Na próxima sexta-feira, quase quase sábado, sobem ao palco secundário do certame, onde vão recordar os êxitos de outrora e as novidades do novo álbum, “L’Art Brut”, o preferido do coletivo, criado na difícil ressaca de uma muito bem sucedida promoção de “Femina”, o ex-líbris de The Legendary Tigerman, que muito tempo roubou à já muito aguardada reunião dos Wraygunn. Já lhe conhecíamos a destreza em palco, mas não sabíamos que esta se alongava às palavras, imparáveis, bem à semelhança do seu génio, postura e determinação. Senhoras e senhores: Paulo Furtado, Paulinho para os fãs, que, após mais de 25 anos de carreira, continuam sem lhe largar a perna. Na verdade, como podiam?
Palco Principal - “Ecclesiastes 1.11” não podia ter sido mais aclamado pela crítica especializada francesa, que o colocou entre os melhores discos de 2004. “Shangri-LA”, por sua vez, foi considerado pela crítica nacional o melhor disco editado em Portugal durante 2007. Contudo, é o recentemente lançado “L’Art Brut” o preferido dos Wraygunn, como já tiveram oportunidade de afirmar em diversas ocasiões. A que se deve este favoritismo?
Paulo Furtado – Acho que tem um bocadinho a ver com o facto de ser o último e de ser o que está mais próximo daquilo que sentimos ser a nossa música neste momento. As coisas vão mudando, as bandas vão evoluindo ao longo do tempo, e eu acho que tem a ver com isso. Tem a ver também com o facto de termos ultrapassado um período bastante difícil para nós, como banda, que foi o intervalo causado pelo facto de ter estado muito tempo fora, em tournée, com o meu projeto a solo. A verdade é que tive que pôr um bocadinho em standby os Wraygunn – algo que nunca tinha acontecido. Sempre tinha acontecido o contrário: pôr o The Legendary Tiger Man em standby. Então, tivemos que nos reconhecer, tivemos que voltar a perceber se o que fazíamos juntos musicalmente ainda tinha sentido, e tivemos que nos voltar a encaixar uns nos outros como banda. O facto de termos ultrapassado isso e de termos conseguido construir, ainda assim, um grande disco faz-nos dizer que o “L’ Art Brut” é o nosso preferido.
PP – O público português também partilha a mesma opinião, a teu ver?
PF – Eu acho que sim. Nós fizemos uma coisa que é muito difícil fazer, muito arriscada, uma coisa que não há muitas bandas a fazer: nos primeiros concertos, tocámos o novo álbum na íntegra, seguindo o respetivo alinhamento à risca. Ora bem, se o álbum não fosse bom, não fosse do agrado do público, não funcionasse, acho que teria sido bastante visível. Ficámos muito contentes em ver que as pessoas, apesar de ainda não conhecerem bem as músicas, seguiram os quatro concertos em que tocámos o álbum assim. Funcionou muito bem. E acho que, neste momento, há já muitas músicas do disco a tocar bastante as pessoas. Nos álbuns anteriores, os temas são mais instantâneos, mais imediatos. Este disco parece-me um bocadinho mais profundo. Acho que é um disco do qual se vai gostando cada vez mais, à medida que se vai ouvindo. Não querendo tirar profundidade aos álbuns anteriores, pois acho que sempre tivemos isso, acho que este disco, mesmo a nível das letras e tudo, é um disco com muitas mais camadas.
PP – Mas as diferenças entre “L’ Art Brut” e os seus antecessores não ficam por aí. Esta última aventura discográfica da banda assume-se também mais individual, mais íntima, mais honesta talvez, menos conceptual, e, acima de tudo, mais calma, mais contida, mais controlada…
PF – Acho que é um disco onde olhamos mais para dentro de nós. Nos outros, se calhar, olhávamos mais para fora, não é? Neste não. Olhamos mais para dentro de cada um de nós. E algumas das letras e das músicas da Raquel Ralha, que se estreou nestas lides, exprimem muito esse olhar. E como em causa estão coisas tão próximas de nós, que nos tocam, acabamos por trata-las com outra complexidade, com outra delicadeza que antes não era necessária.
