Realizou espectáculos por todo o mundo,soma vários sucessos, mas não se deixa dominar pela emoção dos palcos mais exigentes. Pelo contrário, mantém-se firme e fiel à sua música, sempre preocupado em fazer mais e melhor.

Mundialmente reconhecido e aclamado, opianista agradece todas as oportunidades que lhe foram, até ao momento,dadas, reconhecendo que vivemos tempos complicados.

O Palco Principal falou com o pianista numa conversa aberta, onde foi reveladaa verdadeira motivação e o segredo por detrás de tanto sucesso e reconhecimento.

Palco Principal – A sua música é, habitualmente, muito emocional. O que sente quando está a tocar?

Ludovico – Quando toco, não penso em ser emocional. Tento apenas concentrar-me, perante a complexidade de um espectáculo,em manter o controlo do que estou a reproduzir - algo que se revela verdadeiramente complexo, dado que acontecem muitas coisas simultaneamente, entre mim, o piano e a assistência. É uma enorme responsabilidade estar em frente a um público. Trata-se de uma experiência técnica, espiritual e emocional, pelo que não podemos deixar-nos levar pelos sentimentos.

PP – E qual é, habitualmente,a reacção das pessoas à sua música?

L –Por norma, e felizmente,gostam imenso. Cada vez mais pessoas assistem aos meus espectáculos e reagem cada vez com mais intensidade. São, efectivamente, reacções muito positivas, por vezes mais do que previa.

PP – Numa altura em que a músicaPop domina o panorama musical, os artistas como o Ludovico conseguem ter um lugar e oportunidades para mostrar o seu trabalho?

L– É um pouco difícil responder a esta questão, mas, por exemplo, no Reino Unido, a minha música tornou-se muito popular, tendo, inclusive, chegado aos tops. É uma música diferente mas, claramente, tem potencial.

PP – O piano foi sempre o seu instrumento predilecto?

L - Em tempos, também toquei guitarra, mas o piano é, para mim, um instrumento mais completo. No piano eu encontro a minha voz.

PP – O conservatório de Milão, onde estudou, é uma referência a destacar na sua carreira?

L – Sim, apesar de também ter estudado em Turim, um pouco antes. Mas o conservatório de Milão revelou-se mais importante para mim. Contudo, na escola não se aprende tudo. As experiências vividas diariamente fornecem um grau de aprendizagem diferente.

PP – O seu álbum "Le Onde" (1996) foi o ponto de viragem na sua carreira, visto tratar-se do seu primeiro trabalho a solo?

L – Foi, de facto, o meu primeiro álbum em piano. Como tal, foi uma importante viragem, pois, a partir dessa data, comecei a actuar mais e mais.

PP - O que o motivou a lançar-se a solo e a estrear-se nas apresentações ao vivo?

L - Já tinha tido várias experiências em que outras pessoas tocavam a minha música. Senti queestava naaltura de me mostrar ao público. A certa altura, não me sentia realizado dentro do estúdio apenas. Necessitava de sentir a música de uma forma mais prática, de sentir a resposta das pessoas, de estar em palco, de estar dentro da música.

PP – O que o inspira quando está a compor?

L – Não existe uma coisa única que me inspire. Dependendo das situações, podem ser livros, músicas, enfim, um conjunto de coisas.

PP – Quanto tempo demora a compor uma música?

L – Depende muito: algumas demoram apenas um ou dois dias; outras demoram mais tempo. Não há uma regra. A única regra é demorar o tempo que a música precisar.

PP -A que rotinasse entregano acto da composição?

L – Tento, acima de tudo, ser constante. Sei que, se relaxar demais, a música acaba por não vir. Não obstante a minha vida actual, bastante agitada, repleta de viagens, tento, sempre que possível, manter um ritmo igual. Especialmente quando estou em casa, mas também quando não estou, estou sempre a pensar em música.

PP – O seu álbum de 2001, "I Giorni", foibuscar influências às suas viagens por África. África é, na sua opinião, um continente inspirador?

L – Viajarpelo continente africano foi algo completamente diferente do que alguma vez tinha feito. Ouvi e conheci boa música, bons músicos. Foi uma experiência muito positiva, que me acompanha e acompanhará para sempre.

PP – O seu mais recente álbum, "The Royal Albert Hall Concert", revisita um espectáculo inserido uma tournéecom mais de 60 datas. Fale-nos um pouco sobre a experiência de uma digressão tão abrangente...

L - Foi uma experiência fantástica. Tocámos por todo o mundo. Com o apoio da banda, a minha música ficou muito forte. Vamos voltar a repetir a experiência, não me consigo cansar deste projecto!

PP – Como é pisar um palco tão prestigiado como o Royal Albert Hall?

L – O Royal Albert Hall é um daqueles sítios nos quais nos imaginamos em sonhos. É uma grande agitação pisar aquele palco, é preciso ter um controlo imenso das nossas emoções. É mesmo muito difícil de descrever. Só quem vive o momento saberá o que quero dizer.

PP – Já teve oportunidade de actuar em Portugal. Recorda-se dos fãs portugueses?

L– Já toquei em Portugal sozinho e também com o Rodrigo Leão. Tenho recordações muito boas da plateia. Parece-me quehá muito em comum entre a alma italiana e a portuguesa. Gostei muito das pessoas, mas também do país e, claro, da comida.

PP – Actua, na próxima sexta, em Lisboa. O que podemos esperar do espectáculo?

L – Vai ser um espectáculo comigo e com um piano. Começarei por tocar temas mais recentes e depois irei «desenterrando» o passado. No fundo, será uma retrospectiva cronológica, uma viagem.

PP – Já tocou um pouco por todo o mundo. Consegue destacar algum local por onde tenha passado?

L – Eu amo a Europa. Na Europa, sinto-me mais perto de casa. Mas o Japão também me deixa saudades. Estive lá há alguns anos, tencionava voltar lá agora, mas, infelizmente, aconteceu o que todos já sabemos... A situação está bastante complicada lá. Actualmente, não é um local seguro - o que me deixa muito triste, pois adoro aquela terra.

PP – Acredita que a sua música pode ajudar as pessoas a abstrairem-se das tragédiasque, actualmente, tomam conta de todo o globo?

L – Não é esse o principal objectivo da minha música, no entanto, todas as músicas têm uma visão. A minha, se calhar, reflecte a paz. Gostava de viver num mundo onde reinasse a paz, onde toda a gente fosse feliz... Talvez tente transmitiressaideiacom as minhas músicas.

PP – Privilegia o contacto permanente com os fãs, através, por exemplo, das redes sociais?

L – Sei que tenho uma página no facebook muito activa, mas, na verdade, não tenho grande tempo para lá passar. Por vezes, tento lá ir, mas é muito difícil seguir tanta gente.

PP – O que podemos esperar do Ludoviconum futuro próximo?

L – Se possível, mais música, mais espectáculos e mais trabalho.

José Aguiar