Palco Principal – Lançaste há pouco tempo um novo disco, “Lights & Darks”. De que forma é que este álbum se destaca do anterior?
Rita Redshoes – Primeiro que tudo o resto, o que mais se nota é a sonoridade, que é muito diferente do outro disco. O outro disco é muito mais orquestrado, tem mais cordas, está mais próximo do som de uma orquestra, é um trabalho mais intimista. Com este novo álbum não acontece o mesmo. É um trabalho mais aberto, mais claro, com som de banjos. Quando se ouve, parece que fui dar uma volta ao mundo. Acho que exploro ideias que tinha iniciado no primeiro disco, mas aqui estão mais bem conseguidas.E as letras também são mais directas.
PP – Também é um álbum mais rock n’ roll...
RR – Sim, também. É um bocadinho mais puxado.
PP – O teu primeiro álbum foi disco de Ouro e foi vendido no estrangeiro. Para “Lights & Darks” tens as mesmas expectativas?
RR – Já não tinha essas expectativas para o outro e também não tenho para este. Acho que o importante na música é fazermos aquilo que sentimos no momento e aquilo que nos realiza artisticamente. Foi isso que eu fiz. Não faço ideia se as pessoas vão gostar tanto deste disco como do outro, mas acho importante arriscar, fazer aquilo que nós sentimos e não repetir uma fórmula só porque o outro correu bem. Não tenho essa postura, prefiro arriscar. Contudo, espero que as pessoas estejam dispostas a ouvir esta nova viagem, a nova sonoridade deste disco e que gostem.
PP – Quando começaste no mundo da música, alguma vez pensaste que terias tanto sucesso?
RR– Não. Sonhar, uma pessoa sonha sempre. Tinha o desejo e o sonho que as coisas corressem bem.Nãopensomuito nos louros, mas sim naquilo que vai correndo bem.
PP – A tua primeira música, Dream On Girl, ficou conhecida através das redes sociais. Utilizas muito estas ferramentas?
RR – Tenho dias. Eu sou agarrada à Internet, passo a vida na Internet, mas é a ver outras coisas e, então, às vezes esqueço-me de anunciar algumas coisas. Por exemplo, esqueci-me de avisar que ia ter estes concertos nas FNAC's. Não escrevi em lado nenhum. No Myspace estão lá as datas, mas no Facebook não anunciei. Às vezes utilizo as redes sociais só por lazer e nem tanto como um instrumento de trabalho que me permita chegar às pessoas. Obviamente que são ferramentas já me ajudaram imenso. O Dream on Girl foi parar à rádio porque estava ali, disponível para se ouvir. De outra maneira, teria sido mais difícil.
PP – Por que é que decidiste sair dos Atomic Bees, a tua primeira banda?
RR – Acho que, àmedida que vamos fazendo músicas com outras pessoas, há coisas que nos vão fazendo sentido e outras que deixam de o fazer. Os Atomic Bees foram muito importantes para mim. Actuava com os meus amigos, actuava com o meu irmão. Era uma família e um sonho de um grupo de amigos. A certa altura, quando gravámos o disco, também eles [membros dos Atomic Bees] tinham outros desejos e outras vidas. Já tinham começado a traçar o seu percurso e não queriam ser só músicos. Eu tinha muito esse objectivo na cabeça e acabei por segui-lo.
PP – De que forma é que parcerias com músicos como o David Fonseca, do qual foste teclista, e com o Paulo Furtado, akaThe Lengendary Tigerman, contribuem para o teu próprio trabalho?
RR –Mais do que ajudar, no sentido de dar a mão, acho que aquilo que é importante é a partilha musical e a empatia. De facto, ter tocado seis anos com o David foi muito bom. Gravar com o Paulo e com uma série de senhoras igualmente interessantes também foi muito bom. Estas parcerias musicais são sempre boas pela troca, e nem tanto no sentido de progressão de uma carreira.
PP – Tu tocas um bocadinho de tudo…
RR – Nada muito bem (risos), mas sim, toco um bocadinho de tudo.
PP – No teu primeiro álbum, “Golden Era”, compuseste os arranjos para o piano, sintetizador e algumas partes das guitarras. De onde provêm esses conhecimentos musicais?
RR – Acho que provêm do gosto pela música. De facto, estudei durante alguns anos piano e canto lírico. Os outros instrumentos surgem por os ter ali à mão e começar a tocar. Por isso é que não toco nenhum deles muito bem (risos), porque não aprendi a tocá-los numa escola. Gosto muito dos arranjos das músicas e, para fazer arranjos, tenho de tocar uma série de instrumentos. Logo, acabo por me habituar a instrumentos diferentes. Além disso, sou uma curiosa e, quando vejo um instrumento, pergunto-me: “Hum… como é que isto se toca?”.
