“#batequebate” era um dos álbuns mais aguardados da prata da casa deste ano, muito graças ao EP “Não é Um Projeto”, editado em 2012 pela FlorCaveira, que nos mostrou o quão interessante se estava a tornar o trabalho do cantor, compositor e músico Alex D'Alva Teixeira.
Há algumas coisas invulgares nos D'Alva. É invulgar que o produtor do disco se torne parte integrante do projeto. Não é comum que duas pessoas com uma diferença de idades considerável - cerca de 10 anos separam Alex Teixeira de Ben Monteiro - se encontrem num mesmo momento e formem um grupo. Muito menos vulgar é o facto de um “black” da margem sul fazer música com um “white” da linha de Cascais, sem qualquer tipo de discriminação.
Mas talvez seja para isso que os D'Alva existem, para quebrar alguns preconceitos. E parece que o fazem a cada música e com muito estilo. Em “#batequebate” as canções não têm cor, têm todas as cores. Décadas, têm três ou quatro. Bandeira? São tão globais como a internet. É um disco descaradamente pop a propor uma viagem que começa algures na década de 1980.
O álbum abre com “Frescobol”, nome que os brasileiros dão às raquetes de praia. E é do refrão deste tema que é retirado o nome do disco. Apesar de “Frescobol” soar a anos 1980 é ao mesmo tempo algo fresco. Estão lá os sintetizadores, as baterias, os BPMs, até o solo de saxofone. Mas a verdade é que, na dose certa, os clichés fazem o momento e aqui tudo corre bem. “Frescobol” é também o segundo e mais recente single do disco.
Videoclip de "Homologação":
“Não Estou a Competir” continua com a toada eighties, mas acrescenta algum tropicalismo, bem à maneira de Gloria Estefan ou de Paul Simon. E tal como diz a letra, esta música promete colocar toda a gente a cantar e a dançar.
“L.L.S.” podia ser o outro nome do disco: livre, leve e solto. É um reflexo de todo o álbum, uma mistura de várias décadas de música, com uma salada de estilos: funk brasileiro, hip-hop, pop-punk e synth pop. Todos estes fundem-se numa canção cheia de cor e groove - e que conta com o rap de Tiago Lacrau.
“$egredo” mantém-nos na viagem temporal. Logo a abrir há um sample que expllica o jogo de palavras do refrão: “Meu bem, não é segredo para ninguém”. E é logo no inicio da canção que continuamos com as referências: o som de um videojogo que nos remete novamente para os anos 1980, por exemplo.
“Lugar estranho” cheira a Tears For Fears. É uma balada que mostra como o amor é um lugar estranho. Um tema que tem um daqueles refrãos que nos deixam a cantar mesmo depois da música acabar.
“Aquele Momento” junta-se às canções que podem encher o nosso dia. Tal como em “Lugar Estranho”, o refrão assombra-nos. É uma grande, excelente canção, com samples que vão das Spice Girls ao cantor gospel Kirk Franklin. Uma boa forma de tornar mais leve o que é negro.
“Barulho”, o tema que deu a conhecer Alex D'Alva Teixeira a boa parte do seu público, surge aqui em duas versões. A primeira é igual à que surgiu na mixtape da Florcaveira. A segunda, “Barulho II”, conta com uma toada hip-hop e tem a participação de Capicua.
Por aqui já fomos deixando para trás os anos 1980, mas o disco não perde coesão e continuamos com vontade de dançar. Damos por nós a mudar de século e de milénio com “Só Porque Sim”, muito dentro do registo que já vimos Alex fazer ao vivo ou na televisão, criando várias camadas de vozes acapella, que mais tarde são acompanhadas por sintetizadores e muitos, muitos graves. Uma sonoridade muito próxima do trip-hop e do pós-dubstep.
“Homologação” foi o primeiro single do disco e um tema repescado do EP. É uma canção muito densa, com uma sonoridade tribal - mais uma para se ouvir várias vezes, já que há muito para ir descobrindo aqui.
O disco fecha na perfeição com “Primavera”, com uma eletrónica atmosférica não muito distante de James Blake, nos antípodas do que esperávamos no início do disco. Uma canção com letra pesada, mas que no final nos deixa com uma sensação de leveza e com vontade de voltar a ouvir tudo outra vez.
E à medida que insistimos no replay, a conclusão é óbvia: “#batequebate” é uma estreia sublime e viciante dos D'Alva. Cheio de canções que se agarram a nós, é um álbum lúdico, com humor, mas que merece ser levado muito à sério. Podíamos dar-lhe muitas hashtags, mas nenhuma encaixaria melhor do que #batequebate. Até nisso a dupla acertou em cheio.
@Edson Vital
“#batequebate” está disponível para download gratuito na NOS Discos
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