Entre 21 e 23 de outubro, o Rock City – sala incontornável no Reino Unido, mesmo no centro de Nottingham – recebeu a oitava edição do Firefest. Para quem não conhece, é difícil explicar a importância que este festival tem, a nível internacional. Não é, certamente, pela quantidade de público que recebe: o Rock City, a celebrar trinta anos, tem capacidade para cerca de duas mil pessoas. Nottingham também não é, propriamente, o ponto mais central ou de mais fácil acesso do mundo, nem mesmo do Reino Unido. No entanto, durante três dias, no final do mês de outubro, o mundo do hard rock melódico dirige as suas atenções para a capital das East Midlands e faz de Nottingham o quartel-general de várias gerações de headbangers.

O Firefest é um daqueles fenómenos inexplicáveis, responsável por fazer regressar aos palcos vários projetos que já tinham dado os seus dias por encerrados – caso dos FM, que já vimos este ano em Lisboa, dos Romeo’s Daughter ou dos White Sister, entre muitos outros. Mas este é, também, o festival que reúne formações originais, que recupera álbuns clássicos que os fãs sempre quiseram ouvir ao vivo e que chega a colocar em palco elementos de várias formações da mesma banda, em momentos irrepetíveis que deitam por terra as eternas discussões dos fãs.

No entanto, seria errado dar a ideia de que esta é uma máquina do tempo, alimentada por saudosismos empedernidos... são, também, muitas as bandas bastante jovens que encontram no Firefest o palco privilegiado para se mostrarem aos fãs do género, para contactarem com os jornalistas de todo o mundo que marcam presença e com as editoras especializadas neste nicho de mercado. De um lado, muitos cabelos compridos, cabedal e maquilhagem; do outro, espectadores de visual mais discreto e famílias. Todos unidos numa multidão devota, proveniente de todo o mundo – da Europa à Austrália, passando pelos Estados Unidos e Canadá, América do Sul e Japão. Um universo paralelo onde existe/resiste o verdadeiro paraíso do hard rock melódico para os fãs e para os músicos que têm a oportunidade de passar por este palco. Cheers, mate!

Dia I – sexta-feira

Nos primeiros anos de Firefest, a noite de sexta-feira era pretexto para uma festa num dos muitos pubs da cidade, uma forma de dar as boas-vindas e de reunir o público e os músicos de fora que, entretanto, íam chegando à cidade. Geralmente limitados a cerca de cem ou duzentas pessoas, estes convívios começaram a contar com algumas actuações acústicas ou jam sessions, momentos muito informais impulsionados pelas próprias bandas. Mesmo os maiores pubs tornaram-se claramente insuficientes para acolher toda a gente e a organização viu-se forçada a passar para uma sala nas instalações da Universidade de Trent, também no centro da cidade.

A sala não era tão grande como o Rock City, mas permitia a realização de uma noite mais à séria e a sexta-feira instituiu-se como o início oficial do festival, com duas ou três bandas e bilhetes à venda. Este ano, o salto foi, ainda maior. Os bilhetes para a primeira noite esgotaram logo no início do ano e obrigaram a transferir a noite de sexta-feira também para o Rock City... uma “noite” de luxo, a começar às 17h30 (aqui, os horários são seguidos à risca) com os britânicos Serpentine.

Com quatro anos de existência, a banda conta com dois álbuns e assistiu, no final do ano passado, à saída do vocalista Tony Mills (Shy/ TNT), rapidamente substituído pelo jovem Matt Black. Bastante competentes em palco, cumpriram bem o papel (ingrato) de abrir um festival a meio da tarde e foram muito aplaudidos pelo público, em especial, pelo britânico, que continua a tratar muito bem o que é seu.

Os Serpentine vão estar em Madrid este fim-de-semana, como parte do cartaz do Rockfest, que integra, também, os suecos Houston, a banda que se seguiu. Aquele que começou por ser um projecto de estúdio, encabeçado por Hampus “Hank” Erix (voz) e Freddie Allen (bateria), acabou por chegar aos palcos, talvez cedo demais. O álbum homónimo, de 2010, foi considerado um dos melhores do ano dentro do AOR e recupera todos os grandes ambientes melódicos legados pelos anos 80, mas ao vivo, os Houston não convencem, com fraca coesão, desafinação (recorrente, de acordo com as críticas de outros concertos) e demasiada atenção às poses estudadas, o que começa a ser preocupante entre várias jovens bandas suecas. O público não deixou de vibrar com a actuação - que contou, também, com alguns temas do novo álbum “Relaunch”, a sair até ao final do ano - mas espera-se mais maturidade da próxima vez.

