Aviso a quem já viu o último filme da saga “O Pirata das Caraíbas”: Jack Sparrow e companhia foram enganados... a verdadeira fonte da juventude é a música e os Cheap Trick chegaram lá primeiro. Não fossem algumas (poucas) rugas e algum cabelo a menos, poderia dizer-se que os quase 40 anos de carreira não passaram por esta banda norte-americana. Está lá tudo: a indumentária emblemática, a postura desafiante, a dose certa de rebeldia e, sobretudo, a imensa energia e virtuosismo que descarregaram em palco, na noite de ontem, ao longo de hora e meia.
Eram 22h00 quando “Hello There" e “California Man” abriram a noite, ainda tímida, com o Coliseu a encher. Seguiram-se “Elo Kiddies” e o mítico “I Want You to Want Me” e, a partir daqui, o público estava ganho. Desfilaram pelo palco mais de 20 temas da extensa discografia da banda, desbravada ao longo de quatro décadas (que lhes valeram mais de 20 milhões de discos vendidos e 40 discos de ouro e platina – não é para todos). Lugar de destaque para “These Days”, do álbum “The Latest”, lançado em 2009, “Voices”, que a banda tocou, pela primeira vez nesta digressão europeia, e para clássicos como “Baby Loves to Rock”, a super balada “Flame”, cantada a plenos pulmões pelo público, e “Surrender”, a apoteose final, que deixou toda a gente rendida e a pedir mais. O encore não demorou muito e recompensou a paixão dos fãs com mais quatro temas, onde não podia faltar “Dream Police”.
Magic Christian nas teclas, Tom Petersson no baixo, Daxx Nielsen (filho do guitarista, a substituir Bun E. Carlos, que deixou, recentemente, a banda) na bateria e os alucinantes Robin Zander na voz e guitarra e Rick Nielsen na guitarra (ou guitarras, como seria de esperar, apesar das custom mais excêntricas não terem viajado até cá... pena) constituem a encarnação Cheap Trick que regressou a Portugal, depois de muitos, muitos anos de espera.
Poucas bandas tiveram um papel tão importante na transição entre a pop e o rock’n roll dos 60’s/ 70’s e a criação do som hard rock que teve o boom nos anos 80. Os Cheap Trick influenciaram, inspiraram e sobreviveram a muitas das bandas dessa altura, envelhecendo com a classe que só os grandes músicos e performers conseguem atingir. Apesar de os mais novos não estarem tão familiarizados com esta banda, a mistura de gerações no Coliseu foi bonita de se ver e começa a dar sinais de que, ao contrário do que muitos pensam, este tipo de espectáculos não se destina apenas a saudosistas.
Uma nota para os portugueses Phazer, que subiram ao palco antes dos Cheap Trick. Muito competentes, os Phazer apresentaram alguns temas do álbum “Kismet”, ao longo de cerca de meia hora, perante uma sala ainda bastante vazia, como, infelizmente, costuma ser habitual na vida das bandas nacionais que fazem a abertura de espectáculos para artistas internacionais.
Liliana Nascimento
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