PP – A idade também pesa no mundo da música?
PF – Sim e não. Por um lado, obviamente que sim, Acho que não conseguiríamos fazer este disco se tivéssemos 20 anos. Seria totalmente impossível. Por outro lado, não vamos, de repente, começar a fazer discos calmos. No fundo, acho que se trata dum momento muito especial para todos nós, por razões diferentes, em que nos encontrámos num disco que é um bocadinho mais calmo do que os anteriores. Eu já estou nos 40, mas não tem a ver com isso. Não é a ternura dos 40 a falar!!! Não é isso, de todo.
PP - Quais as maiores dificuldades com que te deparaste na repentina transição entre a tua carreira a solo, enquanto The Legendary Tiger Man, que viveu o seu auge durante a edição e promoção de “Femina”, e o regresso aos Wraygunn, cerca de três anos depois da edição de “Shangri-LA”?
PF – Foi o início, o como recomeçar a trabalhar, o como recomeçar os ensaios, o como voltar a compreendermo-nos em grupo. Eu vinha com um ritmo muito acelerado em relação ao ritmo das outras pessoas da banda e, de certa forma, acho que houve, ao início, alguma necessidade de limar arestas e de percebermos como podíamos trabalhar juntos novamente. Mas depois as coisas fluíram com muita facilidade.
PP – Os Wraygunn exigem, com certeza, menos de ti…
PF – Para mim, os concerto com os Wraygunn são muito mais ligeiros do que um concerto do The Legendary Tiger Man. Ligeiros no sentido da carga de responsabilidade que eu tenho. Nos Warygunn partilho a responsabilidade com mais pessoas. As coisas não estão todas nos meus ombros. Os Wraygunn acabam por ser uma espécie de libertação. Com o The Legendary Tiger Man tenho que ser mais contido, mais concentrado. Cada concerto é uma grande responsabilidade, apesar de gostar, obviamente, do formato e dessa responsabilidade, que assumo com muito gosto. Já com os Wraygunn assumo uma postura mais descontraída, mais Rock n’ Roll.
PP – Encontraste os teus colegas num ritmo menos acelerado que o teu – já nos contaste. Ainda assim, ansiosos e entusiasmados com o regresso? Ou de alguma forma desmotivados face ao tempo em que se mantiveram afastados, entretanto prolongado devido ao sucesso de “Femina”?
PF – Acho que eles estavam híper ansiosos por começar a tocar ao vivo, por gravar, por tudo. O único fator de certa forma desmotivante é o longo período que decorre entre a primeira gravação e o lançamento do álbum. Se não me engano, a primeira gravação decorreu cerca de ano e meio antes do disco ser editado. Obviamente que custa teres as coisas já gravadas e seres obrigado a esperar um ano e meio para que o disco saia, para começares a tocar ao vivo. Há toda uma ansiedade que é preciso gerir. É essencial não perder a paciência. Isso é o mais difícil.
PP – E eis que, no primeiro trimestre de 2012, surgem reinventados…
PF – Acho que sim, que conseguimos fazer algo diferente, algo que nunca tínhamos feito anteriormente, mantendo, não obstante, uma matriz, uma sonoridade que julgo ser nossa, que nos pertence. Obviamente que não a quisemos perder, mas sim reinventá-la. Esperamos ter conseguido, acho que sim.
PP - Houve, em algum momento, alguma tentação, eventualmente inconsciente, em trazer um pouco dos ambientes em que se moveu o homem tigre nos últimos anos para os Wraygunn, nomeadamente após o sucesso arrebatador de “Femina”, ou são estas águas que estão bem separadas, no geral?