Daqui, seguimos para os dois pontos mais altos da noite. Terry Brock é mais conhecido como frontman dos Strangeways (que também actuaram no fim-de-semana) ou da actual formação dos Giant, mas também passou pelos The Sign, Network ou Le Roux e trabalhou com bandas como Kansas, Molly Hatchet, Aviator ou Valentine. Estes últimos regressaram ao Firefest para acompanhar o antigo colega numa actuação em que Terry Brock teve oportunidade de apresentar temas da sua carreira a solo, em especial, do álbum fantástico de 2010, “Diamond Blue”. Um espectáculo excelente, onde os temas mais pesados como “No More Mr. Nice Guy” ou “I’m Broken” resultaram ainda melhor do que no CD, e com o norte-americano a demonstrar porque é que é um dos vocalistas mais requisitados do meio.

E se falamos em vocalistas, o senhor que se seguiu não lhe fica atrás. Jimi Jamison foi um dos protagonistas do Firefest 2010, com a actuação registada num DVD lançado este fim-de-semana, e foi “forçado” a regressar por demanda popular. O público parece não se fartar dele e a classe com que se apresenta em palco justifica uma carreira de sucesso com mais de quatro décadas no activo. Vocalista de bandas como os Target, os Cobra ou os Count, é pela presença nos Survivor que Jamison é mais facilmente reconhecido. Quem presta atenção às bandas sonoras, também não terá dificuldade em recordar a sua voz em “Burning Heart” de Rocky IV, “Moment of Truth” do filme com o mesmo nome na saga Karate Kid ou “I’m Always Here”, tema de abertura da série Baywatch. Com uma banda de suporte sueca (que acompanhou outros artistas durante o festival), composta por Jimmy Jay e Jona Tee dos H.E.A.T., Tommy Denander e Magnus Ulfstedt, Jimi Jamison não se esquivou aos clássicos das bandas por onde passou, mas também passou pela extensa carreira a solo, recheada de grandes melodias, que viu o lançamento, em 2010, do álbum “Extra Moments”, numa colaboração com o colega de Survivor, Jim Peterik. Não sendo eu uma fã empedernida nem profundamente conhecedora da carreira de Jimi Jamison como a maioria dos presentes, não posso negar as qualidades e o à-vontade com que dominou o palco, nem o completo delírio em que deixou o público. Sem dúvida um dos momentos mais aplaudidos do fim-de-semana.

Para terminar o cartaz da melhor maneira, o andar de baixo do Rock City (costumava ser o “The Rig”, mas este ano apresentou-se como “The Black Cherry Lounge”) proporcionou uma festa para os firefesters, com os lucros a reverterem para uma associação de beneficiência, e os próprios Terry Brock, Jimi Jamison, Valentine, entre outros, a surgirem como os DJ’s de serviço pela noite dentro. Ir ao Firefest começa a ser um ritual muito exigente, fisicamente, (a idade já não perdoa)... e ainda a procissão ía no adro...

Dia II – sábado

Se a noite acabou tarde na sexta-feira, no sábado, ao meio-dia, já a fila para reentrar no Rock City dava a volta ao quarteirão, cruzando a porta do Wellbeck Hotel, onde estavam hospedadas a maior parte das estrelas... ora passava o Jimi Jamison pela rua a acenar enquanto ía ao Starbucks buscar um café, ora um grupo de fãs passava a correr para a porta de serviço do Rock City à procura de mais um autógrafo. Mais uma volta, mais uma corrida... e sem almoço no estômago.

Coube aos californianos Talon a responsabilidade de abrir as hostes no sábado. Tive oportunidade de os ver em 2008, na altura, com o segundo vocalista, Chandler Mogel, e não impressionaram. Chamados de volta ao Firefest, trouxeram na bagagem um novo álbum (III), que deverá estar na rua no início do próximo ano. Curiosamente, Mogel saiu da banda e foi substituído por Shawn Pelata, vocalista dos aclamados Line of Fire, que, por compromissos profissionais, não teve possibilidade de viajar até à Europa, sendo substituído, nem mais nem menos, do que pelo vocalista original, Michael O’Mara. O que é certo é que o set pareceu resultar melhor com O’Mara, absolutamente à vontade ao vivo, um verdadeiro frontman. Voltaríamos a ver os Talon, sem vocalista, a acompanhar Kane Roberts no domingo, mas já lá vamos.

