Marco Rodrigues é o responsável pela primeira parte do seu concerto. Aguarda-o o Coliseu ainda acanhado, recheado, principalmente, de casais. Às 21h25, o fadista entra em palco. E, com ele, um cheirinho a Lisboa em pleno centro do Porto. A guitarra portuguesa, tocada por Eurico Machado, salta de corda em corda. O Fado, corridinho, canta a saudade, poemas desfeitos e destinos acontecidos.

Foram oito as músicas apresentadas por Marco Rodrigues. O homem do Saldanha e O fado do Estudante elevaram as vozes dos presentes já familiarizados com as suas canções; A Rima mais bonita fechou o alinhamento da atuação e levou à confissão de uma extrema felicidade em pisar, pela primeira vez, o palco do Coliseu da cidade Invicta. Era, agora, tempo para os sons oriundos do outro lado do oceano.

O Coliseu encontra-se, agora, mais composto, com a primeira e segunda plateia já completas, a baterem palmas a despique, em jeito de provocação. As cortinas abrem-se, os batuques fazem-se ouvir e os flashes tomam conta do Coliseu. Uma tela projeta nomes de artistas que já não estão entre nós. Em sua homenagem, Reis, do novo álbum, faz-se ouvir, dando início a um exímio espetáculo audiovisual, que continua ao som de Maria Solidária.

Maria Gadú é uma senhora do mundo. Disso ninguém tem dúvidas. Em espanhol canta Extranjero, para pouco depois chamar, tímida, com voz de menininha, Marco Rodrigues ao palco, com quem canta A valsa, um dos temas mais esperados da noite, que tão bem representa a eterna união entre os irmãos Portugal e Brasil.

Tempo de retornar ao primeiro álbum de Gadú, com Encontro, à qual viriam fazer companhia, mais tarde, Bela Flor, Escudos, Tudo Diferente, Linda Rosa, entre outras - todas acompanhadas, ininterruptamente, por um público que se recusa a esquecer o trabalho de estreia da artista.

O disco em apresentação - "Mais uma página" -, onde também foi buscar Long Long Time, Like a Rose, Taregué, Amor de Índio, Oração ao Tempo, No pé do vento e Linha Tênue, revela-se mais maduro, com a guitarra elétrica a sair do armário e o groove a tomar conta dos ritmos brasileiros, que assumem um papel mais secundário. Axé Acapella serve de mote para um vídeo que alerta para a ação do Homemsobre oambiente. Um vídeo repleto de imagens fortes que deixou, certamente, a maioria incomodada.

Seguiu-se, com o amigo Dani Black a seu lado, Aurora, tocada a duas guitarras, numa bonita intimidade. Não são muitas as palavras trocadas entre Maria Gadú e a assistência. Tímida, porvezes ausente,limita-se a agradecer ao público que, música após música, a aplaude entusiasticamente.

A falta de interação é compensada com dois encores quase implorados. Laranja e Podres Poderes tomam conta do palco, mas é Shimbalaiê, o tema que lhe abriu portas, aquele que escreveu ainda miúda, e que sempre será recordado quando Maria Gadú for tema da conversa, que encerra o espetáculo.

Texto: Isabel Cortez

Fotografias: Marta Ribeiro