O cantor e compositorluso-iraniano
Mazgani lançou recentemente o seu novo álbum, “Song of Distance”. Produzido em apenas dez dias, este é já o seu terceiro trabalho discográfico. Shahryar
Mazgani canta músicas sobre a distância em inglês e não troca o seu bairro tipicamente português por quase nada. O Palco Principal questionou o músico sobre os seus feitos, o seu trabalho e as suas vivências.
Palco Principal – Isolou-se no campo para produzir o seu novo álbum, “Song of Distance”. Por que sentiu necessidade de sair da cidade?
Mazgani – Eu acho que o móbil era duplo: foi, evidentemente, pela procura de recolhimento, do silêncio, para pensar apenas no meu trabalho, mas também houve um elemento estético que pesou. Acho que o disco é muito despido, é muito despejado. E procurámos [
Mazgani e sua banda] também o campo para acentuar essa vontade de romper com o primeiro disco, que é mais polido, que foi gravado num estúdio convencional. Queríamos que aquela geografia também influenciasse o som do disco.
PP – Gravou 14 músicas em apenas 10 dias. Costuma produzir músicas assim tão rapidamente ou foi, exactamente por estar isolado no campo, que o conseguiu fazer?
M – Não, não é meu costume produzir tão rapidamente. Está relacionado com o que falámos antes, com aquela procura de captar aquele espaço e aquele momento. Fi-lo em vez de o fazer num estúdio a procurar um
take perfeito, o que demora mais tempo.
PP – O que é que este álbum vem acrescentar de novo à sua carreira?
M – Não faço ideia. É o meu trabalho continuar a fazer o que me dá alento e o que mexe comigo. O que acrescenta à minha carreira é algo que talvez tenham de ser os outros a saber. Espero que valha alguma coisa e que traga conforto a alguém que ouça o disco.
PP – Por que escolheu comotítulo “Song of Distance”?
M – Por acreditar que todas as canções, não só as minhas, falam de distância. É isso que nos comove nas canções. Penso que as canções falam do que não há e do que não pode haver, daquilo que falta, e por isso é que nos comovem. Quanto melhor a canção, mais falta se sente.
PP – Leonard Cohen Nick e Tom Waits são algumas das suas influências. Tem outros artistas que o inspirem?
M – Sim, tenho bastantes artistas que me inspiram. Esses, que mencionou, são nomes que me acompanham. Os discos desses artistas acompanham os meus dias há muitos anos e a postura que eles têm perante a música também é, para mim, um conforto.
PP – Acha que o estilo de música que canta é um entrave ao seu sucesso em Portugal?
M – Nunca pensei nas coisas dessa forma. Faço o que posso, faço as músicas que posso fazer e que consigo fazer. Depois o resto não é comigo.
PP – Por que escolheu cantar em inglês? Devido ao estilo musical ou apenas por uma questão de expressividade?
M – Saiu assim. Não há um plano, não há uma razão funda para eu dizer “fiz isto porque”, nem sei porque é que canto, quanto mais por que é que canto em inglês.
PP – É um momento de inspiração, é algo que sai, é isso?
M – É como sai.
PP – De todos os países onde já actuou, qual foi aquele onde sentiu que a sua música foimais bemrecebida?
M – Tenho tido experiências muito gratificantes por todo o lado. Tocámos agora, há poucos dias, em França, ecorreu muito bem. Também correu muito bem na Holanda, na Escandinávia. Corre muito bem, muitas vezes, em Portugal. Portanto, estou muito grato. As pessoas são muito generosas e são muito calorosas. Está a correr bem.
PP – Em 2005, foi considerado um dos melhores 20 artistas europeus, pela revista francesa “Les Inrockuptibles”. Por que acha que tem mais sucesso no estrangeiro do que em Portugal?
M – Hão sei. Eu sinto-me muito bem recebido aqui também. Gosto muito de tocar em Portugal.
PP – A sua música Somewhere Beneath the Sky ganhou o prémio Internacional Songwriting Competition de Nashville. Qual foi a sua reacção quando conseguiu tamanha façanha?
M – Foi a alegria de saber que fui escutado por um herói que é o Tom Waits. Isso foi o que me levou a participar. Alguém me disse que ele estava no júri e participei por causa disso. Visto que habitamos galáxias diferentes (risos) e eu ouço os discos dele há tantos anos e com tanto amor, vinguei-me assim, e ele viu-se obrigado a ouvir uma música minha também (risos).
PP – Nunca pensou em viver nos Estados-Unidos -país onde, possivelmente, teria mais sucesso?
M – Eu gosto muito de viver aqui. Antes de falar consigo, estive aqui no meu bairro a fazer as minhas compras. Tenho muito prazer em falar com os meus vizinhos e com as pessoas que me conhecem. Estou aqui a olhar pela minha janela e vejo ali a drogaria onde se compravam berlindes há vinte ou trinta anos atrás e o senhor ainda se lembra do meu nome, e acho que isto é impagável. Nós temos aqui uma identidade, as pessoas sabem quem somos. Onde vivemos, filhos de quem, amigos de quem… tenho dificuldade em trocar isso.
PP – Essa confraternização compensa, então, qualquer sucesso?
M – Eu acho que é uma questão de identidade. Farei o que a minha música me obrigar a fazer. Se eu amanhã tiver que ir viver para outro sítio, irei por causa das canções. Não porque eu agora decida ir viver para os Estados-Unidos, ou para Braga ou para Paris ou para onde seja.
PP – Desde que começaram os Mazgani, o que é que mudou?
M – A mudança foi isto tornar-se, cada vez mais, a minha vida. Comecei muito tarde a fazer isto. Para os padrões do
rock n’ roll, isto é quase a idade de reforma de muitos artistas. Mas começou como uma teimosia e, a pouco e pouco, foi-se tornando a minha vida. Agora é a música e são as canções que ditam o que é a minha vida. Acho que essa é a mudança mais profunda.
PP – Diz que foi por teimosia que começou no mundo da música, mas como surgiu essa ideia? Foi de um dia para o outro ou já tinha uma grande paixão?
M – A música sempre esteve presente em minha casa, como ouvinte. Sempre tive muito amor pela música, mas sempre como ouvinte. Eu não tenho bem a certeza porquê e acho que estas coisas não se sabem bem o porquê. Talvez uma resposta razoável seja…a vontade de criar um caminho para mim. Mais do que sentir uma particular vocação para a música, foi olhar e não ver nenhum molde onde encaixasse, que é mais ou menos assim que nós escolhemos as nossas carreiras. Eu sou jurista de formação, não queria exercer, e decidi inventar uma profissão para mim. Foi mais ou menos isso. E agora isto tornou-se, realmente, a minha vida.
PP – Que ambições é que tem para o futuro da sua carreira?
M – As ambições são continuar a trabalhar e continuar a tocar. Tocar muito, que é um prazer maior, tocar para as pessoas. Continuar a fazer discos… Isto é a minha ambição maior é que a vida me permita continuar a fazer isto, que é o que mais gosto de fazer.
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