossas cabeças. Com um ar extremamente irreverente, King Khan apresentou-se de chapéu e uma capa amarela semelhante à de um super-herói. Os restantes membros da banda não aparentam visualmente nenhuma coerência, mas a musicalidade que os caracteriza e a energia que transmitiam era pura e contagiante. Entre os gritos estridentes do "King", tivemos direito a um espectáculo dançante por parte do teclista que subiu para as colunas e saltou para continuar a tocar de joelhos no chão. Os sons psicadélicos onde ao mesmo tempo as guitarras entoam nos nossos ouvidos, fizeram as delícias de todos os presentes. Desde dedicatórias às raparigas presentes, até à falecida Amy Winehouse, o colectivo que vive na capital alemã deu um concerto entusiasmante e divertido num espaço que assim o exige.
De repente a água decidiu cair dos céus e a tenda do palco secundário ficou repleta de gente. Sorte para a artista Marina Gasolina que deu um concerto com musicas "quentes" para uma casa cheia. De mini-calções e t-shirt de cavas, a cantora decidiu desafiar os fotógrafos e colocar-se nas grades a cantar com o público e a exibir coreografias sensuais colocando todos em êxtase. Marina Gasolina canta em inglês, mas encanta com o seu charme brasileiro num puro rock funk estilo Bikini Kills gritando de forma insistente para todos mexerem a "bunda".
Para terminar em grande o dia de concertos neste palco, os francesea Nouvelle Vague regressaram a Portugal para mais um concerto num cartaz de festival de verão.
A abertura do palco TMM coube aos Mexican Institute of Sound que animaram a pouquíssima plateia que estava na primeira fila, mas estar poucas pessoas a assistir ao primeiro concerto do dia é normal.
Surpreendente foi a enchente de pessoas que correram para ver o concerto de Valete, cantor de hip-hop português e foi, sem dúvida, um dos concertos mais fortes até à data nesta edição do certame.
O cantor dá inicio ao concerto acompanhado de mais dois amigos - o cantor Samora e o Mc Adamastor - e contou com a participação do cantor Bónus, o grupo Mind A Gap e Janelo dos Kussondulolla.
"O meu hip-hop é verdadeiro, não tem maquilhagem" e a justificação pela razão de alguns elementos da banda se terem apresentado com um guarda-roupa de padrão militar, deve-se ao facto de Valete assumir que é um combatente de vida, lutado todos os dias por uma vida melhor.
Sem qualquer tipo de pudor em relação à linguagem e ao seu modo de expressão repetindo várias vezes alguns palavrões, a multidão que assistiu à actuação estava ao rubro e ensaiada nas coreografias e nas letras das músicas. Valete é um dos mais reconhecidos músicos e compositores dentro do universo do hip-hop português e esse lugar foi conquistado através das suas letras provocantes e que denunciam alguns ecos de revolta.
Os irlandeses The Script foram outra surpresa e até podemos afirmar que a banda ficou mais
surpreendida que nós. Os sucessos radiofónico como "The man who can't be moved" e "For the first time" foram dos mais aclamados. A banda irlandesa mostrou-se bastante animada e cumpriu com as expectativas.
No dia em que tivemos duas cabeças de cartaz com sonoridades tão distintas, ficamos com dúvidas de como seria a reacção do público perante a banda que se seguiu. Os Scissor Sisters foram recebidos em uníssono e com aplausos estridentes. Para animar e dar um toque 'a la Scissor Sisters' tubos metálicos sobrevoavam sob as mãos do público e tesouras de cartão eram colocadas no ar criando um efeito visual bastante divertido. O ambiente em palco era de grande festividade: desde o guarda-roupa de Jack Shears e Ana Matronic até às intervenções dos com o público, tendo a vocalista partilhado a história de que chegou a Portugal sem a sua bagagem que incluía maquilhagem e lentes de contacto.
Felizmente, e como não podia deixar de ser, os grandes êxitos da banda como ' I don't feel like dancing" onde Jake Shears se desloca para ao pé do público a correr e a distribuir apertos de mão, "Take your mama" e "Confortably Numb" foram tocados para o prazer de todos, mas foi com o mais recente trabalho Night Work que a banda começou o concerto e em "Fire With Fire" houve pequenas chamas a sair de cima do palco. Um membro do público teve a sorte de ser presenteado com a dedicatória de uma canção pela própria Ana Matronic e a cumplicidade entre os músicas é tanta que nos deixou a todos rendido neste grande concerto.
Eis que chega o momento mais esperado da noite. Com uma t-shirt a dizer "Party Better" o francês David Guetta sobe ao palco e depressa conquistou a grandiosa audiência que até de canadianas aplaudia o Dj. Este concerto foi extremamente visual. O uso e abuso dos raios lazer e de ecrãs led gigantes compuseram todo um cenário futurista e brutalmente irreverente. David Guetta é um caso de fenómeno artístico mundial e arriscaria a dizer que até extra planetário tendo em conta que a meio do espectáculo sobem dois homens semelhantes à figura de robots que, envergando um fato de led's exibiam coreografias de autentica animação. Um acontecimento estranho foi o facto de King Khan ter conseguido subir para o palco e ter sido "capturado" por seguranças, mas David Guetta até sorriu e nem se mostrou preocupado com tal aparato. A setlist foi preenchida por todos os grandes êxitos como 'love don't let me go', 'sexy chick', 'one love' e 'when love takes over' e também aproveitou para passar em exclusivo a sua nova música com a colaboração de Usher e de agradecer ao público português. Este foi sem duvida mais uma aposta ganha por parte da organização e todos fomos dormir com o coração aos pulinhos e de sorrisos nos lábios.
Texto: Ana Cláudia Silva
Fotografias: Filipa Oliveira
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