A recebê-los tiveram casa cheia, com um público que, para além de saudoso dos trunfos de outrora, soube demonstrar entusiasmo e conhecimento perante as novidades. Porque se os experimentalismos de outros tempos fizeram com que fossem considerados um dos expoentes do rock alternativo made in europe da década de 90, terá sido a maturação sentida nos últimos registos, melodicamente mais fluídos, a angariar novos ouvintes.

E provavelmente serão as instrumentalizações grandiosas e os coros épicos do mais recente trabalho a justificar os adolescentes monopolizadores das primeiras filas...

Foi com um ruidoso “Boa noite” que Tom Barman, vocalista dos dEUS, se dirigiu ao público, para logo depois iniciar a atuação, que, primeiramente, se dividiu pelos dois últimos álbuns. Por entre The Final Blast, Constant Now, canção acompanhada pela projeção de excertos da letra em várias tipografias, e Easy, intercalaram-se dois temas de “Vantage Point” (2007): The Architect, com uma base funk a apelar à dança, e Oh Your God, num registo mais teatralizado, suportado pela ambiência algo demente conferida pelas guitarras distorcidas e pelo violino eléctrico de Klaas Janzoons que, a par do vocalista, é o único membro da formação original.

Seguiu-se Instant Street -“uma canção folk para nos aquecer”, brincou Barman, com conhecimento de causa. Esta primeira viagem na máquina do tempo, que transportou o Sá da Bandeira até 1999, a bordo de “The Ideal Crash”, começou brandamente, com a audiência já em modo sing-a-long, a preparar-se para a explosão simultânea durante o crescendo final, e a manter vivo o estranho hábito do público em trautear o instrumental.

If You Don't Get What You Want, a par de Bad Timming, que serviu de fecho à primeira parte, foram os únicos temas a representar “Pocket Revolution” (2005). Com uma secção rítmica veloz executada por Stéphane Misseghers, um refrão cativante e picos de dramatismo acentuados pelos coros de Dark Sets In, voltou-se a “Keep You Close”, visitado também através de Ghost, que Barman apresentou como uma canção sobre Jesus Cristo e skates, numa alusão ao videoclip, da autoria de Saman Keshavarz, e da faixa título, ainda antes do encore. As belíssimas Magdalena e Sister Dew, ambas canções-história repescadas a "The Ideal Crash", acabaram por funcionar como intervalos para recuperação de energia, às quais foi acrescentada a tarefa ingratade se debaterem contra burburinhos escusados, provenientes da plateia. Para gáudio de quem acompanha os dEUS há mais tempo, surgiram Theme from Turnpike, onde fomos convidados a juntar-nos à entoação do emblemático verso “No more loud music” e Little Arithmetics, de “In a Bar Under the Sea” (1996).

The End of Romance, canção mais narrativa que,mais bemque os refrões orelhudos, reflete a essência da banda, assinala o retorno para o primeiro encore e o adeus ao disco em apresentação. Provavelmente a melhor aquisição dos dEUS desde o abandono dos elementos da primeira formação, o guitarrista Mauro Pawlowski, no centro do palco, dá o mote para Sun Ra, a sobrepor-se a Barman no protagonismo vocal, e a contar com a ajuda do baixista Alan Gevaert. A antever o final, duas canções chave na viagem pela discografia da banda: Fell of the Floor Man e Suds and Soda, o primeiro single de “Worst Case Scenario” (1994), o disco de estreia.

E com mais um regresso ao palco, de uma só assentada, Nothing Really Ends e Hotellounge, dois dos temas mais cinemáticos da história dos dEUS, a conduzirem para o “the end”, fazendo com que se esquecesse For The Roses, em falta, apesar dos inúmeros pedidos berrados que a banda acabou por ignorar.

A primeira parte esteve a cargo dos Hong Kong Dong, conterrâneos dos dEUS, à boleia pela Europa. O quarteto liderado pelos irmãos Boris e Sarah Zeebroek demorou a contagiar o público, que mais tarde acabou por se render à prestação divertida, cheia de referências da cultura pop oriental e com direito a coreografias e alguma encenação. Flowers!!, Lesbian's Are a Boy's Best Friend e On a Sunny Day foram os temas que mais pareceram prender a atenção dos presentes.

Confere o alinhamento do concerto:

The Final Blast
The Architect
Constant Now
Oh Your God
Easy
Instant Street
If You Don't Get What You Want
Dark Sets In
Magadalena
Ghost
Keep You Close
Sister Dew
Theme From Turnpike
Little Arithmetics
Bad Timming

The End of Romance
Sun Ra
Fell off the Floor, Man
Suds And Soda

Nothing Really Ends
Hotellounge (Be the Deah of Me)

Texto: Ariana Ferreira

Fotografias: Nuno Gabriel Moreia