Em plena costa alentejana, é o mar e o calor que invade a Zambujeira do Mar na 15ª edição do Festival Sudoeste TMN 2011. Cerca de 40 mil pessoas estiveram dentro do recinto para assistir ao poder de Janelle Monáe, à guitarra electrizante de Raphael Saadiq, e, sobretudo, à estreia do rapper norte-americano Snoop Dogg.

A abertura das portas do recinto decorreu sem problemas e sem a euforia que encontramos em outros festivais de verão, em parte porque a recepção ao campismo foi longa e a praia chama pelos campistas. O tempo, esse alterou de um momento para o outro: o sol abrasador que queimava a pele deu lugar a um céu cinzento e carregado de nuvens.

Felizmente o S. Pedro esteve do nosso lado e nem uma gota de água caiu dos céus. E se dizem que é no céu que estão as estrelas, a Amy Winehouse parece ter ressuscitado – pelo menos avistamos um rapaz com uma peruca tal e qual o penteado da falecida cantora. O dress-code da noite foi dominado pelas t-shirts e os bonés ao estilo do cantor de hip-hop Snoop Doog. Entretanto estamos preparados para mais uma dança e correrias entre palcos.

Esta edição do festival Sudoeste TMN 2011 abre com Andreya Triana no palco Jogos Santa Casa Planeta Sudoeste, ou palco secundário. A londrina apresenta-se descalça e com um ar imensamente descontraído. O público é que parece não estar muito entusiasmado e conta-se pelos dedos das mãos. Pela primeira vez em Portugal, Andreya Triana apresentou o seu primeiro álbum intitulado “Where I Belong”. Ao longo do concerto, o público foi aproximando-se do palco e a cantora ainda comentou que vinha de um país onde só se vê chuva e aqui [em Portugal] o pôr-do-sol é maravilhoso. Músicas como Where I Belong, A Town Called Obsolete e ainda a versão de Sweet Dreams (Are Made Of This) dos Eurytmics fizeram com que o público aplaudisse e ainda pedisse para que Andreya Triana subisse de novo ao palco e a cantora fez a vontade e cantou mais uma canção.

Nesse mesmo palco, seguiu-se o londrino Jamie Woon que esteve recentemente em Portugal para um concerto no espaço TMN ao Vivo. Aqui no festival Sudoeste TMN 2011 o cantor apresentou o seu último álbum de nome “Mirrorwriting” e sobe ao palco sozinho, juntando-se a um sintetizador para gravar múltiplas vozes e orquestrar o seu próprio beatbox para a música Wayfaring Stranger. Jamie Woon mostra que sabe o que faz artisticamente, mesmo que o seu temperamento tímido se faça transmitir perante uma plateia novamente minoritária, mas que foi aumentando ao longo do concerto. Na setlist de Jamie Woon escutamos Street, Blue Truth, entre outras melodias e o público que entretanto se aproximava parecia estar a gostar demasiado e Jamie Woon mereceu toda a sua atenção e aplausos.

Com isto tudo não pensem que não visitamos o palco TMN, o palco principal deste festival. Neste vaivém ainda conseguimos avistar que o Palco Positive Vibes mantinha um público fiel e os sons dos djambés e as luzes a três cores – verde, vermelho e amarelo – eram o coração daquele palco. As pessoas circulam tanto como nós, mas neste caso para participarem nos passatempos dos patrocinadores do certame com a esperança de receber um prémio engraçado. Entretanto também nos preparamos psicologicamente para o frio e deparamo-nos com uma mini zona comercial onde destacamos a venda de cachimbos de água e vários modelos de óculos de sol retirados dos modelos do Kanye West.

Continuando a nossa reportagem pelo palco secundário, escutamos a banda canadiana Destroyer que subiu ao palco a cumprir o horário que lhes foi atribuído. Curiosamente e ligeiramente surpreendente, público é uma coisa que não assiste a este palco, embora os espectadores que lá permaneciam pareciam desejar este concerto há muito tempo. O vocalista e compositor Dan Bejar dá início ao concerto com a música Chinatown e, entre uma música e outra, vai bebericando uma cerveja. Com o habitual “obrigado” em Português, a banda formada em 1995, apresentou o seu mais recente álbum “Kaputt” num ambiente demasiado descontraído entre sorrisos cúmplices entre a banda, enquanto o público se ia aproximando e baloiçava os corpos entre melodias indie-pop.

Para terminar a nossa visita ao palco secundário, o último concerto do dia coube à estreia nacional do duo de DJ Bag Raiders. Os australianos Chris Stracey e Jack Glass conseguiram, pela primeira e única vez neste dia, encher a tenda onde se situa o palco e todos os presentes aparentavam conhecer todas as músicas do duo. Conhecidos pelo público pelas suas remixes em colaboração com outros artistas, os Bag Raiders trouxeram na bagagem o seu último EP Sunlight e transformaram o espaço numa enorme discoteca.