PF – Não houve propriamente uma intenção, mas há muita gente que diz que este álbum está mais aproximado a The Legendary Tiger Man do que aos Wraygunn. Na minha opinião, aconteceu precisamente o contrário. Acho que o último álbum de The Legendary Tigerman, por envolver colaborações com mulheres, aproximou-se um bocadinho do universo Wraygunn, onde cantam duas mulheres. Se bem que eu acho que os ambientes, a relação entre as vozes, a própria função do homem e da mulher em Wraygunn não é a mesma que foi criada no “Femina”. Mas percebo que as pessoas sintam alguma aproximação. Contudo, honestamente, sinto as coisas muito diferentes, em sítios muito diferentes. Não digo que, no final, não possam haver coisas que, de alguma forma, se possam aproximar, mas isso nunca é intencional. Estou sempre a pensar em fazer coisas diferentes, a pensar no futuro, em não me repetir, mas isso às vezes acontece – acho que acontece a todos os artistas.
PP – E o público? Sentes que há público que vai ouvir os Wraygunn porque gosta de The Legendary Tiger Man, e vice-versa, ou os públicos dos teus projetos não se misturam?
PF – Ainda não sei explicar muito bem. Acho que há pessoas comuns aos dois projetos, que gostam de ambos os projetos. Tal como há pessoas que gostam muito mais de um projeto do que outro. E ainda há os que gostam de Wraygunn mas não gostam de The Legendary Tiger Man, e vice-versa. O curioso é que, dantes, as pessoas conheciam Wraygunn e apenas meia dúzia conhecia The Legendary Tiger Man. Chegavam mesmo a dizer: “Ah, vamos lá ver essa coisa, esse projeto ali do vocalista dos Wraygunn”. Agora é ao contrário, as coisas inverteram-se um bocadinho: há mais gente a conhecer The Legendary Tigerman e menos gente a conhecer Wraygunn. Os Wraygunn acabam por ser, neste momento, um segredo um bocadinho mais bem guardado do que era no passado. Isso tem alguma piada. Mas acho que os Wraygunn, durante este ano, com todos os concertos que vão fazer, como, por exemplo, o do Super Bock Super Rock, vão crescer.
PP - A internacionalização, a exportação da tua música sempre foi um objetivo real e assumido por ti, quer a solo, quer como parte integrante dos Wraygunn. Em 2004, após a edição de “Ecclisiastes 1.11”, atingiu o seu auge, em França. Com “L’Art Brut” está a ser igualmente bem sucedida? Como correu a mini-digressão francesa, decorrida depois dos concertos de apresentação de “L’Art Brut” em Portugal?
PF – Correu bem. Tocámos algumas músicas novas, mas tocámos também músicas antigas – um bocado para percebermos (e para a nossa agência perceber) o que se estava a passar connosco lá, a nível de público: se tínhamos público, se as pessoas se lembravam, qual era o seguimento que tínhamos… E correu tudo muito bem! O concerto em Paris estava quase esgotado e as outras datas também correram muito bem. Percebemos, portanto, que havia público que ainda se lembrava de nós, que ainda se lembrava das nossas canções, e isso foi muito importante. O resto, iremos perceber muito em breve. O disco sairá, à partida, em setembro na maior parte dos países da europa e já temos datas marcadas para outubro, um pouco por todas as capitais europeias. E depois, em fevereiro/março do próximo ano, iremos fazer uma tournée maior. Para nós, a questão da internacionalização é uma questão essencial. Na minha opinião, todas as bandas, todos os projetos e todos os artistas, quer cantem em inglês, quer cantem em português (aliás, neste momento até acho mais fácil internacionalizar projetos que cantem em português, curiosamente, na medida em que pertencem, na sua maioria, à World Music, que é uma categoria que tem um circuito muito bem estabelecido e com muita tradição de exportação em Portugal), deviam pensar em ter um público internacional, quando mais não fosse pela própria sobrevivência. Portugal é um país muito pequeno para se fazerem as coisas que nós fazemos (ou que eu faço), que não são propriamente mainstream (podendo, obviamente, ter sucessos como o “Femina” ou como o “Ecclesiastes”, em França) e não vão vender milhões. Acho, portanto, necessário chegar a mais pessoas, a mais países, chegar a públicos que já viram tudo, ou a públicos que não conhecem tão bem o teu trajeto. Acho sempre necessário conquistar novos públicos e levar a nossa música a mais pessoas. Para mim, é um desafio contínuo. Já faço música há mais de 25 anos e já devo ter tocado, sei lá, dez vezes, ou mais, em cada sítio de Portugal. Mesmo nalguns sítios em França já toquei quatro ou cinco vezes. Às vezes, os públicos reagem de maneiras completamente diferentes em países diferentes e isso é muito importante para mim como artista, encontrar estes desafios.