No alinhamento da tarde, seguiram-se os VEGA, a nova sensação do AOR britânico. Formados em 2009 e com apenas um álbum no mercado (“Kiss of Life” de 2010), os VEGA também estarão em Madrid este fim-de-semana para o Rockfest e, apesar de bastante jovens, têm uma prestação em palco muito confortável e competente, a convencer mais do que o disco.

De uma banda jovem que pratica rock melódico com forte influência do norte da Europa, passámos para os Silent Rage, banda mítica da cena L.A. dos anos 80, com presença regular nas emissões do MTV’s Headbangers Ball. Com quatro álbuns numa carreira que teve início em 1987, com um grande intervalo na década de 90, os Silent Rage optaram por concentrar o seu regresso à Europa nos dois primeiros lançamentos, “Shattered Hearts” (1987, produzido por Paul Sabu) e “Don’t Touch Me There” (1989, com Gene Simmons dos Kiss a assinar como produtor executivo, manager e presidente da editora, uma subsidiária da RCA). No conjunto, foram das poucas bandas, este ano, a representar o som mais sleaze/glam da west coast e a levar ao palco aquela imagem de rebeldia e desafio que marcou o hard rock da década de 80. “Rebel With a Cause”, o maior sucesso até à data, fechou a actuação de Jesse Damon e companhia.

Também de Los Angeles, Jeff Paris sucedeu-lhes no alinhamento e poderia ter sido a continuação lógica do som californiano, que tão bem defendeu em álbuns fantásticos como “Wired Up” (1986) ou “Lucky This Time” (1993), mas talvez por ter sido acompanhado pelo grupo de músicos suecos que estiveram, também, com Jimi Jamison, alguma coisa parece ter-se perdido na “tradução”. O que é certo é que Paris ficou mais conhecido pelo seu trabalho nos bastidores, enquanto um dos compositores mais talentosos do meio. Podem não reconhecer o nome, mas reconhecerão, certamente, temas como “Lucky This Time” ou “Road to Ruin” pelas versões dos Mr. Big, “One Night Alone” ou “Cryin’” das Vixen ou “I Can’t Wait ‘Til Tomorrow” de Sheena Easton. Apesar de hoje em dia andar em digressão com o mestre dos blues Keb Mo’ e de tocar teclados na banda de Ringo Starr ocasionalmente, parece que Jeff Paris se prepara para voltar em força ao mundo do rock (e dada uma certa desinspiração colectiva que por aí anda, é muito bem-vindo). Além dos clássicos, tempo ainda para um dos momentos mais emotivos do fim-de-semana, uma versão acústica de “I Saw Red” dos Warrant, numa homenagem sentida a Jani Lane.

E já que falamos de Warrant, a banda deveria ter sido cabeça de cartaz deste dia, mas cancelou há cerca de mês e meio, sem grandes explicações aos promotores ou aos fãs e depois de viagens e adiantamentos pagos. Parece que o assunto se encaminha para solução em tribunal, mas entretanto, ficaram bastante arruinadas as hipóteses de os Warrant voltarem à Europa nos próximos tempos – nem outros promotores estão para arriscar a pele nem os fãs esquecerão tão depressa tamanha falta de consideração. O cancelamento do nome maior do dia obrigou a alterações urgentes e a solução que se afigurou foi passar Steve Augeri para o topo, com um set maior, e escolher um nome interessante para preencher as entrelinhas.

Jeff Scott Soto é sempre um dos preferidos da audiência do Firefest, quer pela sua voz fantástica, quer pela versatilidade que empresta aos seus projectos e pela presença em palco verdadeiramente contagiante. Um dos álbuns de AOR mais aclamados dos últimos tempos coube aos W.E.T., em 2009, com o homónimo de estreia. W.E.T. é uma sigla que junta as iniciais das bandas principais do trio: Work of Art do guitarrista Robert Säll, Eclipse do baixista/vocalista Erik Märtensson e Talisman do vocalista Jeff Scott Soto. Apesar do sucesso do álbum, este acabou por ser um projecto estritamente de estúdio, com os elementos demasiado ocupados com os seus projectos próprios, em especial, Soto com as digressões da Trans-Siberian Orchestra. Desafiados pela organização do Firefest para fazerem o seu baptismo de palco em Nottingham, os W.E.T. não tiveram como recusar e parece que não se arrependeram.