PP – Onde vais buscar a inspiração para as tuas músicas?
RR – Basicamente, a inspiraçãovem de tudo. No entanto, costumo dizer que provem mais, não da música, mas sim de fotografias, de livros, de quadros, de pinturas, de filmes e das pessoas. Ouvir uma música, ficar inspirada e ir compor, para mim, é algo que não funciona. Se eu vir uma imagem ou alguém, que me diga qualquer coisa, aquilo toca-me. É algo que fica cá dentro e que transformo em música.
PP – Para fazeres os videoclips, inspiras-te em filmes?
RR – Sim. Há quem diga que a minha vida parece um musical (risos), porque vivo muito das imagens. Mais do que o interesse da imagem puramente estético, para mim é muito forte quando se alia a imagem com o som. Essa combinação é óptima, para mim é completamente aterradora, não há nada mais forte do que isso. Quando imagino as músicas e penso no videoclip, visualizo, logo, o filme todo.
PP – Preferes actuar em festivais, concertos em nome próprio ou em queimas?
RR – Sem dúvida nenhuma auditórios, teatros. É onde eu mais gosto de tocar.
PP – Como é pisar o mesmo que palco que os Chemical Brothers ou os Goldfrapp?
RR – É interessante. Aprende-se sempre algo, por exemplo, a olhar para os outros e ver como é que eles fazem, como é que lidam com as coisas. Obviamente que é bom saber que estamos num palco com outros músicos que são muito bons e que fazem coisas muito interessantes. Também dá para ver o concerto de lado, o que é muito bom.
PP – E no backstage dá para interagir com os outros artistas?
RR – Nem sempre. Depende da abertura de cada artista.
PP – No passado dia 27 de Maio subiste ao palco do Rock in Rio com os Snow Patrol, para cantar o tema Set The Fire To The Bird Bar. Como surgiu este convite?
RR – Eles gravaram esta música originalmente com Martha Wainwright. Quando vieram a Portugal, queriam cantar a música, porque é uma das preferidas dos fãs, e queriam arranjar um artista português que cantasse com eles. Pediram referências de artistas portugueses na editora. O Gary, que é o vocalista, disse que gostava muito de mim e da minha voz. Escolheu-me para cantar com eles e eu fiquei toda contente.
PP – Também fizeste a primeira parte do concerto dos Keane em Lisboa…
RR – Fiz, no final do ano passado. Foi interessante. Ainda estava a tocar com o David [Fonseca]. Em Barcelona fiz a primeira parte com o David e no Coliseu de Lisboa fiz a abertura sozinha. Foi muito bom. Havia muitos portugueses que ainda não me conheciam e eu acho que foi um bom passo para fazer com que a minha música chegasse às pessoas.
PP – Uma das tuas influências é a Cat Power…
RR – Não é bem uma influência. Eu gosto dela, mas acho que, musicalmente, ela não me influencia. As minhas referências são outras. Mas há muita gente que compara. Acho que é por sermos ambas mulheres, fazermos música feminina e tocarmos guitarra, mais do que propriamente pela nossa sonoridade.
PP – Então, quais são as tuas influências?
RR – Sei lá, são imensas.
PP – Mas quais são aquelas que se destacam?
RR – Posso dizer aquelas que me começaram a fazer querer cantar e fazer música: A PJ Harvey, o Tom Waits e o Nick Cave. Fui mais influenciada, não por compositores, mas sim por “arranjadores” de orquestrascomo Manchini ou Morricone. Gosto imenso de bandas sonoras, portanto sou mais inspirada a esse nível do que pelos artistas que eu mais gosto.
PP – Tu és formada em Psicologia... Chegaste a exercer a tua licenciatura?
RR – Não. Só fiz o estágio, que era obrigatório. Na época, o meu primeiro disco já tinha saído, portanto foi impossível coordenar as duas coisas. Acabei o curso, mas não comecei a exercer.
PP – Até onde pensas que a Rita Redshoes pode chegar?
RR – Eu digo sempre que não vejo as coisas a nível de sucesso, mas gostava de ser velhinha e de aindacontinuar a gravar discos (risos).
PP – Desde que dê para tocares…
RR – E para comer, pagar a luz e essas coisas assim (risos).
Fotos - Paulo Costa
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