O Festival Sudoeste TMN 2011 é um festival de renome e que desde a sua primeira edição contou com grandes nomes e alguns deles repetidos. Contudo, este primeiro dia conta com grandes estreias em território nacional. Passamos então para o Palco TMN onde a estreia do dia foi com a londrina Eliza Doolittle (ou melhor, Eliza Sophie Caird que é o nome verdadeiro da jovem cantora). Em palco, a banda que a acompanha apresenta-se de um modo particular – vestidos de um azul monocromático e todos de igual, enquanto Eliza Doolittle apresenta-se vestida com um body tal como se fosse para uma aula de aeróbica e ainda se perde entre a língua portuguesa e espanhola numa troca de cumprimentos com o público. A cantora de 23 anos traz consigo apenas um álbum de título homónimo, mas também versões de grandes estrelas pop, como foi o caso de Grenade do cantor Bruno Mars e Runaway de Kanye West.

Como alguém disse que o mundo é das mulheres, a estrela que se segue é igualmente jovem. Janelle Monáe, de 25 anos de idade, já foi nomeada para um Grammy e tem tido um enorme destaque nos canais de música e na imprensa internacional. Foi também um caso de sucesso em Portugal quando se estreou no festival Super Bock em Stock e, acreditamos, que foi isso que motivou a que muitos dos presentes não arredassem pé da frente do palco.

A entrada de Janelle Monáe foi em grande, tendo sido anunciada por um membro da banda, banda essa que era composta por quase um batalhão de músicos e cantores de coro. A cantora que ingressou no mundo da música com o EP “Metropolis: Suite I (The Chase)”, foi com o seu primeiro álbum em estúdio (e único até à data) intitulado de “The ArchAndroid (Suites II and III)” que se tornou mundialmente conhecida. A musicalidade pop e funk das canções Faster, Locked Inside e Sincerely Jane, assim como Come Alive (The War of the Roses) fez explodir a animação entre os espectadores e ainda a chuva de confetis fez com que o público ficasse rendido ao seu talento. Claro que o espectáculo tinha que terminal tal como começou, em grande, e assim foi: Janette Monáe saltou para cima das costas de um bailarino e, com ela às cavalitas, desceram as escadas em direcção ao público para os cumprimentar e distribuir simpáticos sorrisos. E ficamos arrepiados com tanta alegria e boa disposição.

Entretanto já é de noite e o frio e o vento fazem-nos bater o dente, mas como guerreiros que somos, continuamos felizes e alegres a andar pelo recinto. Os balões cheios de hélio continuam a colorir os céus do certame e as pessoas, em grupo, começam a afinar as vozes e a tentar ocupar o melhor lugar perto do palco TMN. Preparado para nos surpreender já estava outro norte-americano influenciado pela onda soul e jazz dos anos 70. Raphael Saadiq, que na verdade se chama Charles Ray Wiggins e onde a parecença do nome verdadeiro com Ray Charles é uma (feliz) coincidência, estreia-se em solo nacional de guitarra em punho e a orquestrar as vozes do público com os míticos yeah. Os ritmos dançantes, que já tínhamos assistido com Janelle Monáe, mantiveram-se e fizeram com que o público se rendesse e o batimento de palmas tornou-se um som bastante agradável. “Do you love me tonight?” questiona Raphael Saadiq a plateia e esta corresponde com gritos de resposta afirmativa. Tal como a sua musicalidade, a sua aparência vive do seu estilo retro e encantou-nos com as canções Movin’ Down The Line, Skyy, Can You Fell Me, entre outras músicas mais ritmadas e dançantes como o caso de Let’s Take a Walk.

Olhámos para o relógio e este marca a hora que o programa indica o concerto mais esperado do dia. O cheiro no ar é de um aroma forte a substâncias que costuma deixar os fumadores bastante alegres. O número de pessoas a correr para o palco principal é tão grande que nem conseguíamos contabilizar. Para o aquecimento, ouve-se músicas do rapper oriundo da Califórnia e entre os presentes, alguns grupos ensaiam coreografias e refrões dos seus êxitos. É ao som de O Fortuna dos Carmina Burana e com a apresentação de um membro da banda gritando “Snoop Dogg”, que o rapper sobre ao palco com uns óculos de sol e todo um conjunto de acessórios que mete inveja a qualquer ourivesaria em Portugal. O desfile de êxitos não se fez tardar, assim como o desfile de coreografias das três bailarinas que Snoop Dogg tinha em palco e que, ao longo do concerto, passam de um fato de treino estilo hip-hop do guetto para um conjunto de lingerie bastante sensual. As coreografias, como era de prever consoante os videoclips do artista, são igualmente fortes e correspondem ao guarda-roupa.

Os singles Drop It Like It’s Hot, Let’s Get High, Deep Cover, entre outros, marcaram a setlist do cantor que, de volta e meia necessitava de algumas massagens ao ego, pedindo ao público que entoasse o seu nome em alto e bom som. A estreia de Snoop Dogg em território nacional tornou-se um dos espectáculos mais aguardados do momento e o cantor não desiludiu os fãs. A promessa do seu regresso ficou feita e os seus seguidores cá ficarão ansiosos para o receber novamente.

Texto: Ana Cláudia Silva

Fotografias: Filipa Oliveira