Muito melódicos e dominados pelos teclados, os temas do álbum ganharam nova vida em palco, com duas guitarras, e um “peso” que lhes trouxe nova profundidade. A “Invincible”, “Brothers in Arms” ou “If I Fall” juntaram-se, também, temas de Eclipse e de Work of Art, bem como um medley emocionado de homenagem aos (muitos) nomes do hard rock falecidos nos últimos tempos: mais uma vez, Jani Lane dos Warrant, mas também Gary Moore, Steve Lee dos Gotthard e Marcel Jacob, colega de Soto nos Talisman. Ficou a noção de que vale a pena continuar a apostar em W.E.T.. Mais palco e um novo álbum desta envergadura serão sempre bem recebidos.

Com a tarde a chegar ao fim, chegou a hora do regresso ao palco de Terry Brock, desta vez com os Strangeways. A banda, que reúne, também, músicos escoceses e ingleses, protagonizou um dos momentos mais altos do ano passado, que resultou no CD/DVD “Where Do We Go From Here?”, lançado esta semana. Formados em 1985, contam com uma vasta discografia, onde o álbum “Walk in the Fire”, de 1989 ocupa um dos lugares de destaque. Sendo um dos meus discos preferidos dos últimos tempos, não me importei mesmo nada com a ideia de o ouvir ao vivo na íntegra, pela formação original, e parece que o resto do público também não, apesar da voz de Brock não estar nas melhores condições depois do esforço da noite anterior e do frio das noites inglesas. “Where Are They Now?” abriu o set e seguiram-se temas como “Danger in Your Eyes”, “Love Lies Dying” ou o emotivo “Everytime You Cry”, que Terry Brock dedicou à irmã que estava na assistência, revelando que foi escrito para ela, numa fase mais problemática da sua vida. A banda está a terminar um novo álbum, que deverá sair antes do final do ano, o que parece indicar que esta reunião é para valer e, pelo que deixaram antever, ainda bem.

A encerrar a noite (e numa altura em que o coração queria que o dia durasse para sempre, mas os pés e o estômago estavam a chegar ao limite do desespero), Steve Augeri subiu ao palco, acompanhado pelos músicos dos Valentine, e ao longo de uma hora e meia mostrou porque é que é um dos vocalistas com mais classe do momento. Em 2008, passou pelo Firefest com a sua banda Tall Stories, mas este ano, em nome próprio, pôde passar em revista a sua participação em diversos projectos.

Curiosamente, a honra de abertura coube a “Jamie” do álbum “Shine” que gravou com os Tyketto em 1995, mas ao longo do espectáculo, foi o legado dos Journey que esteve em destaque. E para quem, como eu, nunca teve oportunidade de apanhar os monstros sagrados de São Francisco em concerto, esta noite esteve lá bem perto. Augeri passou por alguns dos temas mais marcantes que gravou com os Journey, em especial, no excelente álbum “Arrival” de 2001 - “Higher Place”, “Signs of Life”, “We Will Meet Again” ou “Kiss Me Softly” – mas não deixou os clássicos por mãos alheias e deu-nos a oportunidade de ouvir “Separate Ways (Worlds Apart)”, “Wheel in the Sky”, “Lights”, “Lovin’, Touchin’, Squeezin’”, “Faithfully” ou o tema que bateu todos os recordes de downloads, “Don’t Stop Believin’”... casais de todas as idades de mãos dadas, muito homem de barba rija de lágrima no canto do olho, isqueiros, telemóveis e pints de Guiness no ar, em sinal de celebração... lindo. Com o seu primeiro CD a solo, “In the Moment”, só à espera da masterização, houve tempo, ainda, para ouvir um tema novo e, entretanto, Jeff Scott Soto, que o rendeu nos Journey, ainda passou pelo palco para fazer a gracinha... Seguiu-se a maior ovação do Festival, até ao momento, para trazer a Steve Augeri Band de volta ao palco para um encore que só pecou por não ter sido mais longo. Depois de fechadas as portas, a festa passou para o bar do Premier Inn Hotel, com um show acústico do vocalista de Coney Hatch, Carl Dixon. A comitiva portuguesa preferiu seguir o cheiro da galinha tikka masala e abastecer energias para o dia seguinte.

