Incluída na coleção Plural, da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, dedicada à poesia, a série Letra Poema reaviva uma “grande questão”: são as letras de músicas poemas?
Para o diretor da Letra Poema, Jorge Reis-Sá, são, “mas a ciência divide-se”.
“O próprio Carlos Tê não tem essa certeza tão absoluta. Eu acho que são, são poemas contingentes, poemas que têm a contingência de terem sido feitos para uma música. Se são bons ou maus poemas, depende das letras”, referiu, em declarações à Lusa.
Dedicar os dois primeiros livros de Letra Poema a Carlos Tê e João Monge não foi um acaso.
“Queríamos relevar os escritores para canções. A maior parte dos escritores de canções em Portugal, e que escrevem letras, também as cantam. Começar com o João Monge e com o Carlos Tê é dizer que esta é uma coleção de escritores para canções e não de cantores que escreveram as suas canções”, explicou.
Isto não quer dizer que não possam ser publicados livros dedicados a cantores que escreveram as suas canções, mas em Letra Poema “a importância é dada à palavra, não a quem a canta, no fundo”.
“A invenção do canto e outros versos”, de Carlos Tê, inclui letras de canções escritas entre 1980 e 2022, para artistas e bandas como Rui Veloso, com quem teve uma longa parceria, Clã, Cabeças no Ar, Jorge Palma, Ana Moura e Desconectados.
São de Carlos Tê as letras de músicas inscritas na memória de muitos portugueses, como “Chico Fininho”, “Máquina zero”, “Porto Covo”, “O prometido é devido”, “Não há estrelas no céu”, “Lado Lunar”, “Problema de Expressão”, “Jura”, “Corda bamba”, “Primeiro beijo”, “Competência para amar” ou “A seita tem um radar”.
No livro não estão todas as letras, “houve uma escolha, deixada ao critério dos autores”, mas “é uma escolha mínima”. De fora ficaram letras que, tanto Carlos Tê como João Monge “acham que não funcionam mesmo sem a música”, disse Jorge Reis-Sá.
“Mas é uma grande antologia de cada um. São livros que reúnem praticamente tudo o que eles escreveram para canção”, salientou.
“Razão de ser e outras letras” inclui letras que João Monge escreveu entre 1990 e 2023, para os Trovante, Ala dos Namorados, Rio Grande, Vozes da Rádio, Aldina Duarte, António Zambujo e Hélder Moutinho, entre outros.
“Timor”, “Loucos de Lisboa”, “Postal dos correios”, “O Zorro” e “Lambreta” são alguns dos temas que criou e que se popularizaram em Portugal nas últimas décadas.
Nos dois livros, as letras estão organizadas por ordem cronológica, e no final de cada um está escrito quem o gravou como canção e em que âmbito.
Esta maneira de arrumar as letras foi deixada ao critério de cada autor: “Estes livros acabam por ser muito semelhantes um com o outro, mas são semelhantes por acaso. Como diretor da coleção eu não tinha pensado que o livro tivesse que ter aquele índice, ser cronológico, com o álbum de onde a letra foi tirada. Isto foi uma coisa que os dois acabaram por querer desta maneira e acabou por ficar assim”.
Esta não é uma regra estanque. “Os autores que vierem para a frente podem querer fazer de outra maneira - não tem que ser cronológico, pode ser por temas, por álbuns, por ordem alfabética -, e não veremos problema nisso”.
O plano da editora é que sejam publicados dois livros por ano. Como “A invenção do canto e outros versos”, de Carlos Tê, e “Razão de ser e outras letras”, de João Monge”, têm data de 2023, prevê-se que sejam editados mais dois este ano.
No entanto, os nomes dos próximos escritores de canções “ainda não podem ser revelados”.
“Se tudo correr bem, em 2025 fazemos mais dois e continuamos”, referiu Jorge Reis-Sá.
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