Videoclip de "Last Land":

Sem negar aproximações a esses e outros nomes do techno minimal ou da deep house, o DJ e produtor conta ao SAPO Música, em entrevista telefónica, que a sua curiosidade melómana o leva tantas ou mais vezes a territórios mais vastos. "Tenho ouvido muito o álbum do Frank Ocean, tenho-o no meu iPod. Aliás, tenho ouvido muito hip-hop porque vi um ótimo documentário sobre o tema, 'Something from Nothing: The Art of Rap', num festival de Barcelona, e meti logo todos os meus álbuns de hip-hop no iPod. Os do Dr. Dre, por exemplo... Mas não só, também tenho ouvido bandas sonoras, como a do 'Donnie Darko', que é muito boa".
Ouvindo "ƒIN", percebemos que discos como os que Talabot destaca não serão estranhos ao seu universo, mesmo que não sejam que nos ocorreriam de imediato: a linguagem do hip-hop não é alheia ao corta e cola de samples, recorrente em muitas canções do álbum, e o sentido atmosférico da música para filmes ecoa em momentos cujo hedonismo dançável dá espaço ao suspense ou ao terror (ouçam-se os gritos de "Oro y Sangre", capazes de aumentar a vertigem de um tema hipnótico como poucos).

Remisturar ou criar, eis a questão

Antes da estreia em álbum, e a par do lançamento de alguns singles, Talabot começou por remisturar temas de gente como os conterrâneos Delorean (o vocalista, Ekhi, retribui participando em "ƒIN"), The xx, Glasser ou Joakim, através das quais foi ganhando boa reputação dentro e fora de portas. O salto para a criação de originais não foi, contudo, tão grande como se poderia pensar. "Às vezes são processos bastante semelhantes. Faço tantas remisturas que às vezes produzo as minhas canções a pensar que são remisturas, especialmente as que têm voz. Odeio os prazos, mas adoro fazer remisturas", compara.

"A minha abordagem quando faço uma remistura é tentar equilibrar algo do original com o que as pessoas esperam de mim sem me repetir, sem cair numa fórmula. É um trabalho estranho, remisturar a música dos outros", explica ainda.

Sem remisturas de terceiros nem novas versões de temas seus, "ƒIN", ao contrário do que o título sugere, lançou os dados para um novo começo só com material original, desenvolvido em 2011. "Já tinha vários temas editados como single ou incluídos em compilações, mas tentei fazer um álbum só com inéditos assentes num conceito comum". E esse esforço compensou, diz-nos com um entusiasmo próprio de quem está no início: "Tem corrido muito bem, as pessoas têm gostado, fiquei muito surpreendido por ter tido uma receção tão boa".

De uma digressão "extenuante" a concertos "a sério"

A atuação no Lux, através do Misty Fest, não será a primeira de John Talabot em Portugal. Neste verão, o DJ integrou o cartaz do Optimus Primavera Sound, no Porto, e logo num dos dias mais atribulados. "Foi ótimo, gostei muito do local mas estava a chover e atuámos no único espaço que estava coberto, por isso havia muita gente. Foi muito divertido".

Depois desse episódio, o regresso a palcos nacionais ameaça voltar a ficar marcado por uma generosa carga de chuva, que desta vez não deverá afetar a atuação mas poderá desencorajar potenciais espectadores. Deixar o conforto do lar, no entanto, poderá valer a pena, até porque Talabot garante não se limitar a replicar o disco em palco: "Ao vivo tento fazer um upgrade das canções. Tenho outros músicos comigo que tocam alguns instrumentos, tenho percussão, samples, teclados... as faixas continuam reconhecíveis mas têm outra força. Tenho notado que as pessoas reagem bem a essa carga mais física das canções, por isso também estou satisfeito com o formato".

Se até há pouco tempo estava mais habituado ao formato DJ set, o produtor começou a trabalhar, este ano, com o registo live act. A digressão com os The xx, de quem fez as primeiras partes, assinalou um batismo de fogo que o apanhou de surpresa. "Aprendi muito com eles... Aprendi que é duro andar em digressão, ter pouco tempo para descansar, para dormir, porque tens de tocar mesmo muito, tanto nos concertos como nos soundchecks. Pode ser muito extenuante", recorda.

Essa rodagem em palco revelou-se fulcral para os contornos das suas atuações mais recentes, mesmo que ainda haja aspetos a reconsiderar. "Gostava de ter ainda mais gente em palco porque somos poucos e às vezes ficamos stressados quando temos de tocar muitas coisas na mesma canção. Por outro lado, é bom saber que conseguimos estar à altura e que não me limito a estar no palco a carregar num botão do computador. É um concerto a sério. Não é que não me possa divertir ao ver um DJ a atuar só com um laptop, mas gosto de me desafiar, de apostar neste formato".

Quem quiser confirmar se esta é uma aposta ganha tem uma boa oportunidade nesta sexta-feira, a partir das 23 horas, data em que "ƒIN" pode ser (re)descoberto - e talvez até reinventado - na estreia lisboeta do DJ catalão.

@Gonçalo Sá