Dia III – domingo

Na manhã seguinte, notícias de chuva e vendaval por terras lusas pareciam mentira para quem tinha deixado o aeroporto de Faro com 28º três dias atrás, mas por Nottingham, tudo seco e surpreendentemente ameno, apesar do céu cinzento. Com os ouvidos ainda a zumbir depois de dois dias directos de rock’n roll, preparámo-nos para o round 3.

Pontualmente, às 12:50, os ingleses Newman subiram ao palco, em substituição dos americanos FarCry, impedidos de participar, ao que parece, por um erro na marcação das viagens por parte da editora. A banda de Steve Newman não é estreante no Firefest e, mais uma vez, soube aquecer o público com AOR directo, sem muitos artifícios, mas cheio de refrões intemporais e contagiantes. Com nove álbuns em treze anos de carreira, trabalho não tem faltado e depois de “The Art of Balance” de 2010, a banda acabou de editar “Under Southern Skies”.

Também com álbum novo no currículo (“Serenade”), os estreantes White Widdow viajaram desde Melbourne, na Austrália, para concretizarem o sonho de tocarem na Europa, e logo no Firefest, onde costumam ser espctadores atentos todos os anos. O disco de estreia homónimo, do ano passado, foi bem recebido pela imprensa e pelos fãs, e o novo lançamento parece ter subido a parada, mas ao vivo, a história não foi brilhante. O peso da responsabilidade acrescida dexou os nervos à flor da pele e fez quebrar o ritmo. Compreensível, mas é difícil “comprar” a mensagem de diversão e rebeldia de uma banda séria e distante, que parece não estar a divertir-se minimamente em palco. Nada que mais estrada (e chá de camomila) não resolvam.

A seguir, mais uma estreia no Reino Unido, mas para uma banda com vinte e cinco anos de carreira. Os suecos Alien, na formação original, eram um dos grupos mais aguardados pelos fãs, depois de uma história cheia de desencontros. Apesar de um início bastante auspicioso, em 1986, e da atenção do mercado americano a garantir a gravação do álbum de estreia em Los Angeles, com o produtor Chris Minto - que já tinha trabalhado com Kiss e Whitesnake – a saída repentina do vocalista Jim Jidhead no pico da fama obrigou ao cancelamento de vários compromissos, entre os quais, uma visita promocional ao Japão, e deitou por terra as hipóteses de maior internacionalização. Os fãs não lhes perderam o rasto, apesar das mudanças de elementos, de um fim confuso e do regresso com uma formação completamente diferente durante os anos 90, mas só em 2009, com o regresso de Jim Jidhed, ficaram reunidas as condições para dar aos Alien uma nova hipótese. O disco de estreia, homónimo, teve, como não poderia deixar de ser, o lugar de destaque no concerto no Rock City, e Jidhed demonstrou porque é que ainda é um dos vocalistas de culto do hard rock melódico. A apresentação do single “Ready to Fly”, de 2010, pode indicar que vem mais música a caminho.

Quem também tem música nova é o norte-americano Kane Roberts, que os fãs portugueses de Alice Cooper devem conhecer melhor como o guitarrista que acompanhou e co-escreveu os álbuns “Constrictor” (1986) e “Raise Your Fist and Yell” (1987). Afastado do mundo da música durante muito tempo, Kane Roberts está de regresso e acabou de gravar um EP, com as participações especiais de Kip Winger e Ken Mary, ex-colegas em Alice Cooper. Para o Firefest, os Talon serviram de banda de suporte à apresentação dos maiores sucessos da carreira a solo de Roberts, com destaque para o super-álbum de 1991, “Saints and Sinners”. Apesar da expectativa, o espectáculo foi uma pequena desilusão, com a banda a demonstrar pouco entrosamento, Roberts pouco entusiasta e a comunicação com a público a não fluir. A entrada em palco de duas aspirantes a stripers durante “Dance Little Sister” não caiu mal junto do público masculino, mas não colou com o formato do festival e deixou toda a gente a perguntar-se se teria sido previamente combinado ou se seria espontâneo. “Twisted” e a balada “Does Anybody Really Fall in Love Anymore?”, (que, com o dedo mágico de Desmond Child e Diane Warren, lhe valeu uma entrada no Top 20) foram dois momentos fantásticos de uma actuação que, de qualquer modo, acabou sem chama e sem a habitual chamada dos fãs para um encore.