PP – Na próxima digressão pela Europa vais arriscar tocar, à semelhança do que fizeste nos concertos de apresentação de “L’Art Brut” em Portugal, única e exclusivamente, o alinhamento do novo disco na íntegra?
PF – Sim, acho que é exatamente isso que vamos fazer, até porque a experiência que tivemos em Portugal foi muito boa. Foram mesmo concertos especiais, resultaram como concertos especiais, as pessoas compreenderam isso e viveram-nos de uma maneira diferente do que vivem um concerto normal. As pessoas sabem que são momentos que não vão ser repetidos em Lisboa nem no Porto. Foi uma coisa que aconteceu, que teve o seu momento. E eu acho isso importante. Acho que, hoje em dia, cada vez mais é necessário viver e dar às pessoas experiências um bocadinho diferentes, experiências únicas, especiais. Hoje em dia existem tantos concertos, tantos artistas, a música está por todo o lado! Tu vais ao supermercado e está sempre a dar música de fundo. Na verdade, acho que a música está um bocado banalizada enquanto arte. E acho que, às vezes, tens que forçar um bocadinho as coisas, o seu formato, para que elas voltem a tornar-se especiais.
PP – Ainda sobre a internacionalização: quais os principais entraves que existem, hoje, à exportação da música nacional?
PF – Acho que existem vários. O primeiro – e mais importante – é, acho eu, o nosso governo e os governos anteriores nunca terem pensado na cultura como um bem exportável e como algo de valioso internacionalmente. E, quando tentam promover a cultura portuguesa lá fora, esquecem-se que esta vai, hoje em dia, muito além do Fado. Vai do Norberto Lobo aos Deolinda, dos Wraygunn aos Buraka Som Sistema e por aí. Se repararmos, todas as bandas portuguesas com um trajeto internacional conseguiram-no às suas custas – o que é um bocadinho inglório, se nos compararmos a outros países, como o Canadá ou a França, por exemplo, que apoiam a exportação da cultura, do seu teatro, do seu cinema, da sua música. E, vamos a ver, no final do ano, os resultados financeiros dessas operações são sempre extremamente positivos para os países. Vejamos o exemplo do Canadá, de onde saíram os Arcade Fire, de onde saiu a Feist, o Gonzales, a Peaches, etc. Há dez anos, quem é que pensava no Canadá como um país que pudesse exportar música? Ninguém! Ouvíamos falar no Canadá e pensávamos logo nos spots de Monty Python! Acho, portanto, que mostrar a cultura dum país na sua globalidade é muito importante para mudar a imagem do país. Claro que também é importante o desporto, o Cristiano Ronaldo, o Mourinho, e muitos outros atletas de outras modalidades que vão ganhando prémios e que vão mostrando que em Portugal também há excelência. A ideia que as pessoas têm de Portugal tem anos e anos de atraso. Continuam a ver Portugal como um país à beira mar plantado, onde as coisas não são feitas com muito rigor e onde não há muitas coisas interessantes a decorrer. Acho essencial mudar essa ideia, porque nós já não somos assim. Se calhar, nunca fomos!
