Voz doce, ambientes entre o contemplativo e o dançável (embora com moderação), confissões de relações amorosas que expiraram ou que podem estar a começar, devoção à pop eletrónica. Em poucas palavras, esta poderá ser uma introdução fiel para "Penelope", o primeiro longa duração de Sequin e uma das apostas mais recentes da Lovers & Lollypops.
Ana Miró, cantora, compositora e instrumentista de 25 anos, criou o projeto em 2012 e antes da edição deste álbum deu nas vistas através da colaboração com Jibóia e de alguns concertos. Temas levados a palco, como "Beijing", sugeriam uma aproximação à synth pop que recuava três décadas sem abdicar de modelos de produção ligados a referências contemporâneas. A artista eborense destaca Ladytron e The Knife, mas Grimes ou Churches também estão nas entrelinhas destas composições. Às vezes, talvez até estejam em demasia, denunciando uma das maiores limitações de "Penelope": a criação de um universo próprio. É uma limitação compreensível, tratando-se uma estreia, e se alguns momentos (as primeiras duas faixas, por exemplo) não conseguem elevar-se acima de uma indietronica correta mas genérica, a maioria do alinhamento ainda é francamente promissora - e nunca menos do que agradável.
Videoclip de "Naive":
Dentro de portas, estes territórios também não são virgens. Yellow, outra estreia relativamente recente, ou os mais veteranos Micro Audio Waves já juntaram vozes femininas a sintetizadores em busca de uma pop sedutora, enigmática e elegante. A pop de Sequin mostra-se, ainda assim, mais direta e não tão experimental, poupando-se a grandes rasgos tanto na composição como na produção (esta a cargo de Luís Clara Gomes, AKA Moullinex).
"Penelope" foi inicialmente pensado como um EP e o resultado final acaba por expor esse arranque: estas dez canções são mais um apontar de caminhos do que o depoimento definitivo de quem parece ter mais para explorar e aperfeiçoar. Mas vale a pena seguir as pistas de canções como "Naive", single orelhudo e um dos momentos de maior aceleração rítmica, ou da mais espacial (não só devido ao título) "Mercurio". A marcha de sintetizadores sombrios de "Crimson" também não lhes fica atrás e serve uma das linhas melódicas mais viciantes. Já "Peony" é uma derivação óbvia dos The Knife, mas felizmente recupera o exotismo luminoso de que os suecos se têm esquecido nos últimos discos.
Além de argumentos como estes, "Penelope" vale-se de uma reta final bem mais conseguida do que a inicial. Alusões ao Oriente, presentes nos títulos, letras e elementos sonoros das três últimas faixas, concedem alguma singularidade a um alinhamento que se despede com a nebulosa "Hikaru Garden", a candura de "Origami Boy" e o entusiasmo de "Beijing", que dão outras cores à linguagem de Sequin e mostram uma voz preparada para atravessar vários estados emocionais. Quando consegue ser tão envolvente como nestes momentos, dificilmente terá de fazê-lo sozinha.
@Gonçalo Sá
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