Palco Principal - De dois – Alexandre Bernardo e Pedro Trigueiro - passaram a cinco, com Cipriano Mesquita, Luis Custódio e Fred Ferreira a juntarem-se ao projeto para a sua segunda aventura discográfica. Porquê? O facto de serem um duo limitava, de certa forma, a sonoridade pretendida?

Pedro Trigueiro - O «aumento» da banda em estúdio é um reflexo do que fizemos e fazemos ao vivo. Somos cinco e todos contribuem à sua maneira para um som final. Neste disco, a composição voltou a ficar a meu cargo e do Alexandre Bernardo. Entregámos as músicas e cada um pôde gravar em estúdio as suas partes, com as suas próprias idiossincrasias. Não era, portanto, um limite que tínhamos, mas antes uma questão de ampliar vontades para o novo disco.

PP - Não contentes, ainda convidaram, para “Sogra”, Pedro Gonçalves, dos Dead Combo, e Ricardo Parreira e a sua guitarra portuguesa. O que emprestam à música dos Laia estas colaborações?

PT - O Pedro Gonçalves encarna muito o que mais gostamos na música: naturalidade. Os Dead Combo não são forçados, aquilo é o que é, e as próprias explicações que se tentam dar sobre os Dead Combo já soam demasiado formais para todo o talento natural daqueles dois. Os Dead Combo são absoluta referência para os Laia. Já o Ricardo Parreira tem um talento especial no toque de guitarra portuguesa e muito disso foi absorvido pelo Alexandre Bernardo, que tem desenvolvido, e muito, a sua abordagem à guitarra portuguesa. Por exemplo, a música Benjamim e Tu tem toda a linha de guitarra portuguesa construída pelo Alexandre. Juntar o Pedro Gonçalves e o Ricardo Parreira é, no fundo, «naturalizar» o que ouvimos enquanto referências.

PP - Em palco eram, enquanto duo, Helder Almada – um marialva punk com patilhas até ao peito – e Milton Castro – um cabo-verdiano devorador de bossa nova. Quem são, em palco, os três novos membros?

PT - Os nomes que adotámos no primeiro disco serviram o propósito do mesmo. Houve essa necessidade de contar toda uma história que desenvolvemos em noitadas valentes. Tudo faz sentido ainda. Mas também, na mesma hora em que discutíamos nomes e histórias, demarcávamos que jamais iríamos repetir histórias. A repetição só sabe bem quando se erra na primeira. Então convém repetir. Se não errarmos na primeira vez, não vale a pena repetir.

PP - “Sogra” foi editado a 19 de março. Tem sido bem recebido este segundo trabalho dos Laia? Há, em Portugal, público para as sonoridades por vocês praticadas, para o tal “post-rock” à portuguesa?

PT - Temos um defeito que é feitio -somos da terra de ninguém. Não somos da música pesada, nem dos festivais folclóricos. Ficamos num meio imenso que é o que sentimos como conforto. Há sempre gente interessada nesta terra de ninguém. Nem que seja em Ourém, Portalegre, Lamego ou Santa Iria da Azoia, temos sempre alguém com quem comunicar.

PP - Quais as principais diferenças entre “Viva Jesus e mais alguém”, o vosso primeiro trabalho, e este último? Há uma continuidade entre ambos ou, pelo contrário, uma rutura?

PT - Há toda uma continuidade. Era impossível não olhar para o anterior, não sentir a presença dele no presente disco. Não há qualquer ruptura. Há um desenvolvimento de uma ideia que comungamos, o desenvolvimento de uma portugalidade de hoje, sem que ninguém nos venda regras e parâmetros. Esses são os Laia. O primeiro trabalho foi o da descoberta de uma praia. Agora queremos montar uma estância balnear.

PP - Não perdem, portanto, em "Sogra", a vossa identidade...

PT - De todo. A raiz, seja de uma árvore ou musical, é das coisas mais difíceis de destruir. O respeito que temos pelas raízes é absolutamente indestrutível.

PP - Curiosos os títulos que dão aos discos. Alguma explicação para eles?

PT - A explicação vem do bocejo. Tudo o que não queremos é bocejar quando olhamos para o que fazemos. Se não nos sentirmos excitados e, ao mesmo tempo, confortáveis, então vamos para o Cais do Sodré beber uns «fundinhos» e rir. Quanto a explicações, somos muito a favor de ter as coisas em aberto, de haver uma espécie de vácuo interpretativo em relação a tudo o que fazemos. Temos sempre pistas que gostamos de deixar nos discos, nomes de músicas, etc. Lançamos, aliás, o desafio: vejam o vídeo de Fustigar uma Pedra e descubram qual o número que mais aparece.

PP - Apostaram numa estratégia de divulgação de “Sogra” curiosa – a distribuição do álbum por carros estacionados em Lisboa. Também disponibilizaram o disco para streaming, através do Musicbox. A oferta, é, nos dias de hoje, condição para o sucesso, para a visibilidade?

PT - É ambígua a resposta. Não acreditamos em música oferecida. De todo. O acaso de um acidente de percurso com a printagem da primeira edição resultou numa solução de recurso, que foi oferecer o disco em parques de estacionamento em Lisboa. A disponibilização para streaming no MusicBox, isso sim, faz todo o sentido. Muito do futuro do negócio passa por estes tipos de serviços. Somos totalmente a favor e foi extraordinariamente benéfico para os Laia.

PP - O que se segue para os Laia, além das próximas apresentações ao vivo? Quais as ambições do projeto?

PT - Segue-se uma grande felicidade de tocar ao vivo, de sair porta fora e carregar adufes, baterias, guitarras portuguesas, montar um palco em 45 minutos e tocar músicas das quais temos muito orgulho.

Sara Novais