PP – Ainda vivemos, portanto, um pouco das conquistas passadas e não encaramos estes projetos que fogem um bocado ao Fado e à tradição como um investimento…
PF – Mesmo em relação ao Fado, acho que o governo português não faz o suficiente. E o Fado é a coisa mais exportável do mundo, tão exportável como o Tango, da Argentina, por exemplo. Portanto, acho que há aqui, efetivamente, uma falta de inteligência, uma falta de compreensão em relação a um bem enorme que nós temos, que é a nossa cultura. E, voltando à tua pergunta inicial, acho que uma das maiores dificuldades em exportar a música portuguesa, em conseguir internacionalizar a música portuguesa, é que em Portugal não há uma tradição real de exportar projetos nacionais. Essa tradição não existe. Existe apenas em meia dúzia de projetos de raiz mais tradicional, desde os Madredeus, que conseguiram um nome enorme a nível internacional. Os Buraka Som Sistema, a Rita Redshoes, os Dead Combo, os Moonspell, etc, conseguiram uma carreira internacional, única e exclusivamente, à sua custa. Bem, os Dead Combo conseguiram – imagine-se – à custa dum programa de televisão, quando eles já mereciam exposição mundial há muito mais tempo e por melhores razões. Mas pronto, vamos todos conseguindo, de diferentes maneiras e recorrendo a diferentes formas de fazer as coisas, mostrar que somos portugueses e que fazemos o nosso tipo de música, a nossa arte, de uma forma um bocadinho diferente do resto do mundo. Acho muito importante passar essa imagem, acho muito benéfico para todos nós, portugueses.
PP - Assumiram recentemente que a vossa editora jamais tinha ganho um euro com os Wraygunn. Que a faz continuar com vocês? E o que vos faz continuar com ela?
PF – Felizmente, as editoras têm outras motivações além das monetárias. Acho que os Wraygunn são uma banda bastante querida da Valentim de Carvalho, que tem sido a nossa casa desde o início, e que nos tem apoiado, nunca colocando qualquer entrave a nenhum dos nossos desejos de internacionalização, mesmo podendo estes revelarem-se prejudiciais para ela. Existem outras motivações – as musicais. Existem lá pessoas, ao contrário do que acontece em muitas outras editoras, que gostam muito de música, que têm uma paixão enorme pela música. Acho que é essa paixão que a faz investir em bandas como nós. E não somos os únicos que estão na Valentim de Carvalho que não dão lucro à editora. Trazemos-lhe outras coisas, digo eu. Mas fico obviamente contente por poder continuar na Valentim de Carvalho, ainda por cima a fazer as coisas nos meus termos, sem uma dúvida e sem questões da parte da Valentim de Carvalho. Tem sido muito reconfortante saber que temos esse apoio e que as pessoas acreditam em nós.
PP – Os Wraygunn são, atualmente, um projeto sustentável?
PF – Eu não te sei dizer se, neste momento, os Wraygunn são sustentáveis. As coisas cá em Portugal estão bastante difíceis e estão quase paradas. O cinema, o teatro… As pessoas estão, obviamente, a cortar em todas as artes. Repara: as pessoas não podem parar de comer, não podem parar de pagar a renda da casa, nem podem, se calhar, parar de pagar o telefone e uma data de outras coisas. Mas podem parar de ir a concertos, podem parar de comprar discos, podem parar de ir ao teatro e essas coisas todas. E a verdade é que têm-no feito. Portanto, este está a ser um ano em que as bandas têm menos concertos, mas às vezes isso é compensado com o internacional e com as coisas que acontecem internacionalmente. Vou dar-te um exemplo: Eu, no ano passado, devo ter feito com o The Legendary Tiger Man dez ou 15 concertos em Portugal, mas devo ter feito à volta de 90 ou cento e poucos internacionalmente. Portanto, é uma questão de acreditar um bocadinho nas coisas, de não baixar os braços e continuar a trabalhar, para conseguirmos aquilo que é o nosso sonho, que é sermos músicos.
