Tendo em conta os moldes específicos em que se processou este quarto dia de especial, com a programação remetida para duas salas incapazes de albergar todos os detentores do passe para os quatro dias de festival, seria de esperar que a confusão se fizesse sentir e que os espaços ficassem a rebentar pelas escuras. Pelo menos nas salas por nós visitadas, tal não se verificou.
Além de domingo, para muitos, ser sinónimo de um inevitável regresso a casa, acreditamos que as restrições adivinhadas e o frete de ter de estar à chuva numa fila imensa para adquirir bilhetes (enquanto que no Parque da Cidade havia tão melhor que fazer), aliados ao cansaço acumulado dos últimos três dias, tenham sido os motivos da "desistência".
O lado bom desta iniciativa traduziu-se na obrigação em fazer com a estrangeirada se passeasse mais pelo Porto, a quem terão sido apresentadas duas das mais emblemáticas casas de espetáculos da cidade.
Portugueses em inglês para estrangeiros
Com as boas-vindas dadas por uma Sala 2 ainda pouco composta, com o público languidamente sentado no chão, os Best Youth, duo composto por Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas, que em palco contam com a ajuda do baterista Nuno Sarafa, estreiam-se por temas ainda não editados.
Finda a primeira canção, chega a constatação de que há mais estrangeiros do que falantes de português na sala, sendo que, a partir de então, Catarina terá optado por se dirigir à audiência, entretanto aumentada, em inglês.
O concerto prossegue ainda por temas ainda não editados, após convite para que o público se levante e dance, se o cansaço ainda o permitir, até começarem por ser relevados os sons que lhes reconhecemos do ep "Winterlies", cartão-de-visita disponível on-line gratuitamente.
Nesta fusão entre o rock e a eltrónica, a base mais etérea de Hang Out acabou por se salientar, como confirmou a salva de palmas prolongada que não se ficou pelas mãos dos portugueses, em presença tão minoritária.
No geral, o público ficou de sobremaneira agradado, queixando-se do anúncio do fim. Os Best Youth sabem estar em palco e sabem que botões estimulam as boas graças do público, para além daqueles que pedalam e libertam em loop.
Assim se garante uma boa performance, a par de um punhado de boas canções, cantadas em inglês, o que nos faz acreditar que os Best Youth teriam sido uma boa aposta para o intercâmbio entre o Porto e a cidade de Barcelona.
Concerto para gente sentada... em cima do palco!
Jeff Mangum, dos extintos Neutral Milk Hotel, às 22 horas de domingo, subiu ao palco para a segunda atuação programada na Sala Suggia, da Casa da Música.
À semelhança do que fizera durante a tarde, convidou os presentes para se aproximarem e se sentarem no espaço de chão entre o palco e a primeira fila de cadeiras. Os fãs do segundo turno acabaram por revelar-se bem mais atrevidos, acatando o pedido como deixa para que subissem para cima do palco e se sentassem mais proximamente do artista. Assim se viu adensado o momento intimista previsível na união de um homem às suas quatro guitarras, munido de tão belas canções e histórias que o público, sabedor, trouxe consigo na ponta da língua.
O alinhamento foi-se revelando de maneira diferente do primeiro concerto. A abertura fez-se com as duas partes de Two-Headed Boy, de uma assentada só e sem pausas para respirar.
A voz que costuma ditar as regras da sala, ao início de cada espetáculo, desta vez, não se fez soar. Por seu turno, dado ao contexto específico do evento, o staff da Casa da Música, geralmente tão inquisidor no que à captação de imagens diz respeito, desta vez não se incomodou com a quantidade de máquinas e fotografias tiradas. A chamada de atenção foi-nos proferida pelo cantor, que pediu que câmaras e telemóveis fossem guardados. E quão melhor não é ver um concerto sem o ensombramento de ecrã alheio, sem o incomodativo barulho dos disparos ou mesmo sem os flashes abusadores?
In The Aeroplane Over de Sea, valeu a primeira ovação em pé, com o público a assumir o amor pelo álbum com o mesmo nome, datado de 1998, por Mangum e pelos Neutral Milk Hotel.
No fim, já que este concerto acabou da mesma maneira que o da tarde começou, Mangum despediu-se com Oh Comely, com que havia saudado o público vespertino.
Sem dúvida, uma das prestações mais intensas que terão passado pelos palcos emprestados ao Optimus Primavera Sound.
Texto: Ariana Ferreira
Fotografias: Filipa Oliveira
Comentários