Em entrevista à Lusa horas antes da atuação no Parque da Cidade, a norte-americana explicou que o facto de ter intitulado o quarto álbum como “St. Vincent” adveio da leitura da autobiografia do histórico músico de jazz Miles Davis, que aí escreveu que “o mais difícil para um músico é soar a si próprio”.

“Se eu penso em Miles ou [John] Coltrane ou Sarah Vaughan, todo o seu mundo está encapsulado numa nota e consegues reconhecer as suas vozes em meio segundo de música. Eu senti neste disco ter feito algo semelhante, ainda que de forma diferente, onde houve uma destilação única da minha voz que era inequívoca de outras coisas. Então dei-lhe um título homónimo”, explicou Annie Clark, que confessou desejar compor bandas sonoras para filmes ou coreografias.

Por um lado, a autora de “Birth in Reverse” mostra-se fascinada “por muitas coisas, não apenas música, mas toda a interdimensionalidade de ser uma intérprete, de atuar noutros contextos, escrever livros ou ensaios”, mas ao mesmo tempo sublinha o interesse que tem na obtenção de canções “sem qualquer gordura nelas, simples, puras, desprovidas de tudo para lá do tipo de propulsão locomotora, palavras e melodia”.

No entanto, a artista mostra-se cativada por fazer coisas “muito mais complicadas”, mas que talvez fiquem fora do âmbito de St. Vincent.

Annie Clark referiu que, com o passar dos anos, se tem tornado melhor no equilíbrio entre estilos musicais mais “caóticos” e outros mais “acessíveis”. “Estou menos interessada nesse tipo de ‘olha para isto, tenho algo a provar’ e estou mais interessada em chegar ao coração de uma canção e escrever canções em que parece que um fantasma acabou de passar pela sala, algo totalmente misterioso e que só a música consegue providenciar”, afirmou a artista de 31 anos.

Neste contexto, Annie Clark recusa dizer que tenha “colaborado” com os Swans de Michael Gira no recém-lançado “To Be Kind”, disco que partilha produtor com “St. Vincent” na pessoa de John Congleton.
Em relação à banda de Gira, Clark classifica-a como a responsável pela “música intencional mais plenamente realizada” que já ouviu, tão “bem executada que se torna num cântico, totalmente violenta, totalmente abusiva, mas num bom sentido”.

O festival Primavera Sound terminou no sábado ao fim de três dias de concertos no Parque da Cidade do Porto, incluindo no cartaz nomes como The National, Neutral Milk Hotel e Slint.

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