PP - No ano passado, passaste pelo festival Super Bock Super Rock enquanto The Legendary Tiger Man. Este ano regressas ao Meco com os Wraygunn. Tens um carinho especial por este certame?
PF – Confesso que tenho um carinho especial pelo SBSR, pois acho que é um festival onde as pessoas vão porque gostam de música. E, hoje em dia, não querendo, obviamente, estar a citar outros festivais, acho que há outros festivais onde as pessoas vão, não tanto pela música. Vão por outras coisas – o que também é legítimo. Há festivais que são um bocadinho mais Rock n’ Roll, mesmo na postura das pessoas, no modo como as pessoas estão, e outros que são um bocadinho mais familiares –o que é normal. Se eu tivesse dois filhos e os quisesse levar a um concerto, ia a um festival que também tivesse carrinhos de choque ou outra coisa do género. Na minha opinião, o Super Bock Super Rock tem um espírito mais Rock n’ Roll. Lá, é o cartaz que faz o festival.
PP – Recordas com saudade o concerto de The Legendary Tiger Man na edição 2011 do SBSR?
PF – Claro, foi um momento muito importante para mim. Acho que me correu muito bem esse concerto, as pessoas tiveram uma reação incrível e foi um dos concertos onde toquei para mais gente, como The Legendary Tiger Man. Foi um momento muito especial: sozinho, como one man band, consegui mover as pessoas, com coisas a acontecer noutros palcos – e isso foi muito importante, foi um grande desafio. E agora, com os Wraygunn, pretendo que seja, também, um dos melhores momentos Rock n’ Roll do evento. Queremos fazer um grande concerto!
PP - Vais partilhar o palco com nomes como The Horrors e Oh Land. Estás familiarizado com o trabalho destes projetos?
PF – Sim, conheço os Horrors. Nunca os vi ao vivo, mas estou muito curioso para os ver. Eles eram conhecidos como a banda mais magra do mundo, a banda mais fina do mundo. Estou muito curioso para os ver. E, no dia a seguir, gostava muito de ver St. Vincent, que é uma das minhas artistas preferidas.
PP - Confiante que a simultaneidade de concertos em diferentes palcos não vai prejudicar o concerto dos Wraygunn, como aconteceu há uns anos, no Sudoeste tmn, com The Legendary Tiger Man?
PF – Isso não vai acontecer. De modo algum! O episódio no Sudoeste foi, para mim, um momento terrível, terrível. Eu odeio cancelar concertos, é a pior coisa que me pode acontecer, e vi-me obrigado a cancelar logo aquele – o primeiro concerto antes de sair o “Femina”, para o qual levei convidados como o João Doce, a Rita Redshoes, a Cláudia Efe, etc. Para mim, era um momento importantíssimo. Até esse dia, já tinha, efetivamente, tocado em condições que eram mais ou menos sofríveis em festivais, mas que eram sempre possíveis. Mas ali, naquele palco, naquelas condições, com o som que vinha dos outros palcos, era impossível tocar. Aliás, nos dias anteriores já tinham havido bastantes queixas dos músicos que por lá tinham passado. Houve ali, realmente, um erro. Foi um momento muito difícil. Podia ter corrido muito mal, no que respeita a minha carreira, as pessoas poderiam não ter compreendido, mas acho que elas perceberam e aperceberam-se que aqui lo estava mesmo mau. E a situação acabou por ficar totalmente esclarecida e sanada com a Música no Coração. Na verdade, acho que, às vezes, há coisas que tens de fazer e esse tomar de posição acabou por ajudar a que, neste momento, quando se organizam os palcos nos festivais, se pense um bocadinho mais, de forma a evitar-se esta problemática de som entre palcos. E acho que, a partir daí, não só devido a esse momento, mas também por outras razões, os festivais em Portugal começaram a funcionar melhor.
Sara Novais
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