Muito ao contrário do que aconteceu com Mitch Malloy, o senhor que se seguiu, o que é uma boa notícia para os fãs portugueses, que poderão vê-lo em Lisboa a 13 de Novembro. A sala, que estava meio desfalcada, encheu até abarrotar, e saudou o músico norte-americano, que apresentou, pela primeira vez, a sua nova banda, composta pelos italianos Mario Percudani (guitarra), Anna Portalupi (baixo), Alessandro Del Vecchio (teclados) e Alessandro Mori (bateria). Depois de um concerto no Firefest 2008 - em que foi convidado a tocar na íntegra o álbum de estreia de 1992, e que deu origem a um DVD – Mitch Malloy apostou, este ano, nos temas que fazem parte do CD “Mitch Malloy II, acabado de sair. “I’m the One”, “Love Song”, “Falling to Pieces” e “Carry On” (tema de homenagem a Steve Lee) são alguns dos temas novos que os fãs parecem já conhecer bem e que foram entoados, a par de clássicos como “Our Love Will Never Die” ou o fantástico “Stranded in the Middle of Nowhere”. Apesar da ligação recente, o colectivo mostrou um à-vontade supreendente e o groove da banda deu a entender que podemos esperar coisas boas desta relação. Para o encore, Malloy trouxe o inevitável “Anything at All” e terminou com “All My Friends”, o tema que encerra o novo álbum. A prestação foi tão positiva, que levou a uma alteração de última hora no Rockfest, em Madrid, para o incluir no cartaz.

Já na recta final do Firefest, mais uma recordação de peso. Os canadianos Coney Hatch nasceram em 1980 e, durante os cinco anos seguintes, gravaram três álbuns de sucesso e percorreram o Canadá e os Estados Unidos com nomes como Eddie Money, Cheap Trick, Ted Nugent, Judas Priest, Iron Maiden, Krokus ou Accept. A partir daí, as relações deterioraram-se e, apesar de algumas reuniões esporádicas, a banda acabou, com os músicos a seguirem caminhos diferentes. Foi o acidente de viação do vocalista/ guitarrista Carl Dixon em 2009, que o deixou em coma e em perigo de vida, que proporcionou a reaproximação e, no ano passado, os fãs puderam alegrar-se com a notícia do regresso aos palcos.” You Ain’t Got Me”, “Don’t Say Make Me”, “No Sleep Tonight” e “Hey Operator” são apenas alguns dos temas que preencheram os cerca de 70 minutos de actuação dos Coney Hatch, genuinamente surpreendidos com a recepção do público, depois de tantos anos.

Uma recepção de fazer a casa vir a baixo aguardava, também, os reis da noite e, certamente, do Festival. A formação original dos norte-americanos Unruly Child chegou a Inglaterra 21 anos depois do seu nascimento para o seu primeiro concerto de sempre, à excepção de alguns pequenos espectáculos em Los Angeles, em 1992. O álbum de estreia, desse ano, continua a ser um dos mais aclamados do género, com temas soberbos como “On the Rise” , “To Be Your Everything” e “Who Cries Now?” a fazerem as delícias do público no Firefest. No entanto, grande parte da atenção foi, também, para o álbum “Worlds Collide” queassinalou o regresso, no ano passado. “Show Me The Money, “Talk to Me” ou “Very First Time” foram alguns dos temas incluídos no alinhamento, e apesar da distância que separa os dois álbuns, a musicalidade, o poder e a qualidade inegável de qualquer um dos cinco músicos tornaram o conjunto coeso.

A audiência sente quando quem está em palco parece estar a ter o melhor momento da sua vida e isso faz toda a diferença num espectáculo. Para quem está familiarizado com a história da banda e, em especial, da vocalista Marcie Michelle Free (antes, Mark Free, vocalista, também, de bandas como King Kobra ou Signal), é fácil perceber como aquele regresso colectivo aos palcos curou feridas e marcou, definitivamente, o início de uma nova era. Certamente, uma boa aposta para os promotores em Portugal.

Os Untuly Child com um final em apoteose que encerrou mais uma edição do Firefest e mandou toda a gente embora para o seu respectivo canto do mundo com menos umas libras nos bolsos (sim, porque isto é gente que ainda compra CD’s e T-shirts das suas bandas preferidas e oferta não faltava) mas com muitas recordações e a certeza de ter feito parte de uma coisa muito especial. Antes, paragem no bar do Wellbeck Hotel para as últimas fotografias do fim-de-semana e para as despedidas...

Liliana Nascimento